Capítulo 13

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Uma enxurrada de lembranças invade minha mente enquanto encaro o rosto de Sebastian que se mantém praticamente inexpressivo: um chiclete em meus cabelos, insetos desconhecidos colocados em meu travesseiro à noite, sabotagens em meus equipamentos de treino... Aquele menino, agora era um homem, havia atormentado minha infância. De alguma forma, ele sempre se livrava de todas as punições.

Até mesmo no dia em que minha Convocação estava para ocorrer, ele havia me provocado para desencadear uma briga. Somente anúncio da chegado do príncipe ao quartel foi capaz de me impedir de arrancar de seu rosto sua expressão prepotente característica.

Entretanto, Sebastian não aparentava mais ser o mesmo adolescente responsável por fazer dos meus dias um verdadeiro inferno. Em uma rápida checagem despretensiosa, noto que ele está mais alto, mais forte e com uma barba escura cobrindo suas bochechas e queixo.

Quando tento me aproximar, a barreira de fadas a minha frente me impede de dar qualquer passo. A sacerdotisa Íris se coloca ao meu lado, fazendo com que Gail praticamente rosne baixinho.

-Esses lupinos atacaram você na floresta, Scarlett. -Íris me conta. -A partir desse momento, estamos recusando a ajuda de Rurik e todo o seu bando. -Ela determina.

-Não é você quem decide sobre isso. -Gail fala com raiva.

-Creio que não me dirigi a você, criada. -Íris contrapõe com desdém.

Imediatamente, o corpo de Gail se endurece pela raiva. Ela tenta me contornar para alcançar a sacerdotisa que, por sua vez, afasta-se e se coloca em posição ofensiva. Antes que o pior aconteça, coloco-me entre as duas para impedir um desastre.

-JÁ CHEGA! –Brado. -Gail não é nem jamais será uma criada. Peço que tenha cuidado com a maneira pela qual trata meus amigos, sacerdotisa. -Declaro encarando com determinação os olhos lilases de Íris. -Agora, eu apreciaria que alguém me explicasse o que está acontecendo aqui. -Digo.

Gail continua fuzilando Íris com um olhar de ódio puro. Passando pelas fadas, fico em frente a Rurik e seu grupo. Analisando melhor, percebo que Sebastian não é o único intruso no acampamento. Ao seu redor, estão jovens que eu jamais havia visto.

-Você é um lupino? -Questiono olhando para Sebastian.

-Não somente ele, todos são. Os mesmos lupinos que lhe atacaram no bosque. -Rurik declara se antecipando.

A dor em meu pulso lateja com a lembrança do ataque e, nesse exato instante, compreendo a sensação de reconhecimento que me preencheu quando encontrei o lobo marrom. Ao mirar Sebastian novamente, noto que seu braço está envolto por uma atadura e contido por uma tipoia.

-Você me mordeu. -Falo mordazmente.

-Sim e você quebrou meu braço. -Ele rebate.

-Eles estavam fazendo uma ronda na floresta, Scarlett. Quando se depararam com você, acreditaram que se tratava de uma invasora. -Rurik explica.

-Então os lupinos atacam antes de saber a quem estão ferindo? -Pergunto.

-Esses meninos estão em treinamento, ainda não controlam suas ações após a transformação. Infelizmente, alguém permitiu que saíssem sem supervisão. -O capitão fala em tom de repreensão.

-Não precisamos de uma babá. -Um menino loiro fala com rebeldia.

-É melhor permanecer quieto, Ítalo. -Rurik xinga.

O ambiente tenso entre fadas e lupinos parece que irá entrar em erupção a qualquer momento. Rurik me olha como se implorasse para que eu intermediasse um diálogo, enquanto Lírida permanece estranhamente calada.

Palácios De Cinzas - Livro 2 - Trilogia Mestiços Onde as histórias ganham vida. Descobre agora