3 - Corrida contra uma mochila na Europa

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Quando fui me dar conta já era 2018 e a Copa do Mundo iria acontecer na Rússia que não era longe de onde eu morava no Vietnã. Mas esse não era o único motivo que me deixava na obrigação de prestigiar a Seleção, também pesava o fato de que eu ganhei o mundo logo antes da Copa de 2014 que o Brasil sediou. Sem falar que eu também estava confiante que a gente ia levantar a taça e queria ser parte do esforço pela sexta estrela.

O meu plano era iniciar a jornada me hospedando na casa da amiga Kempa na Finlândia e de lá fazer o meu caminho até a Copa do Mundo no país vizinho.

Depois de uma escala de 1 dia em Kiev na Ucrânia, eu desembarquei em na capital da Finlândia, Helsinque. Estávamos tão ao norte do planeta que o sol não se pôs em nenhum dia, durante as três semanas da minha viagem. Eu nunca tinha a menor ideia de que horas eram, se era 3 da tarde ou da manhã, em compensação, as noites ensolaradas eram ótimas para aproveitar o máximo da viagem.

Ninguém na Finlândia parecia saber ou se importar que uma Copa do Mundo estava em andamento na Rússia, então imaginei que fosse fácil conseguir passagem até São Petersburgo, onde o Brasil ia jogar. Foi uma surpresa quando, na estação de trens poucos dias antes do jogo, eu vi torcedores de várias nacionalidades que estavam usando Helsinque como um hub para chegar à Rússia. Ao abordar uns brasileiros eu fiquei sabendo que eles haviam comprados as passagens pela internet, com meses de antecedência. Conclusão: pelos próximos dias, todos os ônibus e trens para a Rússia estavam lotados.

Eu estava muito decepcionado: como pude ser tão negligente em deixar para comprar os tíquetes na data da viagem? Desolado, eu me sentei na em frente de um restaurante com wifi para consultar o mapa da região, sites de empresas de transporte e buscar um plano alternativo. Muita coisa ainda tinha que acontecer antes de eu desistir. No desespero eu até pensei no caríssimo barco que saía de Helsinque para São Petersburgo, mas também estava lotado.

Eu acabei me decidindo por pegar um ônibus até a fronteira da Finlândia com a Rússia e de lá tentar a sorte pedindo carona. Eu nunca havia viajado de carona, mas ouvi histórias de amigos que tiveram boas experiências rodando o mundo dessa maneira. A Kempa me ajudou preparando um cartaz bonito onde podia se ler em Finlandês e Inglês que eu era um brasileiro tentando chegar a São Petersburgo.

A maior parte do tempo que passei na Finlândia foi bebendo e isso foi o que fiz até o momento de pegar o ônibus durante uma noite ensolarada daquele verão nórdico.

Viajar na Europa é muito mais difícil do que na Ásia em vários aspectos (preços, burocracia, etc.), mas ao menos por lá eu podia me comunicar bem usando inglês. Levando isso em conta eu pedi ao motorista que me deixasse no lugar que ele achava mais apropriado para que eu conseguisse carona para a Rússia. Ele se surpreendeu com o pedido, mas se esforçou para ajudar e se despediu com um efusivo desejo de boa sorte.

No início eu estava um pouco tímido ao pedir carona, mas depois de algumas horas eu só faltava pular na frente dos carros. Talvez por se tratar de um povo ser bem fechado, o dia todo passou sem que ninguém parasse para me ajudar.

Como o plano de chegar à Rússia naquele mesmo dia não estava funcionando, eu resolvi improvisar ainda mais e comecei a caminhar por uma estrada que atravessava ilhas em um lago enorme que vi no mapa. Eu nem tinha certeza do que estava procurando, mas foram muitas horas de caminhada sem nada encontrar. Já era tarde daquela noite ensolarada quando eu cheguei numa vila que parecia bem chique, eu achei que nem valia a pena perguntar o preço dos hotéis. Resolvi ir para o bar local e lá pensar nos meus próximos passos.

Eu estava tão envolvido na missão que não havia me dado conta, mas estávamos no feriado de comemoração do Solstício de verão, dia mais longo do ano. Depois daquela data os dias ficariam cada vez menores até que desapareceriam e a Finlândia iria amargar mais de um mês sem luz do sol. O bar estava lotado, todos pareciam bem animados e bêbados enquanto cantavam karaokê que é uma paixão local. Eu não imaginava, mas Ásia e a Finlândia tem alguma coisa em comum.

Não Mereço Coisa Cara: Perdendo Coisas em Grande Estilo pelo MundoWhere stories live. Discover now