Sentou na beira da cama e nos entregou o pote. Aquilo era a coisa menos Benny Bu do universo, mas ao mesmo tempo era exatamente o tipo de coisa que ele fazia pelos amigos. Lembro-me de quando estávamos no ensino fundamental e eu era apaixonada por um garoto da nossa sala. No dia em que criei coragem para me declarar, recebi um fora, afinal ele estava mais preocupado em jogar futebol com os colegas do que em ter uma namoradinha. Comecei a chorar e corri para Benny, pedindo um abraço. Meu vizinho foi até o garoto no meio do recreio e o segurou pela camiseta, ameaçando bater nele se não me amasse de volta.

Abri um sorriso agradecido e aceitei o pote.

- Caso alguém pergunte, eu saí daquela festa porque estava passando mal. – ele disse. – Se um dia descobrirem isso, vou matar as duas.

- Entendido. – Julie também estava sorrindo.

Pausamos o filme e rapidamente jogamos fora todos os todos os lenços de papel com as nossas lágrimas. Benny se sentou conosco quando abrimos o pote de sorvete. Ele nos entregou colheres. Realmente tinha pensado em tudo.

- De onde você tirou aquele papo de homem não ser o centro do nosso universo? – perguntei, curiosa.

Ele deu de ombros.

- Das coisas que algumas garotas postam nas redes sociais.

Agora sim esse era o Benny que todos conhecíamos e amávamos.

Quando terminamos de tomar o sorvete, Julie deu uma ideia que quase me fez engasgar de tanto rir.

- E se eu te maquiasse? – ela encarava Benny.

- O que? – ele fez uma expressão de incredulidade.

Julie tocou no queixo de Benny, virando-o de um lado para o outro.

- O que ela está fazendo? – ele me olhou, assustado.

- Analisando seus traços e pensando em uma maquiagem perfeita para você. – respondi, ainda rindo.

- Seus olhos ficariam tão bonitos com um delineado de gatinho e uma sombra esfumaçada... – Julie falava.

- Que língua é essa? – Benny se afastou e fez uma careta.

Dei de ombros.

- Maquiagem. – falei. – Às vezes também fico confusa.

- Nada de me maquiar. – ele disse.

- Por favorzinho. – Julie pediu.

Ele bufou.

- Se eu deixar, vai fazer você se sentir melhor?

Julie piscou várias vezes, abrindo um sorriso.

- Sim.

Posso jurar que vi a vontade de viver deixando o corpo de Benny quando ele se sentou de frente para Julie e esperou ela começar a maquiá-lo. Nunca falaríamos aquilo para ninguém, mas nós três sabíamos que jamais deixaríamos Bendyk esquecer desse dia.

Benny ficou conosco na madrugada de sábado até que estivéssemos nos sentindo melhor, o que foi muito fofo da parte dele, mas é claro que não comentamos nada com ninguém. Seria nosso eterno segredo.

Julie passou o domingo na minha casa, ajudando meus pais e eu a decidirmos mais sobre a mudança na decoração da sala de estar. Nos últimos dias, andei tão focada em Jonathan e sua ida para a guerra que sequer acompanhei a evolução do projeto. Estava tudo praticamente decidido, só precisávamos escolher os vasos das plantas, abajures, cortinas e quadros. Mamãe pediu que eu pintasse algo especial para colocar em um ponto de destaque no cômodo. Prometi que faria algo até o fim da semana.

Na manhã de segunda-feira, acordamos cedo por conta do projeto que a senhora Smith nos convidou a fazer parte. Julie levou mais de uma hora arrumando o cabelo, escolhendo a roupa e maquiagem, além de mudar de ideia duas vezes sobre o "visual estar adequado para a ocasião", sendo que nós literalmente só iríamos até a nossa antiga escola.

- Não quero que os nossos colegas esqueçam do quão maravilhosa eu sou. – ela justificou.

Meus pais finalmente me devolveram o carro, então dirigi até lá. Julie retocou a maquiagem no caminho. Eu amava essa garota, mas às vezes ela conseguia ser mais narcisista que o próprio Narciso da mitologia.

Quando chegamos na escola, alguns colegas já estavam na sala do clube de artes, trocando abraços e falando como tinham sentido a falta uns dos outros. Até mesmo Natally estava sendo bem recebida. As lembranças de estar ali todos os dias pelos últimos anos tomaram conta de todos nós e começamos a trocar memórias daquela época.

Em determinado momento, Natally se aproximou de mim com um sorriso. Será que finalmente deixaríamos as diferenças de lado e agiríamos de forma madura?

- Não pense que esqueci da vergonha que me fez passar com Seth. – ela falou, destruindo minhas esperanças. – Você não perde por esperar.

E se afastou. Olhei-a, sentindo meu coração acelerar. Ela não teria coragem de fazer alguma coisa comigo, teria? Não, é claro que não. Nada aconteceria. Natally só queria me deixar assustada.

Os abraços foram interrompidos quando a senhora Smith entrou na sala, pedindo que todos nos sentássemos. Julie, que estava do outro lado da sala falando com uma colega, veio ficar ao meu lado no nosso antigo lugar.

- O que acha de irmos ao shopping depois daqui? – ela perguntou baixinho.

- Pensei em passar na casa de Jonathan para conversar com a mãe dele. – respondi, tentando não ficar triste ao falar disso. – Talvez seja bom se nós duas conversássemos, afinal ela deve estar bem chateada com tudo isso também.

- Eu não tenho a mínima coragem de encarar os pais do Ryan. – Julie contou, encolhendo os ombros. – Tenho a impressão de que eles me odeiam depois de tudo o que aconteceu entre nós.

Não tive tempo de responder. A professora chamou a nossa atenção, a fim de explicar mais sobre esse projeto e como tudo iria funcionar.

Arte & GuerraWhere stories live. Discover now