Lego House

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POV Camila

Minha família quer que eu vá ver um psicólogo, eu também acho. Minha mãe diz que eu preciso conversar com alguém sobre tudo que aconteceu mesmo que não seja ela. 

Veja bem, não é que eu não queria conversar com a minha família sobre tudo, eu só não quero que eles me olhem e apenas vejam tudo que eu fiz. Enquanto eu não falar, serei apenas a mesma pessoa de antes para eles, e não a pessoa que me tornei, a pessoa que fez todas aquelas coisas nojentas, a pessoa que tenta viver mas está morta.

 Quanto mais esperanças temos, pior é, não quero que eles tenham esperança que eu volte a ser uma pessoa normal, porque nunca mais serei. Mas estou tentando. 

Conheci Lili no mesmo dia que fui na Dominque's, e ela tem sido uma boa amiga assim como KJ, todo dias eles vem em casa e ficam por um tempo, mesmo que eu não fale nada só de estar ouvindo eles já é um bálsamo. KJ também me acompanha ate a Dominque's, todos os dias pelas últimas duas semanas. 

As últimas  duas semanas tem sido as melhores semanas da minha vida. Completei meus 25 anos e nesse dia conheci Madelaine,Vanessa e Barbara, elas são divertidas, jovens e alegres, me deixaram a vontade e não fizeram muitas perguntas. Nesse dia meus pais trouxeram um bolo, minha mãe fez brigadeiros e cantamos parabéns, foi um momentos realmente feliz onde nada mais na minha vida tinha valor além daquelas pessoas ali.

É bom estar com todos eles, mas não posso começar a conversar sobre tudo. Talvez com Lili, mas ainda sinto que não é o momento, ainda não consigo me abrir com ninguém e isso fica martelando na minha cabeça sem parar, me deixa com raiva, é como se eu sempre estivesse com raiva de tudo e de todos, mesmo quando estou sorrindo e conversando ainda sinto raiva. Sinto raiva porque eles fizeram todas as coisas que eu sonhei e não tive, e é errado, ninguém tem culpa do que me foi tirado além daqueles que tiraram. 

O único momento que não sinto raiva, é quando KJ chega com seu violão, ele toca e eu canto. Tenho aprendido muitas músicas novas, estou repreendendo do que gosto e do que não, e ele me ajuda tanto. 
- Hey, Cami. - Dylan coloca a cabeça para dentro do quarto e paro de pensar em Kj - vou na loja do KJ … quer ir?! 
- Vai fazer o que lá? - perguntou interessada? 
- Curiosa …. Quer ir ou não? 
- Quero. - empurro as cobertas de lado e me levanto - é longe? 
- Não, mas vamos de carro porque não gosto de andar. 


Me arrumo da melhor forma que posso, diria que fico até bonita embora não me ache nada atraente. Só preciso de ajuda com o cabelo porque ainda estou com a maldita tala que coça como inferno. Quando estou pronta saiu e entro no carro onde Dylan já me espera. O caminho é rápido, mas ao lado contrário do que faço sempre para ir até a loja de bolos. 

Reconheço na rua, o lugar, a árvore na qual tentei me segurar,  e um dejavu me pega de surpresa, seguro firme na porta do carro e digo a mim mesma que estou segura. 
- Foi aqui. - digo em voz alta - bem ali naquela árvore que eu percebi que não tinha cachorro nenhum.
- O que? - Dylan parece surpreso, sua voz sai quase sem fôlego - o que foi aqui, Cami?! 
- Que ele me pegou. - passamos reto pela árvore e meu coração continua martelando dentro do meu peito, parece que vai quebrar minhas costelas - estava voltando da escola por aqui … - apontei a calçada que passava sem parar pela janela - …. E um garoto veio na minha direção, ele disse que tinha atropelado um cachorro e precisava de ajuda, e eu fui - Dylan continua calado e não olho em sua direção - quando chegamos naquela árvore não vi cachorro algum, só um carro com a porta aberta, perguntei do cachorro e ele falou que tinha colocado dentro do carro, tinha um outro cara lá dentro, na parte de trás  - Dylan faz um barulho estranho mas continua sem falar nada - tentei ir embora mas ele me agarrou, lembro que depois pensei que ele era mais forte do que parecia, tentei segurar na árvore … obviamente não consegui, ele me enfiou no banco traseiro e o cara segurou minha cabeça para baixo enquanto eu lutava … eu lutei, Dylan, juro que lutei, mas ele era forte e eu fui ficando sem ar e apaguei. Eu lutei, Dylan …
- Eu sei. - o carro para e sinto meu irmão tocar meu ombro - olha pra mim - me viro devagar e dou de cara com seus olhos claros e gentis - ninguém acha que você não lutou, Cami, ninguém pensa que você foi de boa vontade, nunca pensamos isso … sempre soubemos que você tinha sido levada - ele segura meu rosto e seca minhas lágrimas - nunca pense o contrário, ok? Você lutou, você sobreviveu e voltou, é tudo que importa.

Stolen Life (Repost)Where stories live. Discover now