Capítulo VII - Morte Anunciada

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A casa foi evacuada. O silêncio era de morte, e aquele edifício tão nobre, mas completamente desocupado remeteu Emílio a seu primeiro dia de vampiro: teimava em parecer um enorme mausoléu, de tão fúnebre. A grande ironia ficava por conta do som ambiente. Enquanto eles se preparavam para a morte, o ar era tomado pelo Requiém em Ré menor, inadvertidamente composto por Mozart para o próprio funeral. Ao olhar para Eva, Emílio teve certeza de que queria viver. Queria estar com ela. Nunca, antes, ele desejara qualquer coisa com tamanha intensidade.

Eva, percebendo isto, pareceu compadecer-se pelo sofrimento do rapaz. Mas nada disse. Enquanto a Srta. Delacroix era Eva, era uma oficial a serviço. Não lhe cabia qualquer fraqueza humana. No comando da operação, ela dispensou Adão de vigiar Emílio. Encarregou-lhe, no entanto, de manter plena vigilância sobre o Sr. Lionel Giardini, que, pensativo, não parava de confabular algum meio de escapar.

A Lionel, pouco lhe importava se poderia provocar uma guerra. Ele morreria de uma forma ou de outra. Além do que, sua morte não seria mais certeza de evitar a guerra. Não se arrependia de nada que fizera. Vivera muito, e muito bem. Mas, começava a considerar que, talvez, pudesse viver mais se houvesse tido um pouco mais de cautela. "Prudência, dinheiro no bolso e canja de galinha jamais fizeram mal a alguém". E ele ignorara os três, pelos últimos duzentos e cinquenta anos, desde que se rebelara contra seu mestre. Nesta época, foi um dos que agitou a sociedade européia, e realizou ataques em todos os círculos sociais. Chegou a quase ser pego, muitas vezes, quando atacava quem bem entendesse, sem cuidado algum, e sorvia não apenas o sangue, mas também os fluidos do amor e da luxúria.

Ouviu-se algum ruído vindo de fora da casa. Era uma tarde nublada, mas sair da casa, ainda assim, era muito arriscado. O Brasil não é país para um vampiro. Pelo menos, grande parte do Brasil, onde o clima tropical e equatorial garantem altíssima incidência da peçonhenta luz solar. A maioria dos poucos que para cá vêm tem algum objetivo profissional ou alguma missão diante do Grande Conselho. Ou, mais comum, está fugindo. Ao ouvir o ruído, Eva recomendou que Adão se ocultasse, mas manteve a ordem de vigilância sobre o Sr. Giardini. Sem aceitar questionamentos, ela chamou Emílio para subir as escadarias.

Subiram, então. Emílio estava desconfiado. Algo havia de errado. Adão parecia muito resignado, como se tivesse certeza da morte iminente. Lionel, não parecia nem um pouco entregue à situação, mas aparentava estar amarrado a Adão, incapaz de se movimentar.

Lá em cima, a Srta. Michelle Delacroix despiu-se de Eva. E, logo depois, Michelle despiu-se, também, do Srta. Delacroix. Restou-lhe, apenas, a mulher, quase nada da vampira. Com um olhar cúmplice, ela o atraiu para um quarto.

— Eu estou prestes a morrer, e você tenta me levar à Suite Presidencial? Não acha que justo agora eu vou ter cabeça para...

— Relaxe, confie em mim...

Ela o puxou pelas vestes, e começou a despi-lo. Ele, até então seguro de que não seria capaz de se animar para nada, olhou-a nos olhos, estupefato. Foi mais do que o suficiente. Em segundos, estava pronto. Fizeram amor, como se fosse a última vez. Ora, seria, mesmo, a última vez!

Sobre a cama, Michelle mostrou-se em toda a sua esplendorosa beleza, lasciva, envolvente. Braços e pernas se confundiam no magnífico ballet de suas carnes. Emílio deixava-se dominar por aquela fêmea poderosa que o subjugara, enquanto suas próprias veias saltavam como fossem explodir. Quando as sensações atingiam o grau máximo, e ao júbilo infindável se assomava o momento do orgasmo, ela cravou-lhe os dentes na jugular. Por um par de segundos, ele sentiu uma dor lancinante torturá-lo. Não, ela não lhe cravara os caninos saltados, como pareceria óbvio esperar. Ela fincou-lhe os dentes incisivos uma força descomunal, e arrancou-lhe um bom pedaço do pescoço. Se houvesse sangue, lhe jorraria aos montes, com certeza.

Um Vampiro [conto inicial]Where stories live. Discover now