Capítulo XXVII

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- Agora... – Julie pegou um par de sapatilhas no armário. – O último toque.

- Vocês usam o mesmo número? – Seth perguntou, arqueando as sobrancelhas.

- Não. Eu as comprei para a aposta. – ela deu de ombros.

Isso é tão típico da Julie que sequer me surpreendi.

Max tentava desajeitadamente calçar as sapatilhas e resmungava ao mesmo tempo sobre como estava repensando se queria mesmo esse tipo de amizade na vida dele. Caminhou até o espelho e se olhou por um instante.

- Cruzes, estou tão...

- Deslumbrante. – Seth lançou uma piscadinha para o amigo.

Max balançou o vestido e fez um biquinho para nós. Parecia mais confortável com a ideia, então Julie começou a tirar fotos. Eu sabia que ela nunca permitiria que ele se esquecesse desse dia.

Dormi (novamente) na casa da minha melhor amiga e acordei com ela resmungando.

- Liz, olha aqui! – ela balançava o celular praticamente no meu rosto.

Bocejei, espreguicei-me e esfreguei os olhos, com toda a calma do mundo só porque eu sabia que isso a irritava.

- Garota, é uma emergência. – pelo tom de voz dela, eu sabia que não era algo grave de verdade.

Olhei para o celular.

- Você acredita que ela teve a audácia de lançar moda com isso? – Julie parecia furiosa.

O motivo da raiva era a foto que Natally postou em uma rede social. Exibia um corte de cabelo totalmente diferente do estrago que tínhamos deixado, além de ter incorporado os tons de verde e azul em um penteado cheio de estilo. Várias pessoas estavam deixando comentários, elogiando.

- Que legal. – abri um sorriso.

- Não! – Julie rosnou. – Isso é péssimo! Ela deveria ter ficado triste e envergonhada, não era para essa megera jogar na nossa cara o quão maravilhosa ela é!

- Talvez seja um sinal de que a vingança não é a resposta. – tentei argumentar.

Minha melhor amiga me encarou, como se não acreditasse no que eu estava dizendo.

- Você já esqueceu da camiseta que ela destruiu?

Depois do incidente, acabei guardando os restos do presente de Jonathan no meu quarto, com todo o carinho do mundo. Ela realmente tinha jogado baixo. Nós também. Agora estávamos quites e era bom vê-la seguindo em frente, mas não falei nada para não gerar discussões com Julie.

Mudei de assunto e começamos a discutir sobre os projetos da escola. Diferente do nosso que já tinha acabado, Seth, Benny, Tommy e os outros ainda estavam trabalhando em novas jogadas com os novatos do time de hóquei.

- Podemos visitá-los algum dia para ver como estão as coisas. – sugeri.

Julie concordou e começou a planejar com que roupa iria. Eu teria adorado continuar ali e ouvi-la divagar sobre qual era o vestido ideal para a ocasião, mas Anna Marie me enviou uma mensagem, perguntando se eu podia ir até a casa da família Ross.

Fui até lá com um aperto no coração, esperando alguma notícia ruim. Durante todo o percurso, o rosto de Jonathan coberto de ataduras não saiu da minha mente. Ao chegar lá e descobrir que não tinha nada a ver com alguma tragédia, senti o alívio me dominar. Lembrei a mim mesma que ele estava ferido, não morto.

Ela me ofereceu algo para beber e sentamos juntas na sala de estar.

- Quando eu estava limpando a casa, encontrei uma carta no quarto dele. – Anna Marie começou a contar. – Te chamei aqui na esperança de que você soubesse o motivo de ele não ter comentado nada comigo.

Li o conteúdo e não pude conter a surpresa: ele tinha sido aceito na mesma faculdade que os outros meninos do time de hóquei. A data da carta indicava que ele a tinha recebido antes de ir para o exército, na mesma época em que descobri que iria para a faculdade de artes. Lembro-me perfeitamente dele afirmando que não tinha recebido resposta nenhuma.

- Ele também não me contou. – expliquei toda a história para a mãe de Jonathan.

Reli a carta.

- É uma bolsa integral. – constatei, o orgulho tomando conta de mim. – Provavelmente, mérito dos talentos dele como jogador de hóquei.

- Por que ele mentiria e esconderia algo tão importante? – ela questionou.

Encolhi os ombros, indicando que não possuía uma resposta para a pergunta.

- Talvez ele estivesse esperando o exército chamá-lo. – deduzi. – Por isso, pensou que não valeria a pena se animar com a faculdade.

- O pai dele acha que não é uma boa ideia perguntar sobre isso enquanto ele ainda estiver longe. – ela disse.

- Considerando que temos tão pouco tempo para falar com ele, e nos últimos dias sequer conseguimos contato... – soltei um suspiro triste.

- Ferido, não morto. – Anna Marie tocou meu ombro e trocamos um sorriso.

Ela tinha razão. Jonathan viria para casa, as coisas voltariam ao normal e nós teríamos a chance de questionar o porquê de ele não ter nos contado sobre a faculdade.

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