- Tommy foi visitar Seth, mas não deixaram que ele visse o capitão, porque ele tinha acabado de ser transferido para a UTI com urgência. Não sabemos o que está acontecendo ainda.

Ninguém falou nada. Ignorei o fato de que Benny dirigia acima do limite de velocidade. Suspirei aliviada quando chegamos ao hospital sem nenhum arranhão.

Tommy estava no balcão de atendimento, falando com a recepcionista. Pela expressão irritada e o modo como gesticulava impaciente, ele não estava ganhando a discussão. Conforme nosso grupo se aproximava dos dois, consegui ouvir a mulher explicando que não poderia revelar como Seth estava sem a autorização dos pais dele, tampouco nos deixar visitá-lo na UTI.

- Cara, não adianta discutir. – Jonathan afastou Tommy da recepcionista ao perceber que ele estava começando a se alterar demais.

Sentamos na sala de espera, a fim de decidir o que faríamos para descobrir como Seth estava, mas nenhuma ideia surgiu. Enquanto isso, enviei uma mensagem para Natally informando sobre a piora de Seth e o fato de que não conseguimos visitá-lo. Considerando os sentimentos que os dois claramente tinham um pelo outro, achei que o capitão gostaria que ela soubesse.

- Já sei. – Tommy falou, de repente. – Esperem aqui.

Levantou-se e foi apressado até uma enfermeira que tinha acabado de aparecer na recepção. Puxou-a para longe das pessoas e começaram a conversar. Tommy piscou para ela, que riu e concordou com a cabeça.

- Ele está flertando com ela? – Max arqueou as sobrancelhas.

Ela deveria ser uns cinco anos mais velha que nós, então achei que seria madura demais para cair no papo dele. Aparentemente, enganei-me porque ela fez um gesto nos chamando.

- Venham. – falou. – Vou levá-los lá.

Seguimos a garota pelos corredores.

- Como conseguiu isso? – Julie perguntou, impressionada.

- É o charme. – ele piscou. – Ela não resistiu.

- Tom. – a enfermeira encarou o garoto, com um olhar de reprovação.

- Ela é minha irmã. – explicou. Ah, agora tudo fazia sentido. – Em troca desse favor, tenho que lavar a louça pela próxima semana.

Ela piscou, imitando o garoto. Tinha o mesmo tom chocolate de pele que ele e o sorriso com dentes perfeitos.

- Esse charme é realmente irresistível. – brincou.

A UTI ficava atrás de uma grande janela de vidro, de onde era possível ver os leitos separados por cortinas lá dentro. Ela explicou que não poderíamos entrar porque não era horário de visita, e o máximo que conseguiríamos era tentar observar o garoto de longe.

- Aquela é a cama dele. – a irmã de Tommy apontou.

As cortinas estavam entreabertas e só conseguíamos ver a mãe dele aos pés da cama, chorando nos braços do pai. Havia algumas pessoas de jaleco lá dentro também. Ninguém estava com uma expressão animadora.

- Será que ele está bem? – Max perguntou, encostando as mãos no vidro.

Ninguém respondeu. Estávamos todos tão confusos quanto ele, afinal. Não sei por quanto tempo aguardamos que alguma coisa acontecesse no leito.

- Você consegue descobrir como ele está? – Tommy perguntou para a irmã.

- Vou tentar. – ela disse. – Mas preciso que voltem para a sala de espera.

Obedecemos. Natally estava lá e, quando nos viu, veio apressada na nossa direção, em busca de informações. Contei sobre a irmã de Tommy e como prometeu que nos daria alguma atualização sobre o estado de saúde de Seth assim que possível.

Durante a espera interminável, os meninos do time arrumaram um jeito para diminuir a tensão e se entreter: relembrar momentos com Seth.

- Lembram do último campeonato que ganhamos? – Benny falava, animado. – Ele marcou o gol da vitória.

- Com um passe meu, é claro. – Tommy brincou. – Aquele idiota não marcaria daquele ângulo nem em sonho.

Eu me lembrava daquele jogo. Na época, eu ainda não namorava com Jonathan, mas acompanhava o time porque Benny já era o goleiro. A torcida estava super animada e os meninos jogaram muito bem. Depois da vitória, meu vizinho deu uma das festas mais barulhentas que já vi na vida.

- Ele foi uma das pessoas que me encorajou a te chamar para sair. – JoJo comentou, baixinho, enquanto os outros ainda falavam sobre o campeonato.

Olhei para ele.

- É mesmo?

Dei um beijo em sua bochecha. Um lado do rosto dele permanecia coberto por ataduras, mas já estava ficando mais fácil sorrir. Logo eu teria o sorriso bobo que tanto amava de volta.

Maxwell e Julie também começaram a falar dos momentos divertidos que passamos com Seth. Depois da ida de Jonathan para a guerra, nós nos aproximamos dele e agora ele sempre estava presente na nossa vida, principalmente na de Max. Talvez por ambos terem precisado lidar com todo o drama de ter Natally como ex-namorada, ficaram realmente amigos, indo até em festas juntos.

Natally não participou muito da conversa, parecia ocupada demais com os próprios pensamentos. Depois que liguei os pontos de que eles ainda eram apaixonados um pelo outro, entendia sua preocupação. Se Jonathan não tivesse recebido alta e não estivesse se recuperando tão rápido, eu também me sentiria daquela maneira.

Finalmente, a irmã de Tommy apareceu pelo corredor e veio ao nosso encontro. Pela expressão séria, as notícias não eram boas. Senti um arrepio percorrer minha espinha.

- Eu sinto muito. – falou. – A equipe médica fez o possível para...

- Não pode ser... – Natally disse. Toda a cor do rosto dela parecia ter desaparecido. Seus olhos encheram de lágrimas. – Não... Não ele...

Ela não precisou terminar a frase, todos sabíamos o que aquilo queria dizer.

Encaramos o vazio, em choque. Os soluços de Natally tomaram conta do lugar, e Max foi até ela, amparando-a. As unhas dele ainda estavam pintadas, e pensei em como Seth adoraria fazer piadas com isso... Mas não poderia. Nunca mais. Imaginar seus olhos azuis - tão azuis quanto o fundo do mar - se tornarem algo sem vida era doloroso. Senti um soluço deixando minha garganta e me permiti chorar. Não tinha nada que pudéssemos fazer agora para diminuir o vazio da perda.

Ele se fora.

Arte & GuerraWhere stories live. Discover now