Cap. Trinta e Quatro

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Respiro fundo, abro os olhos e encaro Bruce debruçado não secretária do seu quarto a fumar enquanto via uns documentos no computador.

Vou explodir.

— Dá-me um cigarro. — Ouço-me a implorar, aproximando-me dele, pegando na caixa de cigarro e retirando-lhe um antes mesmo que ele me diga para o fazer. Bruce desvia o olhar do ecrã do portátil para mim. O seu cenho franze-se.

— Não te dei autorização para me roubares um. — Brinca.

— Estou-me pouco fodendo para isso. — Murmuro entre dentes, pondo o cigarro entre os lábios e o acendendo com o seu isqueiro. Dou a primeira passada. — Se não queres ver um assassinato é melhor não reclamar por estar a fumar um cigarro dos teus.

Hard ri negando com a cabeça e voltando com o olhar para o computador.

— Nem te vou perguntar o que tinha esse bilhete para estares assim.

Dou mais uma passada no cigarro ignorando totalmente o que disse. Guardo o bilhete no bolso da calça. Pego no comado da televisão que estava próximo de Bruce, aumento um pouco o volume. Aproximo-me mais do meu colega e olho para o computador.

— Nada? — Pergunto, vendo Bruce a analisar as várias fotografias espalhadas por trinta pastas que se encontram assinaladas por datas desde o ano de 2001. Sendo que foi um ano após as pen's drive começarem a nascer no mundo do mercado.

E eu tive quase três anos para descobrir duas malditas pen's dentro de uma parede falsa que há dentro da passagem secreta que dá da biblioteca para o jardim e que a Eva não sabe que existe. Sendo que foi o caminho todo a olhar para mim e a interrogar-me por estar a bater nas paredes. Eu só queria ter a certeza de que a passagem era só um caminho normal que dá de um lado ao outro sem aberturas nas paredes. Mas olhem só o que encontrei, um pequeno compartimento cheio de pertences da falecida esposa do Green e do próprio, e entre outras coisas. Havia tantos, mas tantos objetos que em uma semana só consegui dar atenção a metade deles e fotografá-los para mandar para a cede.

Eu vi quadros, tapetes, roupas, malas, livros, joias, sapatos, uma cama e um roupeiro desmontados e um móvel pequeno de três gavetas retangulares. E foi nele que descobri —por debaixo de uma das gavetas— que havia uma outra gaveta secreta que se abria por detrás, onde estavam duas pen drive guardadas.

Levo aos lábios o cigarro, sorvo o fumo antes de o soltá-lo para fora. Os meus olhos concentram-se nas fotografias que Hard vai passado ao poucos. Todas parecem ser de momentos normais e familiares, nada fora do parâmetro. Há alguma onde parece um Jackson novo, de cara fechada, mas retirando não há nada de especial. E pela primeira vez vi uma bebé rechonchuda, de olhos verdes, cabelos castanhos encaracolados a sorrir sentada no colo da irmã mais velha. Eva era um bebé fofo, feliz, com ar angelical e...o que é aquilo?

— Aumenta essa fotografia. — Peço, inclinando-me mais para a frente. Bruce assim o faz, focando mais no bebe que devia ter um ano e pouco. A parte facial do rosto da criança, do olho para cima parecia um...

Aquilo é um hematoma?! — Hard conclui o meu pensamento num sussurro baixo e alarmado, focando mais na parte negra, amarelada e avermelhada da cara de Eva. Pode haver duas explicações para o que estou a ver; uma pode ter caído e magoando-se sozinha, sendo que naquela altura já deveria andar. É normal uma criança cair enquanto brinca e magoasse. A segunda explicação, que me está a fazer doer o coração só de pensar e de imaginar, é de que alguém pode ter feito aquele hematoma a um bebé inocente, que não se sabe explicar corretamente para apontar o dedo a pessoa que lhe fez aquilo.

De repente, sou puxado para uma memoria anterior.

Noah amava a minha mãe. Dizia-lhe isso quase todos os dias e Jackson parecia não gostar da atenção que Noah dava a mulher que entrou na vida deles. Acho que dos dois o único que ficou satisfeito com a chegada da Serena e a minha foi Noah.

PERIGOSAMENTE TENTADORWhere stories live. Discover now