Anaya Buscou Pipoca

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Três horas se passaram e Aba ainda mexia no cabelo de Anaya, que ficava impressionada com a habilidade que a trancista trançava o cabelo com o jumbo e ia até o final do fio, ainda que não fosse a primeira vez que via. Apesar do longo tempo que ambas passariam ali, era um tempo passado de forma agradável conforme elas conversavam. Anaya conseguiu fazer amizade com Aba logo na primeira vez que pisou no salão. Era do tipo simpática e extrovertida, que qualquer pessoa na rua que a desse abertura virava sua amiga.

— Então, e a sua namorada, como ela está? — perguntou a trancista, chegando ao fim de mais uma trança que ia até a altura da cintura da cliente. Pegou o copo d'água ao seu lado, tomou um gole, e prosseguiu: — Quando vocês noivam?

Anaya riu com a última pergunta. Todos seus amigos pareciam estar noivando ultimamente, o que era estranho para ela considerando que era um grupo jovem, e existia algum tipo de estereótipo de que lésbicas eram muito emocionadas e apressadas em relacionamentos, mas ela não tinha pressa. O namoro dela com Ava tinha acabado de completar seis meses, e ambas queriam curtir ao máximo seu relacionamento e estabelecer suas carreiras antes de pensar em casar. Aliás, considerando que elas eram vizinhas, e praticamente já viviam na casa uma da outra, realmente não viam necessidade de correr para se mudar e ficarem mais perto.

Vizinhas. Era engraçado e as namoradas sorriam toda vez que lembravam de como tinham se conhecido.

Anaya tinha acabado de se mudar, juntamente de sua irmã Adanna e a filha dela Anika. E o Pipoca. Ah, sim, aquele cachorro brincalhão e esperto! Demorou apenas uma semana na casa nova para ele encontrar um buraco que dava acesso ao quintal da casa ao lado. A primeira vez que ele desapareceu, Anaya ficou desesperada. Achou que tivesse saído quando abriu o portão, tinha sido desleixada, pensou. Iria conseguir encontrá-lo? E se tivessem feito alguma coisa com ele? Era culpa sua se Pipoca não voltasse. Como sua sobrinha iria ficar quando chegasse em casa após a escola e não visse o amigo felpudo em lugar nenhum?

Anaya, tremendo, teve um pouco de dificuldade em destrancar o portão para ir atrás do cachorro. Mas quando finalmente abriu-o e olhou para o lado, viu a mulher mais linda que seus olhos já captaram vindo em sua direção. Tinha a pele retinta, olhos amendoados escuros, lábios fartos, um cabelo crespo que parecia mais uma coroa e, em seus braços, carregava um animal fujão.

— Pipoca! — Anaya gritou em alívio, e recebeu um latido agudo em resposta. O pequeno cão pulou do colo em que estava confortavelmente e correu até ela, que o recebeu com atenção e carinho quase sufocante.

— Esse cachorro é seu? — a mulher indagou. Sorria o mais belo dos sorrisos vendo como a outra mulher abraçava Pipoca. — Ele estava no meu quintal, eu o encontrei brincando com meu cachorro. Deve ter passado pelo buraco que tem entre nossas casas.

— Ai, Deus, sinto muito e... Peraí, que buraco? — Anaya perguntou, confusa.

E então descobriu como Pipoca tinha sumido. E como ele continuou sumindo nos meses seguintes. Mas Anaya já não se desesperava mais, sabia onde o cachorro estava e que estava seguro. Sua vizinha, Ava, também se acostumou com a situação. Toda vez que Anaya ia buscar o Pipoca, seu amigo Totó, o pitbull, fazia cara de quem pedia para o outro ficar "só mais um pouquinho". E às vezes ela deixava, só por uns minutos enquanto tomava um cafezinho que Ava oferecia.

De repente, se viu passando mais e mais tempo na casa ao lado, e a Ava na sua. Foram tomar café em uma cafeteria, e em outra, e mais uma. Passou alguns meses, e Anaya estava perdidamente apaixonada, mas se encontrava constantemente nos braços de Ava.

"Quem diria que um cachorro arteiro e um buraco no muro poderiam me levar à uma pessoa tão incrível", dizia.

Anaya voltou do rápido devaneio com um grande sorriso, e respondeu à pergunta de Aba.

Anaya Pôs TrançasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora