Capítulo 45 - Parte 3

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-Posso soltar você? -Pergunto, recebendo um aceno afirmativo como resposta.

Levantando-me, estendo uma mão para auxiliar a Kayke a fazer o mesmo. Assim que retornamos para onde Roama está, encontramos uma figura inesperada: Morgana. Ela cobriu a nudez de Roama com um lençol e avalia sua lesão enquanto mantém três dedos encostados na testa da lupina, o que, aparentemente, deixa-a inconsciente. Dário somente observa sem intervir.

-Preciso da sua ajuda, Scarlett. -Morgana fala, sem olhar para mim.

-O que quer que eu faça? -Indago, posicionando diante dela, na lateral direita de Roama.

-Canalize a magia obscura para fora do corpo dela enquanto a mantenho desacordada. -Ela diz, como se me passasse a instrução cotidiana de atravessar a rua.

Você ficou maluca?

-Como disse? -Indago, cética.

Morgana direciona um olhar severo para mim. Ela indica o ferimento no quadril de Roama vertendo sangue intensamente.

-Você vai colocar sua mão na ferida e retirar o veneno que corre nas veias dessa garota pelo simples fato de que esse veneno foi criado pela magia e você é a única outra pessoa que pode manipulá-la além de mim nesse lugar. -Morgana determina com veemência. -Se não o fizer, ela morrerá em minutos. -Ela afirma.

Chocada, engulo em seco e tento controlar o turbilhão de pensamentos girando em minha mente. No meio da minha indecisão, encontro os olhos apavorados de Kayke, servindo como combustível para acreditar nas palavras de Morgana.

-O que devo fazer? -Pergunto, praticamente sussurrando.

-Toque na lesão, sinta o tecido lacerado e a sua extensão, o sangue pulsando nas artérias e delimite o quanto o veneno se espalhou. Expanda a magia e a utilize como um imã, atraindo as partículas de prata para fora. -Morgana orienta.

Com os dedos trêmulos encosto na laceração que expõe até mesmo o osso do quadril de Roama, o que desencadeia um calafrio frenético que faz meu corpo inteiro tremer. Preciso desviar o rosto porque a gravidade da situação me faz querer fugir.

-Feche os olhos, isso facilitará. -Ela aconselha. -Desperte a magia que há no centro do seu ser, provavelmente adormecida, e a conecte às partículas venenosas. Se ficar mais fácil, imagine cordões partindo de você, use a sua imaginação para moldar seu poder e canalizá-lo para dentro de Roama. -Morgana explica.

Respirando profundamente, concentro-me para executar cada sentença dita pela bruxa. Ignorando a realidade de estar tocando na carne viva de alguém, aprofundo meus dedos na região traumatizada.

Ao tentar acessar a magia da qual Morgana alegou que eu possuo, sinto um puxão no cerne da minha composição, como se uma fechadura tivesse sido arrombada, e uma corrente de um fluído brilhante começasse a se disseminar por minhas veias. Empurro essa sensação para o corpo de Roama e, instantaneamente, começo a sentir as células de seu corpo em aflição.

Seu sistema tenta incontrolavelmente lutar e impedir que os fragmentos venenos progridam em sua ação, entretanto, falha miseravelmente. A prata se aloja em cada órgão e o leva a falência. Tudo isso se projeta em minha mente, como se a magia funcionasse semelhante a uma extensão da minha visão, fazendo-me enxergar até mesmo com as pálpebras fechadas.

Com uma facilidade inusitada, restrinjo o fluxo da substância tóxica e a faço regredir. Simultaneamente, quanto mais o veneno é retirado, mais efeito a regeneração aprimorada de um lupino age internamente em Roama, salvando-a.

Suspirando, sinto a última porção venenosa deixá-la e retiro minha mão da ferida. A corrente de magia em mim estagna e permanece dormente. Ao abrir meus olhos, encontro um líquido escuro, volumoso e com pequenos pontos brilhantes maculando o chão ao meu redor, o veneno. Felizmente, o ferimento de Roama está quase fechado completamente.

No momento em que Morgana retira sua influência sobre Roama, ela desperta, parecendo confusa. Kayke caminha até ela e segura em uma das suas mãos.

-Consegue me ouvir? -Ele sussurra.

-Sim. -Roama responde fracamente.

-Graças aos céus! -Kayke agradece, parecendo exausto.

Sentindo-me uma intrusa entre eles, levanto-me e me afasto. Dário e Morgana me seguem e me amparam no segundo em que uma vertigem violenta me atinge.

-Você se esforçou demais, precisa descansar. -Morgana argumenta.

-Vamos levá-la para a casa de Magnus. -Dário oferece.

Sustentando-me em ambos os lados, eles me conduzem até meu quarto enquanto minha mente vagueia em uma névoa densa. Ao ser colocada em minha cama, é como se o peso do mundo pressionasse meus músculos e não consigo me mover, decidindo manter meus olhos cerrados.

-Entrar em contato com o veneno não pode causar algum mal a ela? -Ouço Dário questionar.

-Não, magia contra magia se anula. Ainda que Scarlett possua o poder de um lupino, a magia que ela herdou de sua avó paterna a protege dos efeitos colaterais. -Morgana esclarece.

Ignoro os dois e sua conversa, perco-me na neblina que preenche minha consciência. Imagens de ferimentos sangrentos, guerras e a morte ceifando a vida me invadem sem que eu consiga controlar.

Depois do que pareceram horas, tanto Morgana quanto Dário me deixam sozinha. O sono não me atingiu, por isso, apenas me mantive imóvel na tentativa de recuperar minha força e me libertar do transe incessante de dor e sofrimento. Assim que isso acontece, empenho-me em me manter lúcida.

O cansaço ainda me aflige, porém, em menor intensidade. Observo o céu por minha janela e reparo que já há inúmeras estrelas ilustrando-o. Levantando-me, dou alguns passos incerto e preciso me escorar na penteadeira.

Um objeto sobre a mesma chama minha atenção: um envelope de carta lacrado. Quando reparo no selo que a veda, meu estômago se revira. É o selo da realeza pelaguiana, mais precisamente, aquele utilizado exclusivamente pelo rei de Pélagus. 

Por alguma razão desconhecida por todo o cosmos, o Wattpad está bugando meus capítulos e precisei separar em 3 partes

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Por alguma razão desconhecida por todo o cosmos, o Wattpad está bugando meus capítulos e precisei separar em 3 partes. 

Espero que agora dê certo! Me ajudem fadas da escrita!

Qualquer coisa me avisem!

Palácios De Cinzas - Livro 2 - Trilogia Mestiços Where stories live. Discover now