Capítulo 46

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Olá, minha bela Scarlett. Meu desejo era ver seu rosto enquanto conversamos, porém, você fugiu deixando meu castelo vazio. Admito que nossa relação teve um início conturbado, mas creio que poderemos recomeçar, não é mesmo? Pretendo remediar essa situação em um futuro próximo.

Sua partida realmente me deixou desestabilizado e, como já deve ser do seu conhecimento, meus filhos ingratos e esposa desajuizada também se rebelaram contra mim. Como tanto amor pode ser recompensado com demasiada ingratidão?

Sou uma pessoa pacienciosa, Scarlett. No tempo certo, todos pagarão por seus atos insubordinados.

Não tenho dúvidas de que meus mensageiros deixaram claro o recado, você jamais conseguirá fugir de mim. Por onde quer que vá, seguirei seus passos. Serei sua sombra em cada trajetória que decidir seguir.

Esquecendo as amenidades, tenho algo importante para lhe dizer, o real motivo dessa carta. Você sabe de minha infinita generosidade, sendo assim, irei lhe propor um acordo.

Você virá até mim em Aurora Negra, em meu castelo, sozinha; entregar-se-á a mim sem luta ou qualquer ato de insubmissão. Em contrapartida, lhe devolverei sua mãe.

Não, você não está lendo errado. Há alguns anos, mantenho Siena em cativeiro e, em troca do seu amor incondicional, deixarei que você a veja e, dependendo do seu comportamento, posso esclarecer as dúvidas que essa informação despertará em sua cabecinha. Há de convir comigo que não estou pedindo demais, não é?

O que me diz, minha cara? Isso é o suficiente para você? Você possuiu 30 dias para cumprir com sua parte em nosso pacto. Sem prorrogações. Saberei no instante em que você ler minhas palavras. A magia é muito misteriosa, não concorda?

Caso decline sobre a minha proposta, sua mãe sofrerá as consequências. Você pode considerar meus métodos cruéis, porém, somente quero garantir que sua escolha seja a certa. Temos assuntos pendentes desde a última vez em que nos vimos. Aquela noite em seu quarto ainda se repete em minha mente.

Uma vida por uma vida, Scarlett. Não se esqueça.

Com todo amor e carinho, Arthur. Seu Soberano.


Meus dedos tremem e lágrimas escorrem por minhas bochechas. A ira se revira de formar assustadora em meu interior e nuvens grossas começam a se acumular no céu, nublando as estrelas.

Chamas partem dos meus dedos e se espalham pelo papel. Entretanto, o mesmo permanece intacto, provavelmente protegido por um feitiço.

Maldito rei!

Encolerizada como jamais estive, soco a parede inúmeras vezes fazendo o concreto ceder parcialmente e deixando sangue escorrendo pelos tijolos à vista. Paro para recuperar o fôlego e caio sentada no chão, não aguentando a intensidade dos soluços que se assomam em meu peito. A cura lupina se encarrega de fechar a carne lacerada das minhas mãos, contudo, nada poderá ocupar o vazio que cresce dentro do meu ser.

Toco o cordão que um dia pertenceu a minha mãe na tentativa de aplacar a dor pulsante em meu coração. Por um milagre, ele não se rompeu, apesar da minha transformação em lobo.

Magia, querida. Magia.

Nem ao menos consigo mensurar o quanto minha mãe tem sofrido ao longo dos anos nas mãos daquele homem tenebroso. A memória sufocada e fragmenta da noite em que o rei tentou me violentar retorna com força, fazendo-me me sentir todo desespero que me invadiu na ocasião.

Palácios De Cinzas - Livro 2 - Trilogia Mestiços Onde as histórias ganham vida. Descobre agora