Capítulo II

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Eu sei que não sou filha dos meus pais.

Só se eu fosse muito burra para não notar que eu sou completamente diferente de todos os moradores daqui.

Na verdade, eles nunca me esconderam esse detalhe.

Eu fui adotada quando ainda era um bebê. Minha mãe fazia trabalho voluntário no orfanato de uma província vizinha e, assim que eu cheguei lá, foi amor à primeira vista. Eu já ouvi essa história tantas vezes, que até já sei de cor.

Fui criada com tanto amor, que este fato passou despercebido por muitas vezes. Nunca me senti rejeitada, tanto dentro da minha casa, como fora também.

Com exceção da vez em que, quando éramos crianças, o Jonas disse que meus olhos eram um portal para o inferno e que, quem olhasse para eles por muito tempo, acabaria parando lá — e é claro que ele levou um soco por isso — sempre fui tratada como se fosse um deles.

É por isso que essa informação não faz o menor sentido.

Eu sou uma caipira.

Não uma condessa.

— Helena! — Aristides me chama, aos gritos, acordando-me do meu transe.

Não sei por quanto tempo fiquei neste estado catatônico, mas devem ter sido longos minutos, porque toda a minha família está aqui, na sala da Julieta, sem que eu sequer tenha percebido sua chegada.

— O que está acontecendo? — meu pai pergunta, sentando-se ao meu lado no sofá.

A TV ainda está ligada, mas já transmite algum filme qualquer.

— A Helena é uma condessa e foi convocada para fazer parte da corte que vai escolher o novo rei — explica o Jonas.

— A Helena o quê? — pergunta o Aristides, sem conter uma risada estridente.

Uma discussão acalorada — intercalada com as gargalhadas debochadas do meu irmão — se segue sobre eu ser ou não a tal condessa, mas a minha mente está ocupada demais tentando me dissuadir dessa ideia ridícula.

Onde já se viu?

Helena de Amorim, uma condessa?

Essa é a ideia mais estapafúrdia, descabida e ilógica que eu já ouvi na vida. Se eu não estivesse tão fora de mim, com certeza estaria gargalhando também.

— Não! — exclamo, levantando-me em um salto. — Isso não faz sentido. Isso é ridículo. Eu não sou condessa coisa nenhuma.

A Julieta me traz um copo d'água, que eu não consigo beber, devido ao bolo que se formou na minha garganta.

— Eu quero ir para casa — digo, levantando-me do sofá e seguindo em direção à porta.

Ninguém diz nada. Vamos todos para casa e, para minha sorte, meus pais decidem não insistir neste assunto.

 Vamos todos para casa e, para minha sorte, meus pais decidem não insistir neste assunto

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A Corte - Livro 1 - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora