- Terminamos. – informei, ignorando o comentário anterior dela.

Olhei para o estrago final. Seu cabelo estava uma bagunça de azul e verde, sem o menor padrão de onde começava uma cor e terminava a outra; o corte estava desalinhado e horrível, como se uma criança tivesse brincado de cabeleireira com Natally; seu rosto tinha manchas da tinta e seu nariz, ainda machucado, estava coberto com um curativo.

Antes de Julie soltar a garota, disse:

- Se contar isso para alguém ou tentar se vingar, vamos acabar com o resto do seu cabelo e das suas roupas.

- Ou quebrar o seu nariz de vez. – acrescentei.

Natally se aproximou e pegou no meu pulso com força. Se olhar matasse, com certeza eu teria caído morta naquele momento.

- Não se preocupem, ninguém vai saber disso. – ela falou pela primeira vez desde que a ameaçamos. – Sempre falam como eu sou uma pessoa horrível, mas olhem bem para vocês agora. Não são diferentes de mim. Na verdade, nem eu fui tão baixa de mexer com a aparência das duas.

- Destruir um presente importante para alguém é ser bem desumana, caso nunca tenham te contado. – Julie rebateu.

Natally tentou avançar na direção de Julie, que desviou sem dificuldade e apertou a ponta do nariz da megera, fazendo-a soltar um gemido de dor.

- Opa, perdão! – ironizou. – Agora saia daqui antes que eu perca a paciência.

Julie abriu a porta e esperamos a outra sair do cômodo. Ela se afastou apressada, tentando esconder o cabelo com a touca do agasalho e eu juro que consegui sentir a aura pesada dela deixar o ambiente.

Minha melhor amiga sorriu, mas não retribuí. As palavras de Natally me acertaram em cheio. Será que éramos realmente piores do que ela?

- Ela começou com isso, você apenas revidou. – Julie pareceu ler meus pensamentos.

Não respondi, então ela acrescentou:

- Diferente da sua camiseta, o cabelo dela vai crescer de novo.

Concordei com a cabeça, tentando acreditar nas palavras de Julie. De qualquer maneira, já estava feito e não tinha mais como mudar isso.

- Eu só espero que essa guerrinha acabe agora. – comentei.

Ela se aproximou e tocou meu rosto, de maneira acolhedora.

- Você é tão boazinha. – disse. – Como é que somos amigas?

O comentário dela me fez rir. Éramos realmente bem diferentes em vários aspectos.

- Vamos limpar isso antes que alguém apareça. – falei, tirando as luvas.

Recolhemos os fios loiros, tiramos as manchas de tinta e deixamos o lugar como encontramos antes. Em seguida, reunimos todas as provas de que algo tinha acontecido ali e jogamos em uma lixeira do lado de fora da escola.

Pegamos o esfregão e voltamos ao ginásio. Rose pareceu desconfiar um pouco, mas depois de inventarmos alguma desculpa, deu de ombros e voltou a limpar as coisas.

Julie decidiu que faria uma noite de filmes na casa dela para comemorar a vingança final contra Natally. Chamou Benny, Seth e Max, já que eles tinham ajudado com tudo.

Levamos quase uma hora para decidir qual filme assistiríamos. No fim, optamos por uma comédia. Enquanto o pessoal se divertia, rindo e conversando durante o filme, lutei para que meus pensamentos não focassem em Natally e no que tínhamos feito.

Pouco depois do filme acabar, o computador de Julie começou a apitar. Ela soltou um gritinho animado e correu para olhar a tela, onde a foto de Ryan piscava na tela. Uma chamada de vídeo.

- Ele está bem! – ela abriu um sorriso gigantesco. – Calem a boca.

A imagem de Ryan apareceu. Não aparentava estar ferido, mas tinha uma expressão séria que me deixou inquieta.

- Eu estou bem, não se preocupe. – falou, antes que Julie perguntasse. – Estava com saudades.

Os meninos trocaram um olhar e saíram do cômodo em silêncio, dando privacidade para o casal. Eu estava prestes a sair quando ouvi Ryan falando:

- Poderia ficar até amanhã olhando para o seu rosto perfeito, querida, mas preciso falar com a Liz sobre algo importante.

Senti meu coração acelerar e me apressei para o lado de Julie. Ela colocou a mão no meu ombro, conforme Ryan contava o que tinha acontecido:

- O comboio no qual Jonathan estava viajando foi atacado, mas ele sobreviveu e já recebeu os devidos cuidados. Logo ficará melhor.

Levei um tempo para processar aquela informação.

- Onde ele está? – quase não ouvi minha própria voz.

- Descansando. – Ryan respondeu. – Os remédios o deixam bem sonolento.

- Ele... – tentei formular alguma coisa, mas o nó na minha garganta me impediu.

- Ele está bem, Liz. – Ryan assegurou. – Não foi nada grave, ele até consegue conversar, caminhar e comer sozinho.

- Vão mandá-lo para casa? – Julie perguntou. – Até onde eu sei, os soldados feridos são enviados de volta.

- Esse é o problema. – ele soltou um longo suspiro. – Muitas pessoas foram mortas no ataque, por isso, não podemos abrir mão de um único soldado.

Um barulho fez Ryan desviar a atenção do computador para alguma coisa na base. Sua expressão se tornou suave.

- Ele acordou. – contou. Virou-se para o lado e falou: – Ei, cara, estou conversando com a Liz.

- Lizzy? – a voz de Jonathan estava fraca.

Ryan ajudou meu namorado a se sentar, e só então consegui vê-lo. Meu coração doeu ao perceber que um dos lados do seu rosto estava coberto por ataduras. Parecia dopado, o que provavelmente era efeito dos remédios, e mesmo assim tentou me lançar um sorriso.

- JoJo... – um soluço me interrompeu.

- Eu vou ficar bem, Lizzy. – ele garantiu. – Prometi que voltaria e não vou descumprir isso.

- Eu te amo, Jonathan.

- Eu também te amo... Muito. – ele respondeu, sua fala começando a ficar lenta. Os remédios o derrubariam em breve.

- Por favor, volte para mim. – soei desesperada, como de fato estava.

- Ei, não chore... – ele pediu. – Por... Favor...

Ryan ajudou Jonathan a se deitar de novo e eu o perdi de vista.

- Ele dormiu de novo. – o namorado de Julie informou. – Vou cuidar dele. Prometo.

Afastei-me deles, saindo apressada do cômodo. Encontrei os garotos na cozinha, conversando e rindo. Levantaram-se e me olharam, preocupados, quando me aproximei.

- Liz? – Benny segurou meus ombros. – O que foi?

Tudo o que consegui fazer foi chorar. Ele me puxou para um abraço apertado e apoiei a cabeça no ombro dele. Os garotos tentaram falar comigo, mas o som dos meus soluços me impedia de ouvir qualquer coisa.

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