Capítulo 7

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John

Foi necessária a passagem de uma semana até que eu pudesse me mexer sem sentir dores terríveis. Quando fiquei lúcido o suficiente, minha mãe revelou a mim seu plano que provavelmente nos levará direto à forca.

Desde a partida de Scarlett, a corte se alvoroçou e exigiu respostas de seu monarca sobre a segurança do reino. Para acalmar os ânimos, a rainha propôs uma pequena confraternização em homenagem a misericórdia e generosidade do rei. Uma encenação barata para acariciar o ego do meu pai.

Vinho está sendo servido em abundância e a música ressoa por todo o castelo. Quando Arthur estiver devidamente embriagado para levar uma das suas amantes aos seus aposentos, minha mãe e eu aproveitaremos para dar início em nossa fuga.

No início, acreditei que esse plano era uma insanidade completa, mas aos poucos minha mãe e o capitão Félix me convenceram de que era o único meio de permanecermos vivos. Sendo assim, escolhemos apenas soldados de minha confiança para compor a guarda dessa noite, enquanto os demais receberam folga.

Minhas mãos suam e tremem levemente pela expectativa de abandonar esse palácio. Não precisar mais lidar com a futilidade da corte seria uma benção bem-vinda.

Deixando meus olhos passearem pelo salão, encontro o olhar de Katrina que se aproxima devagar. Sem dúvida, esse noivado é uma das minhas atribuições como príncipe que mais anseio renunciar.

-Boa noite, caro noivo. –Katrina fala com uma reverência.

-Boa noite, Katrina. –Respondo sem vontade.

-Gostaria de dançar? –Ela questiona.

A contragosto, aceno afirmativamente para não levantar suspeitas em relação ao meu comportamento. Todavia, no momento em que as primeiras notas da cação ressonam, sou transportado para uma lembrança distante.

Não são mais os olhos castanhos de Katrina a me encarar, mas sim um olhar dourado e astuto. Como em um sonho, relembro os vários momentos em que Scarlett esteve em meus braços e me foi permitido amá-la.

Seus belos traços inundam minha mente e sua risada aquece meu peito. O desejo de vê-la novamente é tão arrebatador que por alguns instantes fico preso em meio aos devaneios criados pela saudade.

-John, está me escutando? –Katrina fala.

Balançando a cabeça, tento me prender ao presente e permitir que o passado adormeça. Olhando ao redor, percebo que a canção já chegou ao fim e muitos convidados estão se retirando, inclusive o rei.

-Desculpe, Katrina. Tenho questões a resolver. –Digo e lhe dou as costas.

Passando pelo trono, aceno afirmativamente para Félix que está ao lado da rainha. Rapidamente, vou aos meus aposentos resgatar uma pequena mala preparada para essa situação e parto em direção aos estábulos.

Não cruzo com nenhum soldado pelo caminho porque, inteligentemente, minha mãe liberou a maioria para aproveitarem a noite. Cego por seu egoísmo, o rei nem mesmo reparou que o palácio estava mais vazio.

Quando chego ao ponto de encontro, vejo cinco soldados ao redor de uma modesta carruagem, os quais decidiram partir conosco e abrir mão da vida na corte. Félix se aproxima de nosso grupo junto a minha mãe, encoberta por uma longa capa negra, e com Suzi que carrega um semblante preocupado.

-Iremos a cavalo para não levantar tantas suspeitas, já que a ausência de um veículo real seria constata rapidamente. A rainha irá na coche na companhia de Suzi, para garantimos que ninguém note sua presença e a viagem para ambas seja mais confortável. –Félix comanda.

Palácios De Cinzas - Livro 2 - Trilogia Mestiços Onde as histórias ganham vida. Descobre agora