Estremeceu ao ouvir no mundo real o mesmo que o de seu sonho. Mas aquela voz conseguia distinguir, era a de Karla. Levantou um tanto trôpega, sua cabeça pulsava em pontadas dolorosas. Mas ignorou aquilo, precisava ir até Karla, precisava evitar que acontecesse ali o que aconteceu em seu sonho. Mesmo que não fizesse sentido, seu medo fazia com que se movesse.

Passou pelo corredor com pressa, enquanto andava os chamados agoniados e batidas na porta continuavam. Tentou abrir a porta, mas percebeu que esta estava trancada. Após se esforçar a procura da chave, achou esta dentro da geladeira.

Sem perder mais tempo correu até a porta tropeçando nos próprios pés. Abriu bruscamente se deparando com uma Karla assustada, parecia agitada e aflita. As duas se abraçaram com força, desesperadas por motivos distintos, mas ainda assim, desesperadas. Lauren apertava a mulher entre seus braços quase de modo doloroso, a imagem desta sendo sugada pela terra ainda lhe atormentando em pensamentos.

Ficaram por alguns minutos daquela forma, apenas garantindo que a outra estava segura. Corações batendo frenéticos, mas se amansando aos poucos como se soubessem que o outro ali tão pertinho, era o que precisavam.

-Você está bem?

Karla perguntou baixinho, bem junto ao pescoço de Lauren que se arrepiou com o calor em sua pele. Assentiu com a cabeça, não tinha certeza se conseguia se comunicar sem ter a voz embargada, era uma grande chorona, principalmente se tinha medo.

Ainda não entendia a profundidade de seu desespero com o sonho, era um sonho afinal. Mas tudo sobre perder Karla e Camila a deixava profundamente angustiada. Nunca esqueceria a resignação daqueles olhos tristes enquanto caíam, o pouco de esperança deixando os castanhos, para se entregar ao abismo. Ela havia sido a única esperança ali e falhou, na vida real não falharia.

Nunca foi do tipo corajosa, sempre era a primeira a fugir quando seus primos e irmãos tinham idéias malucas. Sua natureza era dada a evitar situações de risco e problemas. Mas com relação as irmãs, por algum motivo, era diferente. Sentia-se disposta a pular naquele abismo, se necessário. Essa vontade lhe era assustadora, mal conhecia as mulheres.

Não havia nada acontecendo, mas sempre foi muito sensitiva. Apenas sentia as coisas, sentia o ar pesado antes que algo acontecesse. Nunca soube com precisão explicar o que acontecia, e sempre procurou não dar muito atenção, mas sempre estava ali, aquela coisa em si, aquela percepção exagerada dos acontecimentos a sua volta.

Apertou mais Karla em seus braços, não sabia em que sentido a mulher estava se perdendo, mas a manteria a salvo. Manteria ela e Camila também, as duas já tinham seu afeto, acima de qualquer interesse, o tinham. Lhe despertavam essa coisa protecionista que nem sabia ter, sempre foi a que se escondeu atrás dos outros, mas com relação as irmãs, parecia que não era assim. Mesmo que fosse diferente, gostava daquilo, gostava de se sentir forte o suficiente para cuidar de alguém.

-Você estava gritando, me deixou tão preocupada.

A angustia na voz de Karla fez seu coração diminuir no peito. Não gostava da ideia de deixá-la tão preocupada. Passou as mãos pelas costas da latina em um gesto tranquilizante. Apenas ali, percebeu o quanto estava com saudades desta.

-Foi apenas um pesadelo, não se preocupe.

Karla assentiu, mas mesmo assim não a soltou. As duas pareciam compartilhar de uma ligação muito particular, muito intensa. Ainda abraçadas Lauren começou a puxá-la para dentro da casa e para mais fundo ainda em seu coração, para espaços ainda inabitados. A levou até o sofá, pois já sentia sua cabeça voltar a latejar e não queria desmaiar em cima de Karla, provavelmente a esmagaria.

SimbioseWhere stories live. Discover now