O Primeiro Flash

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Está bem, me desculpe! Eu te levo pra casa daquele idiota! O que você vê naquele garoto metido, afinal?

Maximilian não é metido, ele é meu amigo, Jane – responde finalmente, aceitando as desculpas da irmã, com a voz soando de forma fofa por ainda estar chateado. – Por que você não gosta dele? Eu não gosto quando vocês brigam...

A gente não briga, só discute! E isso não aconteceria se ele não fosse tão metido só porque tem mais dinheiro e um cavalo.

O dinheiro não é dele, é do pai, assim como o cavalo, mas Maximilian disse que a gente pode ir lá cavalgar nele... Por isso eu quero ir na casa dele, Jane. Eu quero andar a cavalo.

Está bem, eu vou levá-lo até lá... E vou tentar não achar ele tão idiota!

— Jane? Jane? – chama uma voz grave e forte, uma voz que a vampira sabia ser a do seu irmão, mas que não condizia com a doçura do Alec infantil.

Jane é puxada de volta para o quarto de Alec, a névoa se dissipa e seus olhos piscam algumas vezes antes de entrarem em foco, dando de cara com o semblante preocupado de seu gêmeo, que segurava os seus cotovelos e estava bem longe da escrivaninha e do livro de luta.

— O quê? – questiona ela, confusa. O que tinha acabado de lhe acontecer, afinal?

— Você está bem? Aconteceu alguma coisa?

— Eu não gosto quando você fica sem falar comigo... – comenta, tentando desviar o assunto, mas percebendo o quando aquela descoberta era verdadeira. – Me desculpe! – pede novamente, chocando o irmão.

— Está tudo bem – sussurra perplexo. – Maximilian me disse que é normal irmãos brigarem de vez em quando.

— Ele disse que eu viria também? – questiona com certa irritação, por que tudo tinha que terminar no camaleão?

— Não, mas garantiu que logo nos acertaríamos, porque isso sempre aconteceu conosco. Eu só não esperava que você se desculpasse... – sussurra a última parte, como se o fato da irmã ter feito tal coisa não pudesse ser espalhado.

— Pra você eu sempre vou pedir desculpas. Está falando comigo agora?

— Sim.

— Então diga: Maximilian é um idiota.

— É, ele é um idiota, às vezes – comenta Alec, tentando reprimir um de seus sorrisos debochados.

Jane sorri com satisfação, sentindo a dor de outrora ser substituída pelo sentimento caloroso e fraternal que só conseguia sentir com o seu gêmeo. Seus olhos vermelhos percorrem o quarto de Alec sorrateiramente, como se conferisse se tudo estava em seu devido lugar, tentando esconder dele o turbilhão em seus pensamentos e as pernas trêmulas.

Ela era a vampira mais forte da Guarda, a principal defensora de que pensar no passado era tolice. Seja lá o que tivesse acontecido ali no quarto de Alec, ninguém poderia saber.

Alec a observava com um resquício de preocupação em seus olhos, pois a irmã estava mudada, agindo de uma forma diferente do habitual. A Jane de antes era o ápice da frieza e do desinteresse por qualquer coisa proveniente da vida humana, todos os seus movimentos eram calculados e ela frequentemente o repreendia por não agir como ela.

Ele admirava a antiga Jane e ambicionava ser como ela, porém, Alec não sabia mais onde ela estava, porque àquela a sua frente era uma Jane "diferente". Será que os outros vampiros haviam notado isso? Será que tinham reparado nas expressões novas que ela esboçava ou na forma inédita com que falava com ele?

— O que está aprendendo agora? – pergunta ela, desviando novamente a atenção do irmão de seu estranho comportamento, para algo que sabia que o envolveria instantaneamente.

— Oficialmente, alguns movimentos de Judô. Extraoficialmente estou aprendendo Muay Thai – explica rapidamente, apanhando o livro na escrivaninha e mostrando a capa para a gêmea. – Maximilian é um lutador bom, mas eu quero superá-lo.

— Você vai. Somos os vampiros mais poderosos desse castelo, ninguém consegue nos vencer – comenta com um sorriso confiante nos lábios, caminhando em direção à porta e agradecendo mentalmente por suas pernas ficarem firmes. – Alec! – chama ela, pouco antes de tocar a maçaneta da porta. – Se contar isso para alguém, eu te mato! – ameaça sem tanta seriedade, referindo-se ao seu inóspito pedido de desculpas.

— Você pode tentar! – rebate ele com um sorriso sarcástico, balançando o livro em frente ao rosto para mostrar que agora ele seria um oponente bem difícil de se derrotar.

Jane lhe lança um sorriso de canto, abrindo a porta e se retirando do quarto do gêmeo no segundo seguinte, esperando que entrasse na privacidade de seu quarto para deixar as pernas trêmulas desabarem sobre o chão frio, permitindo que finalmente o tsunami que estava reprimindo escapasse de dentro de seu corpo.

A vampira esfrega o rosto com força, beliscando as bochechas para ter certeza de que estava mesmo no mundo real e com a mente lúcida. O que tinha acontecido a pouco? O que foram todas aquelas imagens? Ela havia se reconhecido naquela névoa, não tinha como negar, e tinha sentido que cada uma daquelas informações eram verdadeiras. O que tudo aquilo significava, afinal? Será que era uma lembrança de seu passado?

— Impossível! – sussurra para si mesma, como se isso pudesse fazer tudo o que viu desaparecer ou se tornar uma simples alucinação mentirosa, pois, se aquelas imagens enevoadas eram mesmo recordações e se realmente fizeram parte de sua vida mortal, então o camaleão falava a verdade: eles já se conheceram e tiveram um passado em comum.


Coração GeladoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora