- Amanhã é sexta, né? – ele fez uma cara concentrada. – Desculpe, tenho compromisso.

O sorriso da garota fraquejou por um momento.

- Talvez sábado? – ela insistiu.

- Sábado eu tenho... – ele olhou para o gelo, depois para mim, depois para a garota.

- Tem o que? – ela semicerrou os olhos.

- Um encontro. – ele falou, abrindo um sorriso. – É. É isso. Eu tenho um encontro com... Com a Lizzy! – apontou para mim.

Ela se virou na minha direção, fuzilando-me com o olhar. Minha única reação foi piscar várias vezes. Lentamente, concordei com a cabeça.

- É. Um encontro. – falei, entendendo o plano para se livrar da garota.

Ela se levantou e trombou com força no meu joelho ao passar por mim. Segui a garota com o olhar até ela sumir de vista.

- Bom plano. – elogiei.

Jonathan riu.

- Estava mesmo pensando em ir ao cinema ver um filme que parece ser bem legal, mas os caras estarão ocupados. – ele deu de ombros. – Se você não tiver planos, o que acha de ir comigo?

- Fico feliz de saber que sou sua última opção. – brinquei.

Pouco depois do almoço de sábado, Julie apareceu na minha casa com uma maleta de maquiagem, alegando que precisava me arrumar para o encontro.

- Não é um encontro. – discordei, subindo as escadas para o meu quarto. – Só estou indo porque ele não tinha outra companhia e eu não tinha nada melhor para fazer.

- Liz, não seja tola. – ela fechou a porta do meu quarto e me encarou, como se eu fosse uma criança ingênua. – Ele conseguiria uma companhia num estalar de dedos. Além disso, você falou que ele deu o fora em outra garota.

- Isso não tem nada a ver.

- Por que mais ele faria isso, então? – ela cruzou os braços e me encarou. – Poderia ter saído com ela ao invés de ter te chamado, não é mesmo?

Revirei os olhos.

- A época das provas finais está chegando. Uma quedinha por um jogador é a última coisa de que preciso na minha vida agora. – argumentei, embora me sentisse feliz sempre que falava com ele. Amigos também sentem isso, lembrei a mim mesma.

Julie continuava me encarando, inabalável. Ela era tão teimosa quando queria!

- Vai me dizer que não acha ele nem um pouco bonito?

Pensei nos olhos castanhos, nos ombros largos e no sorriso bobo de Jonathan.

- Acho, mas...

- Discussão encerrada. – ela sequer me deixou terminar. – É um encontro.

Julie começou a me arrumar, escolhendo minhas roupas, penteando meu cabelo e me maquiando. Encarei-me no espelho quando ela terminou.

- Bom trabalho. – elogiei.

Ela escolhera uma jaqueta marrom, cachecol preto, calça jeans escura e um par de botas.

- Querem comer alguma... – mamãe entrou no quarto, mas parou ao me ver. – Não sabia que iam sair, meninas.

Antes que eu pudesse impedir, Julie abriu um sorriso e falou:

- A Liz tem um encontro!

- Ah, é? Com quem? – minha mãe sorriu.

- Não é um encontro. – suspirei. – É só...

Fui interrompida pela campainha.

- Deve ser ele! – Julie constatou, animada.

Descemos para a sala. Atendi a porta, enquanto as duas sentavam no sofá e fingiam agir naturalmente, conversando sobre reality shows.

Céus, como Jonathan estava bonito. Estava todo de preto - o suéter, a calça e o tênis, e seus olhos castanhos brilhavam. Lançou-me aquele sorriso bobo e senti meu coração acelerar. Ok, talvez eu tivesse uma quedinha por ele, mas isso não era um encontro.

- Vamos, então? – tentei agir casualmente, pois sabia que Julie e minha mãe me observavam atentamente. – Até mais tarde. – despedi-me das duas sem olhá-las.

O filme em questão que Jonathan tanto queria ver, era algum filme de ação com um enredo manjado e muitas cenas de brigas. Preferi focar minha atenção na paleta de cores, que, inclusive, era péssima também.

- Tommy disse que o fim do filme era surpreendente. – JoJo sussurrou no meio do filme.

O garoto começou a desenvolver teorias sobre o desenrolar da trama, enquanto eu apenas concordava com a cabeça e enchia minha boca de pipoca, fingindo ter prestado total atenção no filme.

Perto do fim do filme, constatei outra coisa: os figurinistas tinham a noção de moda de uma abóbora.

- Azul e verde limão não é exatamente a melhor combinação de cores, não acha? – sussurrei, apontando para o protagonista.

- Eu também não entendi. – Jonathan concordou.

Ele me encarou.

- O que?

- Sabia que você não estava prestando atenção. – abriu um sorriso.

Encolhi os ombros, num pedido de desculpas silencioso.

- Tudo bem. Podemos falar sobre cores que não combinam, se quiser.

Jonathan era irritantemente fofo.

Ao fim da sessão, JoJo me resumiu o filme, e eu comentei sobre a paleta de cores. Combinamos que da próxima vez eu escolheria o filme.

- Tommy estava certo quanto ao desfecho. – ele comentou. – Vou mandar uma mensagem para ele.

Enquanto ele digitava, notei a garota que tentou chamá-lo para um encontro há alguns dias durante o treino.

- Ei. – cutuquei-o e apontei para ela.

- Droga. – o sorriso dele desapareceu.

Ela caminhava em nossa direção, acenando. Se ela começasse a dar em cima dele de novo, eu vomitaria em cima dos dois. Jonathan parecia desesperado, olhando de um lado para o outro, como se buscasse uma rota de fuga. A garota estava cada vez mais perto.

Tive uma ideia.

- Rápido, me beija.

Confuso, Jonathan me encarou por um instante, antes de entender o plano.

Forjamos um beijo, coloquei os braços ao redor do pescoço e ele segurou minha cintura, como se fôssemos um casal apaixonado. Meu coração acelerou, e me perguntei se isso acontecia com todos os beijos, mesmo que fossem de mentira como esse.

Quando nossos lábios se afastaram, a garota não estava mais por perto.

- Valeu... – ele estava corado. – É... Por isso.

- Sem problemas, JoJo. – tentei sorrir.

Sem nos encarar, começamos a caminhar para a minha casa.

- Acho que agora ela me deixa em paz. – Jonathan quebrou o silêncio.

Eu sorri, sem saber o que responder. Mesmo forjado, tinha sido um beijo e tanto.

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