Turbilhão de Pensamentos

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-Olha, não me leve a mal sabe? Mas somos amigos e você é noivo. Não quero trazer problemas para você, e para o seu relacionamento. E também não quero criar expectativas além da minha realidade, eu espero mesmo que você entenda. - falei sendo muito sincera, mas, com o coração apertado. 

E não deixava de ser verdade, eu realmente não podia aceitar aqueles elogios sendo que não eram reais, eu realmente não podia gostar de alguém comprometido, era um erro, um erro bem feio e grave, Peter assentiu, mas de repente tudo aquilo deixou de fazer sentido, e mesmo nós dois nós esforçando para levar o assunto em diante e esquecer que aquilo havia acontecido, não dava mais. Infelizmente, algo ali havia se rompido, e para confirmar ou melhor, para piorar a coisa, sua noiva ligou pedindo que ele voltasse para casa. 

-Muita coisa antes do casamento sabe? - disse ele quando estávamos estacionando o carro em frente ao meu prédio. 

-Tudo bem, eu entendo. - e beijei a sua bochecha. 

-Olivia? - falou ele segurando a minha mão. 

-Sim Peter? - falei baixinho. 

-Obrigada por ser uma amiga tão incrível! - o mundo desabou nas minhas costas, o peso daquelas palavras realmente me forçaram a aceitar a minha realidade, ele nunca teve segundas intenções comigo, para ele, eu era apenas uma amiga e estava tão óbvio isso, e eu tonta não quis acreditar!. Engoli a seco e respirei fundo e respondi:

-Obrigada você também, por ser um grande amigo. - e sai do carro disposta nunca mais prestar aquele papel novamente.

O porteiro novamente me conduziu até o elevador, sempre cordial. Mas, de repente, eu não me sentia mais eu mesma.  

Cheguei no meu apartamento exausta, e frustrada e triste,minha mãe abriu a porta do quarto e veio ao meu encontro:

-Liv, como foi? Chegou cedo. - falou ela. 

-Pois é, nada divertido. - falei com os sapatos nas mãos ainda. 

-Puxa que pena, tome um banho e descanse. Quer ajuda? - falou minha mãe já fazendo menção de ir para o meu quarto e pegar as minhas coisas. 

Respirei fundo aquela mania que ela tinha só estava atrapalhando tudo, me deixando sufocada dentro de casa.

 sufocada....

Era exatamente aquilo que eu me sentia no momento, eu estava extremamente sufocada. Eu precisava respirar, ter um tempo de paz. 

-Mãe! Eu não sou mais criança. Sou apenas cega. - falei tentando manter a calma na voz. 

-Só cega? Olívia você é cega e para de ficar fingindo que não é. Será que não deu pra entender isso? Você fica fingindo que não precisa de ajuda,que é independente, mas olha só para você!. Até quando vai ficar fingindo algo que não é, você não enxerga mais Olívia, está cega. Não tem capacidade de fazer nada. Absolutamente nada! - e ela falou com voz séria mas eu sabia que havia lágrimas no rosto dela. 

Havia lágrimas nos meus olhos também...

Então era isso? Eu estava fingindo ser normal? Ignorando o fato de eu enxergar? Então era isso? Então ter liberdade era isso? Querer fingir a minha situação.

Minha mãe deu as costas, eu podia sentir o peso de cada movimento dentro dela, o peso da raiva, o cheiro dela, era um cheiro de fogo, era cheiro de lava, era cheiro de enxofre. Então era isso que as pessoas exalavam quando estavam bravas e com raiva, elas exalavam a fogo.

Conquistando o InfinitoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora