7. Tanto faz

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_Eu te machuquei? - ele pergunta algum tempo depois de se jogar ao meu lado.

_Não. - me limito a responder.

_Você... - ele começa e eu o corto.

_Cara, foi bom, de verdade, não me machucou. Agora vamos dormir, preciso  dormir um pouco para conseguir acordar e voltar com você ao rio.

_Pode ficar, não precisa ir. - ele diz me olhando. - É perigoso.

_Eu quero ir. - digo com humor na minha voz.

_Ok... Eu posso precisar de ajuda ou de um corpo quente para me aquecer. - ele parece querer se confortar com a brincadeira.

_Vamos dormir. - me viro no meio dos cobertores e sou surpreendida por um abraço.

_Está muito frio hoje. - ele diz como para se justificar pelo fato de ficar.

Sorrio achando engraçado o que ele diz.

O dia não tinha amanhecido direito quando saímos. Jammes disse que devíamos ir e voltar logo, fomos em uma única moto com um pequeno trenó logo atrás. Segundo ele Nana tinha ido a cidade para ver uma de suas filhas e só voltaria em três dias.

Jammes para a moto depois de algum tempo, pragueja baixo, respira fundo, olha o motor do troço e voltar a praguejar. Ele parece bem nervoso. Volta a respirar fundo, olha ao redor. Vejo ele conferir a mochila, o armamento e a munição depois me olhar numa expressão dolorida.

_A moto estragou. Temos que andar... Muito. - ele volta a olhar ao redor - Fique atenta, aqui é território de lobos.

_Estamos armados - dou de ombros, porque teria medo de um animal se posso mata-lo antes que ele consiga me atacar.

_Lobos caçam em bando e são rápidos, se for rápida em atirar... Eu não estaria tão seguro. Além do mais princesa aqui é território deles, estamos invadindo. - ele é frio e sarcástico ao me dizer isso. - Ninguém vai sentir nossa falta nos próximos três ou quatro dias, coloque mais dois até nos encontrarem. Estamos estamos expostos, sem alimento para tantos dias, com poucas horas de iluminação e sem abrigo. Ainda acha que uma arma é a sua salvação? - seu sorriso de lado é quase uma afronta.

_Ei! Por que está sendo tão cruel? Qual é o seu problema?

_Você é o meu problema. - ele diz simplesmente, sua voz soa quase... Suave. Quase.

Mas que filho da...

_Você é mesmo...

_Eu nunca disse que era bonzinho menina.

_Seu troglodita de merda! - acabo xingando no meu próprio idioma. - Eu quero muito cortar o pescoço dele. Raiva!

Ele sorri de lado e me estende a mochila, pega tudo que tem para comer, facas cantil, lanternas, olha tudo ao seu redor, procura outra coisa que possa nos ajudar. Jammes encontra uma corda e sorri feliz. - Qual a utilidade de uma corda? - ele pega um cobertor de pele enrola tudo o que conseguiu prende na corda e depois na cintura. Em sua perna o coldre prende uma arma e em sua mão uma faca que tem bem uns vinte centímetros.

_O vento está espalhando nosso cheiro. Precisamos conseguir abrigo... - O maluco simplesmente começa a andar. - Vamos acampar ali no alto, estaremos a alguns metros do rio e alto suficiente para que consigam nos encontrar.

Não respondo nada apenas o sigo, não quero falar com ele e gostaria muito de poder ir para bem longe. Infelizmente essa não parece uma decisão inteligente nesse momento.

Depois de alguns minutos de caminhada eu estou prestes a entrar em colapso. Estou mais cansada do se tivesse competido no triatlo. Jammes parece estar tranquilo quando diz que deveríamos parar e montar um abrigo.

Ele cava com as mãos o gelo sobre o solo e me pede para ficar de olho, jogo a mochila no chão aliviada por tirar todo esse peso de cima de mim. Olho ao redor uma e outra vez.

