-Olhei as embalagens e traduzi tudo pelo Google! -Ele revelou com todas as palavras enquanto eu descia do banco alto que havia do outro lado da cozinha e caminhava visando colocar meus braços em volta daquele pedaço de mal caminho. Olhamos um para o outro na mesma hora e não conseguimos conter as risadas, principalmente eu, ao imaginar Harry todo esse tempo digitando letra por letra para entender as embalagens francesas. -Foi um desastre, algumas coisas eu consegui perceber logo de cara, mas eu chutei nos temperos e contei com a sorte.

-Por falar nisso... -Frase que eu sempre usava para introduzir um assunto completamente diferente do anterior. -Você percebeu os arranhões enormes nas suas costas?

Passei a ponta do meu dedo indicador por cima de alguma feridas para tentar reparar se realmente eram reais e Harry grunhiu de dor. A maior parte estava apenas em alto relevo e com uma vermelhidão infinita, mas Harry declarava ardência mesmo assim.

-AMOR! -Harry quase gritou quando o abracei por trás ao mesmo tempo em que empratava o macarrão para nós dois. Dei um pequeno beijo no meio de suas costas, alegando que isso sararia quase tudo e voltei para o abraço.

-Obrigado por hoje. -Sussurrei tentando fazer com que ele continuasse parado ali depois de tentar ir para o sofá. Na verdade, eu apenas estava com vergonha de que ele visse meu rosto avermelhado enquanto falava isso. -Eu me senti muito especial.

-Mais do que você já é? -Se virou completamente para mim e colocou os braços em meus ombros.

-Mais do eu já sou!

-Eu também me senti a pessoa mais especial do mundo...

-Mais do que você já é? -Retruquei e tirei uma careta amigável de seu rosto. Nos beijamos rapidamente, Harry pediu para que eu colocasse os pratos na bancada e assim o fiz, pouco antes de passar no banheiro e voltar para o jantar improvisado.

A fome era tanta que mal havia espaço para falar e conversar entre uma garfada e outra. Harry deu sorte em relação aos temperos, exceto com um, que acabou sendo doce e completamente diferente do que ele procurava, mas que também acabou não sobressaindo no prato.

Parecia que meu corpo era como uma bateria de celular e carregava um por cento a mais em cada garfada. Naquele final, eu já estava me sentindo um ser humano novamente.

-Muito silêncio... Posso colocar uma música? -Harry esticou-se terminando de finalizar seu prato e, antes mesmo de qualquer resposta minha, pegou seu celular e começou a rolar seus dedos sobre a tela.

Por sorte ou talvez conhecimento de anos de convivência, ele sabia que eu adorava música em todos os momentos possíveis. Dito isso, uma música aparentemente suave e calma começou com seus instrumentais de fundo. Nenhuma voz soava e eu já consegui perceber que nunca havia a ouvido antes, mas mesmo assim continuava atento para ver sobre o que se tratava.

Olhei para cima e Harry se aproximava em pé ao meu lado, cantarolando nasalmente a letra da música e me encarando. Encarei ele de volta desconfiado daquela dancinha que seguia a batida e ele esticou a mão direita para mim.

-O quê? -Perguntei ainda terminando de mastigar, olhando e esperando que ele percebesse meus dentes ainda trabalhando e meu prato ainda com uma parte da refeição, mas ele continuou dançando aos poucos de um lado para o outro e com a mão ainda esperando minha resposta. Fazia muito tempo que eu não via filmes de princesas, na realidade, todas centenas de vezes foram com minhas irmãs mais novas e muita coisa aconteceu desde então para fazer com que eu não lembrasse muito bem das cenas imaginárias, padrões heteronormativos dos príncipes chamando as princesas para dançar. Minha memória não conseguiria comparar, mas eu havia acabado de ressignificar tudo isso quando Harry fez a mesma coisa. -Príncipe, não... Harry, eu não terminei de comer!

Uncertain Call - (L.S)Where stories live. Discover now