Depois de terminar de acertar os últimos detalhes do contrato, Rose disse que entraria em contato assim que o comprador pagasse. Despedimo-nos dela e da senhora Smith, e saímos de lá.

- Podemos ir ao shopping. – sugeri, enquanto caminhávamos até o carro. Eu estava entretida vendo uma mensagem que acabara de receber. – Max disse que a loja recebeu materiais novos hoje...

Não notei quando ela parou de andar, por isso, trombei nela com força.

- Ai! – reclamei.

- Liz...

Levantei os olhos do celular e perdi o fôlego com a visão que tive: o domo, a arena onde o time jogava, estava soltando uma fumaça preta.

- O que está acontecendo? – quase não consegui formular a frase.

- É um incêndio? – Julie perguntou. – Será que tem alguém lá dentro?

Sem pensar muito, corremos até lá. Conforme nos aproximávamos, percebemos que Natally estava do lado de fora, socando e chutando a porta. Ela virou para nós, o olhar aterrorizado, o rosto vermelho e lágrimas grossas escorrendo pelas bochechas.

- Seth está lá dentro! – o desespero em sua voz era genuíno.

- O que? – Julie colocou as mãos na boca, em choque.

- Eu não consigo abrir a porta! – Natally gritou. – Ele está preso!

- Por que ele está lá dentro? – minha melhor amiga questionou.

- Eu... Eu... Não sei...

- Isso não importa. – falei. – Vamos tirá-lo de lá.

Julie pegou o celular e começou a ligar para os bombeiros, enquanto eu me aproximava da porta, onde Natally continuava desferindo socos e pontapés.

- Seth! – Natally berrava. – Eu estou indo, Seth!

Ela me encarou, os olhos arregalados e as mãos trêmulas.

- Precisamos entrar.

Esse desespero era a prova final de que ela ainda amava Seth.

Tentei me acalmar e controlar a situação. Olhei ao redor, analisando nossas opções. O lugar não tinha nenhuma janela, e, aparentemente, alguma coisa estava emperrando a única entrada/saída. Eu sabia que o domo tinha sido construído há muitos anos, mas só agora eu percebi o quão ruim era a sua estrutura. Julie continuava no telefone, passando o endereço e implorando para que viessem rápido.

- Natally! – gritei. – Vamos salvá-lo.

Ela concordou freneticamente com a cabeça.

- Vamos empurrar ao mesmo tempo. – expliquei.

Ambas nos afastamos da porta, e, reunindo todas as nossas forças, corremos até ela, acertando-a com nossos ombros. Uma, duas, três vezes...

Estava começando a perder a esperança quando a porta finalmente cedeu um pouquinho. Por sorte, o espaço era suficiente para que passássemos.

- Fique aqui esperando o resgate. – falei para Julie. – Nós vamos tirar ele de lá.

- Liz, não acho que seja uma boa ideia. – minha melhor amiga falou, tirando o ouvido do celular. – Os bombeiros falaram que...

Mas já estávamos nos esgueirando para dentro do domo. Acho que a única coisa que Natally e eu tínhamos em mente era salvar Seth.

Não era possível ver onde o incêndio começara, mas a maior parte da fumaça parecia vir do vestiário. Corremos até lá.

Assim que adentramos o lugar, começamos a tossir por conta da densidade da fumaça.

- Vamos nos abaixar. – Natally sugeriu. Parecia mais calma agora que conseguira entrar no domo.

Deitamos de bruços e começamos a nos arrastar em direções opostas, procurando Seth. Avistei o garoto encolhido em um dos cantos.

- Seth! – chamei, mas ele não respondeu, tampouco se mexeu. Estava desacordado.

Apressei-me na direção dele, tentando levantá-lo.

- Encontrei ele! – berrei para Natally.

Ela apareceu ao meu lado em segundos.

- Cada uma pega de um lado. – a garota falou.

Juntas, tentamos a todo custo levá-lo para fora do vestiário, mas Seth era gigantesco. O esforço nos fazia tossir, todavia, continuamos porque precisávamos tirá-lo de lá. Não sei quanto tempo levou, mas quando conseguimos arrastá-lo para fora do vestiário, minhas pernas já estavam bambas e a fumaça fazia meus pulmões arderem.

- Só mais um... – Natally também parecia no limite. – Pouco...

Os joelhos dela cederam e ela caiu aos poucos, perdendo a consciência. O peso de Seth ficou todo para mim, então eu também desabei. Pensei que talvez não tenha sido a melhor ideia do mundo entrar no domo ao invés de esperar o resgate do lado de fora. Minha última visão foi a dos dois desacordados ao meu lado.

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