Onde Habitam os Demônios

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              - Você vem ? - perguntou Lúcio, escorado no balcão de mármore da enorme cozinha lustrosa e revertida de porcelana, encarando Alícia e vendo-a ruborizar apenas por dirigir a palavra a ela.

A menina sorri, um sorriso branco e sutil.

- Tenho que esperar Hannah - disse ela, recusando a carona do colega de turma - não posso deixá-la sozinha.

Naquela noite, a turma escolar da garota resolvera celebrar uma festa na casa de um dos amigos, para comemorar seus últimos dias de aula e sua formatura iminente. Já era madrugada, muitos jovens já haviam ido para casa, ou muitos encontravam-se bêbados, dormindo à beira da piscina. Porém ,Hannah não se encontrava em lugar algum.

Lúcio não retribui o sorriso, mas a olha fixamente, fazendo com que a menina desvie o olhar enquanto ele fita a pele branca enrubescer. Ela, claramente, não estaria em uma festa como aquela se não fosse pela amiga Hannah que no momento estava sumida. Provavelmente, bêbada em um dos carros com um colega de classe.

- Eu não te imagino aqui, sabia? - ele tira uma madeixa de cabelos negros que cai sobre a face fina e angulosa. Os olhos verdes são atentos como os de um gato. - sei la, você parece o tipo de menina que tem horário para chegar em casa.

- Eu também não me imagino aqui.

Ambos sorriem.

Ela era genuína. Cabelos longos e ruivos caiam sobre a pele branca, aflorando a imaginação de Lúcio a marcá-la com as próprias mãos, imaginando os traços vermelhos em sua pele quando a apertasse e delineasse seu corpo. A timidez e nervosismo da menina instigavam-no a manter os olhos fixos nela para vê-la enrubescer, delicada como uma rosa sem espinhos.

- É serio, eu posso te levar para casa e bem... - ele faz uma pausa,sorrindo de canto, fazendo um rápido barulhinho e um gesto ligeiro nos ombros - Hannah não é o tipo de pessoa que a gente se preocupa.

Alícia pareceu ponderar sobre a oferta. Lúcio presumia que não havia mais ninguém que garota pudesse recorrer. De longe, ele era o mais próximo de sóbrio e acordado na casa e Hannah estava sumida.

Ela confere as horas no celular e como que esperado pelo garoto, aceita a corana.

Ele morde os lábios abafando um sorrisinho de vitória

- Você pode ir no banco de trás ? - disse ele, quando já estavam perto do carro - é que a porta tá dando trabalho para abrir.

Alícia apenas acena com cabeça, abre a porta de trás e senta. Uma onda de calor, assolar o corpo de Lúcio. Silenciosa e obediente.

Ele continua, já em movimento:

-Você não bebe, não fuma. O que você faz?

- Apenas estudo e passo a pesca a vocês - diz ela num tom baixo.

Ele ri. De fato ela era inteligente. Um dos seus pontos que mais lhe tornava atraente.

- Você é linda sabia ? - diz ele de súbito, fitando-a pelo retrovisor, vendo-a olhar inquieta pela janela e ruborizar em vários tons de vermelho - você já...? - antes que terminasse, ele foi capaz de vê-la levantando o olhar, como que adivinhando o restante da frase. - quero dizer, todos nós já namoramos, ou ficamos com alguém, mas você parece diferente.

- Eu não sou diferente, Lúcio. - a este ponto a voz de Alícia já estava trémula, contestante, mas acima de tudo hesitante. Ele quase podia ouvi-la ofegar.

O canto da boca de Lúcio levanta em um semi sorriso.

- qual é, todo mundo já transou, que mal faz falar sobre isso? - ele vira o rosto para olha-la rapidamente: as mãos estão juntas sobre as pernas, os cabelos ruivos soltos sobre os ombro brancos. Ela continua em silêncio .- você tá nervosa?

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