Simplesmente Acontece - Lucas Olioti

PIETRO E... VOCÊ!

Lucas

Ingrid e eu passamos a tarde na parte de trás da casa de praia, hora na piscina, hora na areia, e quando o sol já estava quase a se pôr resolvemos nos sentar a beira do mar para admirá-lo

— Sobre hoje mais cedo, eu quero que você se sinta confortável em me falar as coisas — disse com um pouco de cuidado enquanto via o vento se esforçar na efêmera tentativa de levar os cabelos loiros de Ingrid — você é a pessoa mais importante no mundo para mim, a primeira que eu conto tudo, quero que sinta a mesma coisa por mim…

Enquanto eu falava Ingrid fitava o chão e o rabiscava com seu dedo. Estava fazendo um calor tão agradável por ali

— Eu te amo! — ela disse logo depois que levantara a cabeça — te amo muito… 

— Eu também te amo! — disse e nos abraçamos

Podia escutar Ingrid chorar dentro do meu abraço. Seus soluços descompassados que faziam seu corpo dar breves pulinhos...

— Se for muito difícil não precisa falar sempre… — disse 

— Eu tô chorando por causa do alívio, Lucas, é bom falar isso — ela se desvencilhou do meu abraço e olhou nos meus olhos — Lucas Olioti, eu te amo!

A luz já contrastada do por do sol deixava seu olho numa coloração que nem se eu tentasse conseguiria explicar, seu sorriso que prendia minha atenção e que eu podiria admirar por anos, seus lábios me chamando para o encontro

— Você é incrível Ingrid! — disse e nos beijamos

Senti cada pedacinho meu conectado a ela, nossos corpos ritmados como em uma dança, era como se tivéssemos nascido para aquilo. Minha alma pedia para segurá-la e nunca mais soltar, ela era o amor da minha vida!

Ingrid interrompeu o beijo 

— Quero passar minha vida toda com você! — ela disse com veemência

— Ãn? — perguntei ainda confuso

— Foi o que eu senti… no beijo. Eu senti e tô falando! 

A aversão em suas bochechas adensava-se a cada a cada palavra

— Você é tão lindinha com vergonha… Pena que vai ter que passar a noite toda lavando o cabelo pra tirar essa areia toda…

— Que areia? — ela perguntou e imediatamente joguei um pouco de areia em sua cabeça

O seu sorriso deu lugar a um semblante de indignação que me fez gargalhar. E alí, enquanto o sol terminava de se encontrar com o horizonte, Ingrid e eu jogávamos areia um no outro, como duas crianças, como nós gostávamos de ser.

…

Quando finalmente o sol se foi, Ingrid e eu fizemos pipoca e assistimos um clichê romântico que ela escolheu, por algum motivo não me lembro muito bem do filme…

— Lucas? LUCASS????

— Ãn, Oi? — disse assustado

— O filme já acabou, vamos subir para o quarto? — Ingrid disse amarrando seu cabelo no centro da cabeça

— J-já acabou?

— É, e como sempre, você dormiu o filme todo. Vamos! — ela disse e me puxou pela mão

Nos deitamos na cama e Ingrid se posicionou para dormir. Por alguns segundos um silêncio estranho se estabeleceu ali, a frente da cama ficava a varanda do quarto, que dava vista para a praia.

O quarto estava praticamente todo iluminado pela luz da lua que adentrava através da varanda, fiquei admirando aquela luz meio azulada

— Levanta Ingrid! — disse indo em direção a varanda

— Ãn?

— Vem Ingrid! 

Ela se levantou meio confusa e me acompanhou. No auge na minha imaturidade subi em uma das cadeiras e consegui chegar ao teto da casa

— Pronto, agora é sua vez! — disse

— Olioti, você tá ficando doido? Desce daí! — Ingrid disse cruzando os braços e juntando suas sombracelhas 

— Deixa de ser chata, vem logo! — disse e me deitei no teto

— Se eu cair daqui eu quebro sua cara!

Com um pouco de esforço ela conseguiu subir e se deitou ao meu lado

— Uau, aqui dá pra ver muitas estrelas… — ela disse

— É, na cidade tem muita iluminação…

As telhas pequenas e alaranjadas incomodavam um pouco

— Elas são tão lindas! 

— Não tanto quanto você! — disse

— Para Lucas! — ela disse

— Se eu fosse uma estrela teria inveja do brilho dos seus olhos — disse

Ingrid me olhou com um uma expressão de desaprovação e rimos

— Que brega, Lucas! — ela disse ainda rindo — mas eu gostei!

— Que bom…

Estava um pouco frio, talvez por conta do mar, mas valia a pena ficar ali

— Lucas, por que você se interessou por mim?

Silêncio

Nos olhamos novamente e gargalhamos

— É sério? — perguntei

— Claro(?) — ela respondeu

— Por que você tá tão insegura?

Senti as costas de sua mão tocar a minha e por fim nossos dedos se entrelaçarem

— Não sei, acho que minha vida é muito instável, parece que tudo vai mudar de repente…

— Nada vai mudar, Ingrid, principalmente meu amor por você!

— Tá bom! — ela disse com a voz embargada

Eu sabia que Ingrid estava cansada da vida monótona que vivíamos, ela não tinha nascido para isso 

— Você sente falta de tudo isso né? — perguntei

— Tudo isso o quê?

— Do mar, das suas aventuras e tals…

— Sinto. Sinto muita falta, mas eu entendo que agora tenho Pietro em minha vida… e você

— E a gente não tá aqui pra ser um problema Ingrid. Não quero você infeliz. Por que você não faz uma viagem sozinha quando a gente voltar? Daquelas que você fazia sempre?

— Seria incrível! Minha última foi no Chile! — ela disse abrindo um sorriso enquanto fitava as estrelas — você não sabe o quanto eu fico feliz por você entender, mas eu tenho o Pietro e…

— Eu fico com o Pietro! — eu disse e Ingrid gargalhou

— Você?

— Sim, qual o problema?

— Lucas, você deu fini pra ele no café da manhã!

— Quando é que você vai esquecer isso? E você não tá lembrando que quando você teve que cuidar do seu pai fui eu quem ficou com o Pi, por um BOOOMM tempo!

— Tá, Lucas! Mas você vai ter que se virar nos trinta. Por que antes não tinha tantas responsabilidades… tipo, o programa e tals…

— Eu já me viro nos trinta meu bem! — beijei Ingrid

— Aliás, quem ainda fala "se virar nos trinta" — Ingrid disse durante o beijo e nós rimos alto

Não esquece da estrelinha! :)