CAPÍTULO 1 - Gosto amargo no início das férias? Não pode!

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    Nuvens carregadas, relâmpagos iluminando o céu e os trovões que parecem sacudir as estruturas do mundo são os elementos que comandam o clima do anoitecer caótico. A chuva não dá trégua. Mas não tem jeito! Júlia precisa descer do carro, caso queira concluir a viagem.

— Que droga! — Ela esbravejou diante de inevitável.

Os pés descalços tocam o chão coberto pelo asfalto remendado, deixando Júlia exposta a um perigo muito mais assustador do que ser lançada para o outro lado da pista por algum veículo. A chance de ser atingida por um raio é definitivamente muito mais aterrorizante do que ser lançada no ar por uma carcaça de lata.

— Só me faltava essa: morrer com o cabelo em pé, descalça e torrada! Não consigo ficar apresentável nem mesmo para morrer. — Júlia bramou em meio a chuva.

Apesar do episódio lamentável, o dia estar conseguindo ser melhor do que os últimos. O azar continua a persegui-la, porém é melhor ter o limpador do seu para-brisa quebrado do que seu coração.

Descobrir que o cara com quem você teve os devaneios mais loucos, costuma ter esses mesmos sonhos com uma de suas amigas, é demais para qualquer mulher.

"— Rebeca é incrível! É engraçada, decidida, sensual... Nossa, estou maluco por aquela mulher! E tudo isso graças a você, Julinha!" — Caio disse aquilo com um olhar apaixonado que, infelizmente, não era para ela.

— Viu só? Foi dar uma de simpática, e se ferrou. Homem não gosta de mulher legal. Vê se aprende, sua burra! — Júlia continuou a esbravejar com ela mesma, enquanto tenta improvisar um curativo temporário para o para-brisa, que fez o favor de quebrar em plena BR, com um elástico puído que tinha nos cabelos. — Bem feito, sua idiota! Quem mandou apresenta aquela vaca pra ele?! "— Ai, Ju! Estou péssima! Homem nenhum presta! Acho que vou desistir de tudo. Vou me trancar nesse apartamento, para não ser obrigada a ver um na minha frente novamente.

— Que isso, Rebeca?! Que exagero! Você só precisa se distrair um pouco. Escuta: eu vou encontrar um amigo agora na pizzaria. Quer ir comigo?

— Amigo? Ou seja, homem? Não vou! — Rebeca franziu os lábios enquanto cruza os braços diante do peito, como uma criancinha de 3 anos. 

— Pode parar de drama. Vamos! Você vai gostar dele!"

É... realmente você gostou dele, Sua Traíra! — Júlia cuspiu a sua raiva em palavras.

O serviço é finalmente finalizado, e o limpador ostenta vergonhosamente a remenda mal feita. Mesmo com o coração sufocado pela mágoa, uma pequena oração é feita, pedindo para que a gambiarra aguente até que chegue a Búzios.

Com as costas das mãos, Júlia limpa o rosto molhado pela chuva, e que agora se mistura com as suas lágrimas patéticas. Sim, patéticas! Como é possível chorar por alguém que nunca foi seu?

Um barulho quase ensurdecedor de um trovão, a lembra do perigo que a aterrorizava a instantes atrás, e por isso ela volta às pressas para o carro. Agora em segurança, Júlia encara a estrada vazia a sua frente, com os olhos perdidos em pensamentos. Perdidos em lamentos.

— Nunca tive coragem de dizer a Caio o que sinto. — Confessou para o nada. — Cinco anos de devaneios idiotas! Cinco anos de puro desperdício! Mas já deu para mim. Chega de esperar que me notem. — Determinou, enquanto seus dedos castigam o volante. — O primeiro cara que eu vir, irei fazer ficar caidinho por mim. — Afirmou, girando a chave na ignição. — Búzios, me aguarde. Uma nova mulher está chegando.

Com a música no volume mais alto, um sopro de determinação na alma, e um pé fundo no acelerador, a nova mulher parte para o seu destino.

***

SOS: verão! (Em revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora