Cap. Trinta e Oito

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O verde forte do seu olhar fica preso no meu que tenta pesquisar dentro das suas íris algo mais que não sei de Dominick. Este por sua vez espera uma resposta minha a confirmar as suas palavras, e eu lhe dou.

—Tu não podes mandar nos sentimentos Dominick. Não sou eu, nem tu que mandamos neles, são eles próprios que decidem por onde escolher. Nós só conseguimos reprimire-los e fingir que não sentimos nada, porque por dentro sentimos e muito.

Não intendo onde fui buscar as palavras, mas as disse, achando que assim seja verdade. Nesta vida aprendi muito a reprimir os sentimentos e por outro lado a ir buscá-los a lugares que julguei que iria ter, mas nessa altura era uma criança inocente que não sabia, que não valeria apena correr atrás de um amor de uma pessoa quando nunca tive intenções de realmente mostrar. Ainda mais sendo o meu próprio pai.

Aperto os nós dos seus dedos, ele retribui da mesma maneira. Os seus olhos voltam a fechar-se deixando-me sozinha a encarar as suas pálpebras fechadas. Um longo e cortante suspiro sai das suas narinas ao ouvir as portas do elevador abrirem-se. Não me mexo e ele muito menos.

Continuo a encarar aquele homem que não conheço, mas que estou a conhecer aos poucos. Lembro-me enquanto vínhamos no seu carro, que nunca proferiu uma palavra, parecia estar concentrado nos seus pensamentos. Outra coisa que não fugiu sobre o meu olhar foi a forma como ficou tenso.

Quero-lhe dizer que as portas iram se fechar brevemente e ficaremos trancados dentro do elevador, mas não o faço. Limito-me a olhá-lo e a deixar que esse mesmo olhar descaia para um ponto muito sensível dentro do seu peito revestido por camadas intensas de pele e de veias.

É espontâneo quando sinto a peruca a deslizar pela mão e a cair no chão do elevador. Levo, sem medo algum, a mão ao seu peito. Pouso delicadamente ela contra o seu coração causando uma mistura de dor no seu rosto, o que faz os seus olhos apertarem-se mais.

O quê que aconteceu com o seu coração? Será que já amou alguém, mas não teve retribuição desejada. Isso não pode ser, lembro-me que Dominick afirmou que não namorava. Ou seja, ele não namorou com ninguém a não ser levar as mulheres para a cama. Mas poderia ter apaixonado por alguma delas...

Engulo em seco com esse pensamento.

Não demorou um segundo que fosse para sentir a minha mão a ser afastada e ser levada ao mesmo tempo que a outra ao cimo da minha cabeça. Não é a primeira vez que ele afasta o meu toque do seu coração. Os seus olhos parecem dois pequenos diabos olhando-me nos meus que mantem uma expressão reservada.

— Tenta não sentires nada por mim. — Não há pedido nenhum naquela mera frase, há uma ordem expressa.

As suas mãos apertam as minhas, contra a parede fria do elevador, por cima da minha cabeça.

Dominick Chmerkovskiy está de volta ao homem que conheço.

— Então tenta também não sentires nada por mim! — Replico num sussurro minimamente frio olhando diretamente nos seus olhos e aproximando a minha boca da sua, num jeito de provocação.

Reprime os lábios para dentro tentando calmar os pensamentos que estão visíveis no seu rosto irritado, diria eu. Sinceramente não consigo explicar com perfeição a sua mudança de humor radical, mas quem consegue explicar a verdadeira identidade deste indevido. Em menos de cinco minutos consegui aperceber-me que existe outro Dominick para além de um controlador, dominador e estupidamente provocador.

Mexo as mãos por de baixo das suas que continuam a prender-me contra a parede do elevador, querendo lhe dar a intender que gostaria de ser libertada das suas garras. Mas não chega acontecer.

PERIGOSAMENTE TENTADORWhere stories live. Discover now