Capítulo 8

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Ajudei a tia a limpar o pátio (pelo menos me livrei da aula), mas por dentro morria de medo. Como aquela peça foi parar no meu casaco?

⸺Você se sente bem agora? Quer que eu ligue para os seus pais? –a coordenadora perguntou. Balancei a cabeça.

⸺Não, obrigada... Falta pouco para liberarem. Eu só quero um remédio.

⸺Mas não é bom voltar sozinha. Seus irmãos estão aí?

⸺Não... Saíram cedo, a professora faltou... –pensei depois na Debinha, mas ela havia dito que iria depois ao médico.

⸺Ah... Já sei! Ali... Vem cá, Anthony! –Não! O bendito zanzava no corredor! Era tudo que eu não queria. ⸺Anthony, você pode acompanhar a Sarah até em casa? Os irmãos dela já foram, você mora perto da casa dela? Vocês são amigos né? –não sei por que, mas o tom dela mudou nessa parte, acho que queria dizer outra coisa.

⸺É... Claro! Posso sim, eu moro mais ou menos, mas estou de bicicleta. –percebi que ele não respondeu a última pergunta e fiquei um pouco triste. Ele foi pegar suas coisas e depois fomos.

Andei cabisbaixa até o portão mexendo na peça dentro do bolso, até que o bonito disse: ⸺Você não vai subir? –eu arregalei meus olhos. Deu vontade de falar "Você é crazy? Eu acabei de vomitar, isso vai me deixar mais enjoada!" Mas queria ir embora logo então aceitei e procurei uma garupa, mas não tinha! Iria que me sentar na frente dele! Meu coração acelerou e ele fiquei com vergonha. Ele riu baixinho e eu o fuzilei com os olhos.

⸺Vem, eu vou andar devagar, prometo. –respirei fundo e subi na bicicleta. Eu não sabia que ele era tão cheiroso. Ah, eu não devia ter aceitado ir com ele.

⸺Como foi a entrevista? Você não me disse nada. A minha mãe gostou de você, falou que você vai começar logo.

⸺Foi boa. –dei graças a Deus por estar na frente e ele não sentir o meu hálito que não era dos melhores.

⸺Hum... Você está chateada comigo?

⸺Não. Por que?

⸺Por nada.

⸺E... Você... –pigarreou. ⸺Você gosta de mim? –eu não acreditei que ele perguntou aquilo!

⸺O que? –desci da bicicleta no impulso e me ralei um pouco.

⸺Sarah! –ele parou. ⸺Por que fez isso? Tá doida? –ele foi para a calçada.

⸺E por que raios você me perguntou isso?

⸺Porque eu ouvi você falando com a sua amiga... –ele coçou as costas.⸺Deixa para lá, esquece o que eu te falei, ok? Vamos. –ele ficou sério e eu não consegui pensar em nada para responder. Me odiei por ter sido grossa, nem conseguia mais mexer na pecinha para me acalmar. A peça que havia me feito passar mal agora me aliviava. Vá entender!

Quando chegamos eu queria correr para o meu quarto e não sair nunca mais de lá. Juntei meu pouco orgulho e disse:

⸺Me perdoa, Anthony, eu fui grossa com você e você é um menino muito legal. A minha amiga só estava implicando comigo porque você é bonito. –ele abriu um sorrisão.

⸺Eu sou bonito?

⸺Você sabe que sim, fala sério! As meninas se jogam em cima de você!

⸺Menos... –sussurrou.

⸺Aí eu falei pro meu pai que gostava de você para ele esquecer um outro assunto. –ele se chegou para frente depois foi para trás.

⸺Que assunto? Me desculpa, não é da minha conta. Você não tá em nenhuma enrascada né? –eu olhei para as minhas mãos. A torre estava na mão esquerda. Uma lágrima caiu sem querer. Droga. Anthony me abraçou e eu não recusei. Estava precisando. ⸺Se quiser, não precisa me contar. Mas vou estar orando por você. Minha mãe disse que você estava procurando a igreja que a gente congrega.

De volta ao Brasil  (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora