Capítulo 11 - A Ascensão da Assassina

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A elite de Soberania trajava véstias da mais fina costura. As famílias dos Doze Líderes da Elite transitavam pelo Salão Cerimonial, enquanto criados serviam bebidas e aperitivos. 

Ao fundo, um coreto construído especialmente para a ocasião servia como palco para músicos.

Sobre o trono, rei Solis admirava seus convidados. A preocupação escondida pelo semblante de gratidão. Ao seu lado, a rainha observava a festa com olhos de águia.

Satalles apareceu, sussurrando no ouvido do rei:

— As chamas foram contidas, vossa majestade. Os jornalistas foram proibidos de publicarem qualquer foto do incêndio.

— Eu não me importo com um cômodo consumido pelas chamas. Onde ela está?

— Meus guerreiros estão caçando-a por toda Soberania — disse Satalles.

— Ninguém mais entra na festa! Reforcem a segurança imediatamente! — Esbravejou o Rei Solis. Ele se serviu de uma taça de vinho, bebendo tudo num único gole.

Obedecendo a ordem de sua majestade, Satalles fez reverência. Deu meia volta, correndo pelo salão como um predador voraz. Na pressa, ele esbarrou em uma dama vestida de preto. Ele desculpou-se e seguiu adiante, sem suspeitar que se tratava de sua presa.

Luna se misturou na multidão; seus olhos felinos encaravam seu único alvo: o rei Solis. Embaixo do vestido de seda preto, uma adaga aguardava para roubar uma vida.

Disfarçando seus temores, o rei Solis convidou a rainha para uma dança.

— Eu não danço com monstros — murmurou ela, rejeitando o pedido.

— Mas, você se casou com um — disse o rei, com desdém. — Não apenas casou, você se tornou um. Seu arrependimento tardio não a faz melhor do que eu.

— Me castigo por isso todos os dias!

— Eu mantenho as coisas como são pela nossa sobrevivência, Caelis — disse o rei. — É por isso que nosso povo ainda vive. É por isso que nossa cidade ainda está de pé.

— O custo para isso é muito caro, não acha? — sussurrou a rainha.

— Você está viva, minha querida. A Máquina permitiu que você vivesse todos esses anos em segurança, com luxo. — O rei beijou a mão da rainha, sorrindo para ela.

— Você me vigia todos os dias. Colocou Satalles no meu encalço, para me observar dia e noite — falou ela.

— E ele fez um bom trabalho. Graças a ele, descobrimos que o incêndio no seu quarto fez uma vítima — revelou o rei.

— Quem você matou? — murmurou a rainha.

— A sua governanta. Como ela se chamava mesmo? Insli? Parece que ela era muito leal a você, minha rainha. Infelizmente, Satalles teve trancá-la no quarto. Ele aguardou os gritos dela cessarem para apagar o fogo. Você também poderia estar morta. Teve sorte de não estar em seus aposentos quando o fogo se alastrou ontem— disse o rei, a voz carregada de sarcasmo.

A rainha sentiu ele apertar sua mão, quase quebrando suas juntas. Ambos se encararam, segredos silenciosos se revelando numa troca de olhares.

— Você vai me matar? — indagou a rainha.

— Talvez você já esteja morta — respondeu o rei.

— O que quer de mim?

— Onde ela está? Me diga onde está a Luna — ordenou ele.

Os convidados dançavam pelo salão sem suspeitar de nada. Luna se aproximava, pouco a pouco. Seus olhos miravam o alvo da adaga.

— Vou repetir uma última vez: Onde. Está. A. Minha. Salvadora? — Sussurrou o rei apertando com mais força a mão de sua rainha.

— Ela não será mais chamada assim, meu rei — murmurou a rainha, sorrindo para ele.

Luna sacou a adaga, pronta para o bote. No entanto, uma Alba de vestido lilás gritou ao ver a lâmina. O rei se levantou, assustado. De repente, o salão tornou-se um alvoroço. As pessoas se afastavam assustadas, enquanto Luna corria para matar o rei.

Com um só golpe, Satalles arrancou a adaga dela e a esmurrou na face, fazendo-a sentir gosto de sangue na boca. Dois guerreiros surgiram, derrubando violentamente Luna no chão, disparando chutes e murros.

A rainha permaneceu quieta, sem esboçar reação. O rei ao seu lado, seguro. Algumas pessoas corriam para fora da festa, outras assistiam a grande Salvadora do Rei, que tentou matá-lo, ser contida. No chão, desfalecida, Luna viu um riso de satisfação no rosto de Satalles.

— Achou mesmo que eu permitiria isso, sua Hyacinthum imunda? — desdenhou Satalles.

— Você nunca foi meu guia. Era o meu vigia! Sinto muito em lhe informar, Satalles, mas você falhou — guinchou Luna. Um sorriso macabro nos lábios. — Como você disse "eu sou uma Hyacinthum incomum".

Ela mordeu o braço que a pressionava contra o chão, depois mirou sua cabeça na boca de um guerreiro. No contra-ataque, Luna se desvencilhou dos braços que a seguravam e apanhou a adaga, arremessando-a longe.

O mundo pareceu fluir em câmera lenta. O objeto pontiagudo girou pelo ar, acertando em cheio o peito do rei, que caiu para trás em cima de seu trono. Solis lançou um último olhar a sua assassina, antes que sua alma partisse desse mundo. Luna se ajoelhou, sentindo o peso dos seus atos.

Gritos ecoaram por todos os lados. Segundos depois, uma escuridão repentina mergulhou o Salão Cerimonial num inferno. Todas as luzes foram apagadas, arrancando berros dos convidados. Aproveitando o breu e o pânico, a rainha arrancou a adaga do peito do seu falecido marido. Correu em direção as lamúrias de Luna, erguendo-a do chão.

— Temos somente alguns segundos. Você não sairá daqui com vida, Luna. Só há um jeito de continuarmos o que começamos — sussurrou a rainha, passando a adaga para a mão de sua aliada. — Use-me para chegar até a cidade Celestial. É lá que tudo isso vai acabar. Só você pode fazer isso! Eu tenho fé em você.

Quando as luzes se acenderam, os poucos convidados que restaram e os guerreiros que ainda estavam ali, depararam-se com uma nova ameaça: uma adaga prestes a perfurar a veia jugular da rainha Caelis.

— Tragam uma carruagem ou ela morre! — Esbravejou Luna.


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