A segunda e última semana corrida quase me enlouquece. Todos os dias tive que receber a contragosto visitas de ornamentadoras, cozinheiras e mais variadas profissionais desse meio. Não estava suportando mais as perguntas, as suposições... Eu queria acabar com aquilo tudo e espero ter feito boas escolhas. Mesmo sabendo que é um casamento combinado com o propósito voltado a negócios, quis fazer que tudo ficasse o mais real possível.

E, no fundo, por se tratar de um casamento sério, senti que deveria ser menos desleixada com o que me era proposto. Nos primeiros dias não quis, nem olhava as revistas e portifólios que mandavam. O que eu queria mesmo era jogar tudo, e fugir dessa realidade na qual fui implantada. Contudo, não podia ser assim. E se eu continuasse com esse pensamento seria muito mais desgastante para o meu emocional, que já não estava lá essas coisas só de imaginar minha vida convivendo com o capo.

Fora isso, tive que trabalhar pesado com a minha princesinha dos olhos castanhos claros. Laura demorou muito para aceitar e todas as noites pedia para eu ficar... Ela chorava muito implorando para que eu não a abandonasse, ela soluçava dizendo que iria ficar sozinha e sem carinho. Eu sei que ela recebe o amor das minhas outras irmãs, mas, o meu se tornou a fonte dos seus sorrisos. E, eu não sei como isso aconteceu dessa forma tão rápida, já que ela está nessa família há anos e só veio a se apegar a mim...

E o pior... É que eu sinto a mesma dor. Sinto a mesma coisa que ela, sou apegada do mesmo modo e a explicação mais acertada é porque foi ela quem me salvou na maioria das noites em que eu tinha que dormir naquele quarto.

Os sorrisos bobos, as gargalhadas... Os abraços, o amor inocente e puro da Laura foram o verdadeiro motivo para me fazer acordar feliz todas as manhãs.

Por mais que eu sempre procurasse ter pensamentos bons e motivadores, foi a minha pequenininha que moveu meus dias.

E, hoje, vejo que ela está tentando ficar feliz. Acordamos cedo, tomamos café da manhã tranquilamente e depois disso ela foi brincar até que chegasse o momento de ir para a casa.

Ela ainda é muito nova para entender certas coisas, e um casamento como esse não passa em sua cabeça o verdadeiro motivo, graças a Deus por isso, pois ela está fazendo de tudo para sorrir e me mostrar que está alegre por hoje ser o dia em que vou casar com o, de acordo com suas palavras ingênuas, "homem da minha vida".

Em partes irei me apegar isso... Irei fazer o possível para não ser um casamento fracassado e forçado. Tentarei ser uma mulher que goste e sinta algo pelo marido. Não vou repudiá-lo, por mais que eu saiba que terá momentos que vou, sim, teme-lo.

Não sei se haverá amor, no entanto, serei intensa em todos os meus atos. E não vou medir esforços para fazê-lo sentir também. O mínimo que seja, só para acalmar uma alma que gostaria muito de sofrer um pouco menos...

– Louise, vamos, querida! – Mamãe entra no quarto das minhas irmãs, Donna e Liza, me chamando apressada. Esse é o lugar que tenho dormido por todas as noites. Peguei o colchão da cama da Laura, a pedido dela mesmo, e, de quebra, todas as noites ela dormia bem coladinha em mim. Como se fosse uma despedida silenciosa dos nossos dias de apego. – O seu vestido já está lá na casa de campo, assim como a maquiadora e a cabelereira. Suas irmãs já foram, só a Laura que teimou e disse que só iria junto com você.

Balanço a cabeça sorrindo... Eu sabia que aconteceria isso.

– Onde ela está? – Pergunto calma, saindo da frente da janela, virando-me na direção da minha mãe.

– Como você consegue estar calma assim? – Ela não responde a minha primeira pergunta e torce as mãos nervosamente.

– Talvez porque a ficha ainda não caiu? – Tento responder, mas a resposta sai mais como uma pergunta.

A VINGANÇA DO CAPO - PARTE 1Where stories live. Discover now