| Capítulo 9 |

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Vejo-o amassar o papel e jogar no chão sem pestanejar, enquanto caminha, pisando duro, de volta para a aglomeração de pessoas

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Vejo-o amassar o papel e jogar no chão sem pestanejar, enquanto caminha, pisando duro, de volta para a aglomeração de pessoas.

Ah, merda, ele odiou.

É inevitável meus ombros caírem e as feições se entristecerem.

Sabia que era bem provável isso acontecer devido ao seu mau humor costumeiro, mas uma parte minha torcia para dar certo. Queria ver seu sorriso... mesmo que fosse um tímido, contido, qualquer vislumbre.

É a primeira vez que alguém despreza meus bilhetes desta forma. Não queria que tivesse sido justo ele.

Escondo-me mais atrás da árvore que me oferece um ângulo perfeito de onde ele estava, com medo de ser pega no flagra. Será que vai desconfiar que fui eu?

Não seja boba, Zoe! Bufo, revirando os olhos.

O garoto sequer notou minha presença a noite toda. É bem provável que nem saiba que eu exista, visto que no dia em que nos esbarramos em frente ao prédio de Ciências Humanas não se dignou a olhar para trás.

Fabrício.

Esse é o seu nome.

Ouvi algumas pessoas o chamando, na vã tentativa de puxar assunto. O que me consola é que a falta de educação, pelo jeito, não é dedicada exclusivamente à mim.

Observo de longe Serena e o amigo que ela me apresentou falarem com ele. Ver as suas mãos no peito do desconhecido, de novo, me deixa desconfortável. Os dois aparentam ter uma certa intimidade, pelo menos é o que ela demonstra.

Fabrício parece ainda mais irritado do que normalmente, esquivando-se de ambos. Devia ter ficado na minha, no entanto, a vontade de escrever aquelas palavras foi mais forte do que eu.

Não menti quando disse que a festa estava chata antes dos meus olhos serem capturados por sua presença marcante. Logo que chegamos, Serena encontrou sua turma e me deixou de escanteio. Apresentou-me apenas para alguns amigos e logo ficou imersa na sua bolha de bebidas e drogas.

Fiquei chocada em saber que faz uso dos dois com tanta frequência.

Passei longos minutos andando de um lado para o outro com um copo de refrigerante nas mãos, sozinha. O que me restou foi observar os detalhes modernos da decoração da casa enorme e apreciar as obras de arte penduradas nas paredes do corredor. Tudo isso me esquivando de engraçadinhos tentando me agarrar do nada.

Cheguei à conclusão de que lugares muito lotados, música alta e cheiro de cigarro não combinam comigo.

Tive crise de tosse umas 15 vezes em menos de 2h. Morri de medo de passar mal e acabar chamando atenção de centenas de alunos.

O tédio só passou quando ele chegou, todo de preto – mais uma vez – entrando imponente pela porta da sala. Depois deste momento, não consegui parar de observar as suas atitudes; seu jeito intrigante de estar presente, mesmo há quilômetros de distância do que realmente se passa à sua frente.

Antes da última respiração [DEGUSTAÇÃO | DISPONÍVEL NA AMAZON]Where stories live. Discover now