Capítulo 7 - Verdade Anacrônica

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— Parece que eu errei ao retribuir com um festejo — disse o rei.

Ele a encarou de baixo para cima. Aquele gesto de afronte o deixou perplexo.

— Eu salvei a sua vida — desafiou Luna. — Meus familiares são a minha vida. Sem eles me sinto à beira da morte. É sua vez de me salvar, vossa majestade.

A garota arriscou tudo naquele instante. O Rei Solis olhou para o horizonte com uma expressão enigmática. Luna manteve o olhar firme, encarando-o.

— Você é corajosa, Luna. — O rei a olhou de volta, uma expressão indecifrável. — Sua valentia a torna uma Hyacinthum incomum.

— Eu já ouvi isso.

— Reservarei um tempo para ponderar seu pedido, minha salvadora — declarou o rei.

Luna deveria ter pulado de alegria, mas não fez. Ela não acreditou numa só palavra dita pelo rei. Antes que ele a deixasse sozinha, ela interveio:

— Meu rei, tenho uma pergunta. Acredito que possa responde-la.

O rei gesticulou para que ela continuasse.

— Vossa majestade sabe o paradeiro de um Hyacinthum conhecido como Dominus? Viktor Dominus? Ele é um mestre.

— Conheço todos os agraciados pelo Passe, Luna — contou o rei. — Ninguém chamado Viktor Dominus chegou a Soberania.

Rei Solis retornou ao castelo. Luna ficou ali no jardim com outro ponto de interrogação piscando em sua mente.

*****

Luna ainda tinha duas horas antes que lhe fosse servido o banquete daquela noite. Correu até seu quarto e apanhou algo que estava escondido atrás de um criado-mudo: a fotogravura de Mestre Dominus. Ela ouviu algumas empregadas sussurrarem que o guerreiro Satalles passaria a noite em uma reunião com o rei e seus subordinados.

Sem a devida permissão, a garota Hyacinthum saiu para as ruas de Soberania, ocultando seu rosto em um manto encapuzado. Ela visitou armazéns, lojas, comércios, praças, encontrando apenas Albas.

Indo mais distante, Luna vislumbrou a construção férrea do trajeto d'O Elevador, que seguia para o alto, rumo a Cidade Celestial. Enormes tubos de ferros desciam lá de cima, se conectando com Soberania. Mesmo ali de baixo, era possível vislumbrar traços da construção que flutuava quilômetros acima de Soberania. Naquele momento, Luna imaginou como seria viver entre os Evoluídos.

Retomando sua busca, os passos de Luna a conduziram para uma área menos luxuosa de Soberania. Ali estava uma Hyacinthum coberta de sujeira, carregando um amontoado de sucatas. Aproximando-se, cautelosa, Luna mostrou sua face.

— Você não pode falar comigo, garota — murmurou a mulher, olhando para os lados, como se temesse algo.

— Sou uma Hyacinthum também — falou Luna.

— Mas, você é diferente. Você é famosa — disse a mulher, se afastando. Luna a contornou, bloqueando o caminho.

— Está assustada. Você está com medo de mim. Por qual motivo? — indagou a Salvadora do Rei.

— Me deixe em paz — implorou a Hyacinthum.

— Vamos fazer um acordo. Apenas me responda uma coisa. Prometo que irei embora assim que tiver uma resposta.

A Hyacinthum concordou, apesar do nervosismo. Luna retirou a fotogravura de seu bolso, mostrando a imagem do Mestre Dominus.

— Você conhece este Hyacinthum? Sabe onde ele está? — indagou Luna.

— Eu te levo até ele e você finge que nunca falou comigo! — A Hyacinthum respondeu, amargurada.

A lua já estava surgindo no céu estrelado quando as duas Hyacinthums chegaram em um Templo Espiritual.

— É aqui o lugar! — Disse a Hyacinthum para Luna. — Pela fotogravura que me mostrou, o encontrará aí dentro. — Antes que Luna fizesse outra pergunta, a outra Hyacinthum seguiu para longe.

Ainda preocupada em ser reconhecida, Luna adentrou no recinto, se esforçando para manter o sigilo. O templo possuía um teto abobadado, a iluminação era fraca, proveniente de velas espalhadas pelo ambiente. Por todo o local, placas de prata se erguiam do chão, com fotos, nomes e datas esculpidas sobre a superfície prateada.

Alguns albas estavam ali, orando. A Salvadora do Rei andou pelo local procurando por seu mestre. Mas, Dominus não estava ali.

Quando um pressentimento ruim turvou a vista dela, a verdade pareceu rir em sua cara. Desesperada, Luna olhou placa por placa a esmo. Foi quando ela se deparou com uma foto. O nome e a data estavam cobertos de poeira. Com as mãos trêmulas, ela limpou o pó, revelando o que estava esculpido:


Helber Vincent Persona

Morto no ano de 7525

1º Guerreiro Real de seu regimento. Um Alba honrado e corajoso.


Apesar de outro nome, a placa possuía a foto de Dominus, falecido dois anos antes do nascimento de Luna.

Ela sentiu o chão sob seus pés se dissolver como fumaça.

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