Capítulo XXI - O Inverno está chegando

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Era sempre triste quando uma de suas crianças ia. Ainda mais uma como Asahi. Uma que ela tinha certeza que o fim não seria feliz.

Era como ver um desastre que não podia impedir.

Suspirou e se ergueu da mesa, colocando o cigarro no cinzeiro e pegando um maço de dinheiro da gaveta e o entregando.

— Isso é bem mais do que meu pagamento.

Madame Yuu rolou os olhos e fez sinal para que se aproximasse. Segurou o rosto dele cuidadosamente, erguendo o pescoço para isso. Ele havia crescido muito do adolescente tão pequeno que havia aparecido na sua porta. Ignorou a tensão dele com o toque e sorriu levemente, o rosto enrugado se contorcendo e mostrando os dentes amarelados pela nicotina.

O rosto remendado e eternamente destruído por cicatrizes ainda carregava certa fragilidade, quando alguém sabia onde olhar.

— Se cuide, Asahi. *

— Obrigado. Por tudo.

Quando ele saiu pela porta do bar, teve certeza que nunca mais o veria.

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Fuyumi lembrava vagamente de alguns momentos felizes em sua vida.

Do sorriso da sua mãe, dos abraços raros, mas calorosos do seu pai e da risada de Touya enquanto corriam ao redor da casa. Naquela época Touya estava sempre lá, sempre ao seu lado, como deveria ser com os dois. Com cinco minutos de diferença entre eles, era o esperado que assim fosse. Naquela época ela pensou que assim seria por toda a vida.

Era uma época simples, antes das quirks deles surgirem, antes de ela ser dita como a criança fadada a ser ignorada e seu irmão ser obrigado a ser submetido a mais violência do que alguém como ele poderia aguentar. Touya sempre havia sido tão gentil, dolorosamente pequeno, tão frágil, sempre doente, que sua mãe sempre teve certeza que a quirk dele seria como a dela, porque ele representava a neve como nenhum deles havia representado: suave, frágil e silencioso. Efêmero.

Em dias ruins, enquanto andava por uma casa vazia e vivendo com apenas as memórias do passado, ela se pegava pensando em como seu irmão era uma daquelas criaturas destinadas à serem quebradas. Uma quirk poderosa em um corpo que não podia suportá-la, um emocional frágil em uma família que começou a se destruir tão cedo.

E um dia ele se foi e Fuyumi perdeu uma parte dela que nunca teria de volta. Fuyumi ficou para trás, como sempre. Apenas uma testemunha daquela história toda. Sua mãe, Touya e até Natsuo, que foi para a universidade. E ainda assim ela continuava lá. Em boa parte por Shoto, que era mais parecido com o irmão mais velho do que ele sequer tinha ideia, mas também por uma ilusão em sua cabeça de que um dia as coisas dariam certo. Que talvez ela conseguisse fazer deles uma família. Pegar o pouco que ainda lhe restava e remendar os pedaços e, talvez, voltar àquela época. Por Touya.

Fuyumi desejava isso mais que tudo.

Fuyumi se perguntava o quanto idiota era desejar algo assim, vendo a expressão exausta, mas sempre estóica do seu irmão mais novo. Notando como ele mancava até a mesa, ignorando os próprio machucados de uma sessão de treino que havia durado até quase duas da manhã. Ela sabia. Ela havia esperado e remendado ele.

— Nee-san?

— Hum?

Shoto virou o rosto em curiosidade, a testa franzida. Algo que ele sempre fazia quando estava preocupado. Fuyumi sorriu nervosamente, guardando o bule que ia colocar no fogo antes de ele entrar. Desde que havia visto Shoto em pânico quando se levantou para fazer chá no meio da noite e ele entrou na cozinha procurando água, ela sempre evitava fazer isso com ele em casa.

A teoria do caosWhere stories live. Discover now