[02] Incompreensível.

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No Rainbows — Capítulo dois.

幽玄 [yuugen]

Abril, 1986.

As chamas espalhavam-se pela área onde a gasolina havia visivelmente sido despejada e, após, aos arredores desta. As macieiras eram as primeiras a ser afetadas, seus frutos indo de encontro ao chão conforme os galhos queimavam junto do tronco.

A noite, anteriormente tão bela, agora era assustadora. Aquele lugar, junto da floresta e do jardim, havia sido o meu único refúgio desde que chegamos aqui. Costumava passear todos os dias por ali, vez ou outra surrupiando um ou outro fruto. Ver tudo virar, aos poucos, cinzas diante de meus olhos era horrível; frente a esse cenário cruel, simplesmente paralisei.

A pior parte, porém, era o fato de que eu não conseguia ficar bravo com o alfa que fizera aquilo. Tentava, mentalmente, rogar pragas até para a sua trigésima geração, mas falhava.

— Taehyung! — ouvi a voz dele ao longe, provavelmente querendo que eu me afastasse do fogo. Ainda questionava-me como diabos ele sabia o meu nome.

Havia muita fumaça ao meu redor, tornando difícil enxergar algo que estivesse à mais de um metro e meio de distância de mim.

Em um ato involuntário, cobri a boca e o nariz com as mãos para evitar de inalar a fumaça diretamente, começando a sentir uma leve coceira na garganta e uma certa dificuldade para respirar normalmente.

Minha ficha finalmente caiu. O pomar estava pegando fogo e, se eu não me afastasse dali logo, provavelmente morreria. Mas, ao procurar por uma brecha por entre as chamas, apenas me recordei de que minha visão estava parcialmente bloqueada pela fumaça.

— Saia daí! — novamente a voz do alfa, dessa vez parecendo mais próxima do que antes.

Almejava respondê-lo, dizer-lhe que não conseguia ver quase nada, mas, quando abri a boca, só o que pude fazer foi tossir. Respirar tornava-se difícil. Minha visão estava, aos poucos, ficando turva.

Mesmo assim, não me foi tão difícil identificar o alfa. Quer dizer, sua silhueta. Senti uma de suas mãos segurar a minha antes de ele jogar algo em meu rosto, talvez algum tipo de pano para impedir-me de inalar mais da fumaça; sei que tinha seu cheiro, e isso me manteve calmo.

Não tinha muitas opções além de deixá-lo me guiar, então simplesmente permiti que me arrastasse para longe do local qual ele mesmo havia incendiado. Por alguma razão, apesar dos apesares, confiava naquele alfa — e minha confiança cega em si me deixava preocupado.

[···]

Não faço ideia de por quanto tempo ficamos correndo feito loucos. Podem ter sido apenas alguns minutos, mas também pode ter sido mais de uma hora. Não tirei o pano em nenhum momento, ainda tentando recuperar-me do pavor que havia sentido recentemente, e não me atrevi a soltar a mão alheia também.

— Você já pode tirar essa coisa da cabeça, Taehyung. — Disse-me.

Ele tentou libertar-se de minha mão enquanto eu tirava o que descobri ser um casaco — provavelmente seu, já que, como citei antes, ele estava com seu cheiro — de minha cabeça, sendo o próprio alfa a primeira coisa que vi.

Ao observá-lo, meu coração bateu mais depressa do que as asas de um beija-flor. Sem o casaco, seus braços estavam expostos; haviam tatuagens que subiam por eles, cobrindo quase toda sua pele. Seu peito subia e descia rapidamente, ofegante, o que lhe deixava, de certa forma, atraente.

— O que foi? — perguntou, jogando o cabelo para o lado com um balançar de cabeça.

— Você…

no rainbows | taekookDonde viven las historias. Descúbrelo ahora