Jammes começa fazendo os blocos, o primeiro andar cria forma. Ele prensa o gelo com um pedaço da madeira e vai formando os blocos, não demora e o segundo andar está pronto. Estou tão cansada e com frio. Me sento no meio do gelo no chão.

_Você está com fome? - o construtor pergunta.

_Estou. - me limito a responder.

_Coma um pouco. Vamos ter que racionar a comida... Então...

_Eu entendi. - sou mais grossa do que deveria.

Abro a mochila e encontro alguns sanduíches, como um enquanto o homem se limita a comer meio. Já estamos na terceira fileira, a cabana de gelo que ele está construindo começa a criar forma.

_Não vai demorar a escurecer, tem que fechar as brechas para evitar passar frio, você pode fazer isso por favor? - ele está todo educado e eu com mais raiva por ele fingir que não aconteceu nada.

_Como posso fazer isso? - Pergunto sendo grosseira no falar.

_Pegue gelo com a mão e coloque entre os blocos tente selar o máximo que puder.

Não respondo, faço como ele pediu. Começa a escurecer e é quando vejo o primeiro lobo na minha vida. É um animal bem maior do eu imaginei e que gostaria que fosse. Uma bocada desse bichano e lá se vai uma perna ou braço.

_Coloque sua arma por perto. Ele não vai atacar sozinho mas, pode ir contar aos outros que o jantar está servido.

_Merda! - sinto cada pelo do meu corpo se arrepiar com a ideia de ter mais desses bichos por perto.

_Não vamos demorar a acabar, mantenha-se o mais atenta que puder.

_Deviamos ter vindo em duas motos! A culpa é sua! - acuso.

Jammes me olha por um momento e depois volta a construção sem se dar o trabalho de responder. Seu silêncio me dá ainda mais raiva. Eu quero dar ele para os lobos jantarem, com certeza um homen desse tamanho daria uma ótima refeição. Eu adoraria comer da sua carme, de uma parte específica, ou gostaria que ele me comesse? Tanto faz.

_Pare de me olhar desse jeito. - ele reclama com um sorriso de lado. Convencido!

_De que jeito? - banco a inocente.

_Como se quisesse arrancar minhas roupas aqui mesmo. - sua risadinha me irrita, como se não fosse o suficiente ser um babaca noventa por cento do tempo. Ele coloca outro bloco sobre a pilha, estamos na quarta camada e ele começou a virar os blocos para fazer o teto. - Podemos trepar depois de estar dentro desse iglu, a salvos.

Quanta prepotência!

_Sinto muito, não quero "trepar" - faço aspas na palavra rude que ele usou - com você, nem morta.

_Eu não sou necrófilo. - ele responde simplesmente.

Demora um tempo até que eu perceba o que ele quis dizer. Babaca!

Três deles agora, estão nos rondando e eu começo a ficar realmente com muito medo. Jammes olha ao nosso redor, deve procurar por mais bichinhos como esses. Lindos, não me devorem eu não tenho uma carne saborosa.

_Acho que estão só curiosos... Só mais um e faremos isso de dentro... - Jammes diz quando outros dois aparecem e eu fico totalmente em alerta. Saco minha arma e aponto para os animais. - espero que saiba usar isso, tenho a impressão de que vamos precisar... - ele murmura colocando a mão em sua arma.

Jammes fez seu trabalho rápido os últimos blocos foram formados dentro da casinha de neve. Ela é pequena, não há muito espaço, é baixa também. A porta é fechada com neve tampando a entrada. As únicas saídas e entradas de ar foram feitas no alto, quatro pequenos furos no topo para nos dar visão ao redor antes de sair e para não morremos sufocados.

Jammes abre a mochila, come a outra metade do seu sanduíche e me dá um. Ele pega uma garrafa e toma de um líquido, o gosto não ruim, mas o cheiro... O babaca explica que esse é um chá de ervas para ajudar a aquecer o corpo. Alguma bebida tradicional do lugar.


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Está ficando bom?
O que será que vai acontecer?
Beijos

Paixão abaixo de zero (Degustação) Where stories live. Discover now