Talvez eu tenha muita raiva acumulada, e essa espécie de luto pela nossa família nunca vá acabar. Ver meu pai triste, meu irmão revoltado e isolado é o que mais me irrita. E eu sinceramente não sei o que fazer com toda essa coisa acumulada.

— Jimin! — ouço alguém me gritar, então me viro. Ah, não!

Vinham três garotas em minha direção, a do meio tentando se esquivar e sussurrando algo para as outras duas, como se estivesse implorando. O típico trio, as duas amigas que obrigam a outra a se confessar. Mas, ao longo dos anos, depois da puberdade, percebi como perdi totalmente o interesse em romance e sexo.

Ver como meu pai era apaixonado e tentava, de todas as formas, fazer minha mãe feliz, para não receber nada em troca, nem o direito de saber que, para ela, estava acabado, provavelmente foi o fator decisivo para isso. Não tive nenhum namoro, envolvimento, e minhas vontades eu controlava sozinho. Percebi rapidamente como as pessoas dão pouco valor à reciprocidade, querem vários e várias, mas são todas vazias. E talvez seja ainda pior tentar se preencher com outra ou outras pessoas.

Com meus amigos, Yoongi e Hoseok, me dava bem, eles me ajudavam a me distrair, mas com o restante nem sempre conseguia. Acabava fechando a cara para todo mundo e me fechando em meu próprio eu, mas, mesmo assim...

— Jimin, Eliza tem uma coisa pra te falar! — Alguém se interessava por mim.

— Claro. Pode falar — falo com educação. Meu pai sempre me ensinou esse tipo de coisa: não levantar a voz para as pessoas, não responder a ninguém com ignorância, escutar. E eu via esse comportamento nele, então não foi difícil copiar. Sempre andei com Jihyong Park para cima e para baixo, desde pequeno, e nunca o vi olhar nenhuma outra mulher além da minha progenitora, nem assediar de nenhuma forma. Sobretudo, era regra respeitar as escolhas das pessoas, defender esse tipo de ideal.

— É... — ela começa, vermelha feito tomate, tentando olhar para as amigas que saíram correndo, se escondendo atrás da pilastra e deixando a pobrezinha sozinha comigo. Cruzo os braços, e ela pula no lugar só por causa disso. O que ela achou? Que eu ia, sei lá, bater nela? Parecia assustada como tal. — Eu... eu... — Ela não para de encarar as amigas, que estão rindo, e isso me tira um pouco do sério.

— Pode falar. Quer ir a outro lugar mais reservado pra isso? — pergunto, oferecendo meu braço para ela. As outras estão longe, não escutariam nada, e eu teria privacidade para falar com a tal Liza em paz.

Ela arregala os olhos, aceitando sem demora e, assim que chegamos ao fim de um dos corredores, ela se solta, abaixando a cabeça.

— Você já sabe, não é? O que eu vim falar — diz com a voz baixa.

— Talvez não saiba. Se quiser falar...

Ela se remexe no lugar, vermelha e sem jeito.

— Não, tudo bem. Obrigada por ter disfarçado. Elas são...

— Eu entendo.

— Eu sei que você não namora, não fica com ninguém, eu só...

— Tudo bem. Mas você me entende também, certo? Não estou aberto pra me envolver. Tenho certeza de que vai achar alguém interessante — falo.

Ela sorri, se curvando, com o rosto ainda vermelho.

— Me desculpe.

— Está tudo bem — falo.

Nós nos despedimos amigavelmente e, em um instante, estou sozinho. Eu me concentro em ir estudar para as provas, porque sabia que não dariam moleza a mim. Minha mãe me causou problemas em algumas reuniões, aparentemente era amiga íntima de alguns maridos por aqui. Não sei o que havia entre eles, se era apenas amizade ou não, mas, desde então, minhas notas estranhamente caíram.

De pernas pro ar | REPOSTANDO CORRIGIDAWhere stories live. Discover now