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 Entardecia enquanto Juliana percorria o labirinto de vielas que era a Vila Nossa Sra. da Conceição na companhia de Johnny e foi inevitável fazer uma leve pressão no braço rechonchudo dele, estava claro que nem as indicações de Marlene eram suficientes para que ela se orientasse ali sozinha.

Mas Juliana não era medrosa e, embora as experiências passadas a deixassem mais cautelosa, não costumava recuar diante de um desafio. Era um traço de família, tanto ela quanto Guilherme tinham puxado ao temperamento da mãe. Ele era mais sério, verdade, mas essa era a única característica, além do magnífico porte físico, que ele havia herdado do pai. Antonin costumava dizer que a esposa tinha um gênio do Cão e que os dois tinham sido sortudos por serem filhos dele, que tinha ajudado a equilibrar a balança. Era brincadeira, claro.

Ao contrário do irmão, Juliana não possuía um só fio de cabelo da mãe, não do ponto de vista físico. Era branca, loira como o pai e tinha os mesmos olhos verde-lima que ele.

Em contrapartida, seu temperamento, quando a provocavam, era bem parecido com o de Cerberus, cão de três cabeças mais conhecido como "demônio do poço" que, segundo a mitologia grega, devorava qualquer mortal que ousasse se aproximar das profundezas do Mundo Inferior. Sim, nesse quesito, ela e a mãe eram iguaizinhas.

Era inegável que a iminência do encontro com Calango a havia deixado muito inquieta, mas ela não tinha gostado nem um pouco do semblante de Johnny ao se referir ao tal Mancha. E a conversa aparentemente amena do rapaz enquanto discorria sobre a ultrajante personalidade do tal sujeito só a deixava ainda mais apreensiva. Por mais de uma vez durante a caminhada, Ju tinha se perguntado se não estava cometendo uma loucura ao se meter naquele meio e com aquelas pessoas. Tarde demais teve a ideia de telefonar para Marlene e se aconselhar, sabendo que a decisão colaborativa tinha mais chances de ser a melhor, mas a voz de Johnny anunciando a chegada a dissuadiu.

— Olha ele ali — o diretor da ONG Arteminha apontou.

— É aquele? — Juliana indagou reconhecendo o homem que, próximo a uma motocicleta, conversava com uma mulher morena.

Era o mesmo que havia interrompido a conversa dela com Marlene na porta do motel. Não era do feitio de Ju julgar as pessoas, mas ela tinha um péssimo pressentimento sobre ele.

Enquanto se aproximavam, Johnny continuava a falar, mas Juliana já não prestava atenção e não fazia a menor ideia do que dizia o rapaz, centrada apenas na cena adiante, ou melhor, no homem de porte intimidante que conversava com a morena... Nos braços masculinos cruzados sobre o peito forte, nos músculos esculpidos e nas veias dilatadas sob a pele... Nos jeans escuros abraçando as pernas longas e fortes... No físico fantástico de... Grrrr... Juliana!

Quando estavam a menos de dois metros de distância do casal, sua proximidade foi finalmente notada. O sorriso no rosto do homem morreu, mas o semblante parecia afável enquanto ele os observava. Seu olhar parou por um par de segundos sobre Juliana e queimou, ela chegou a sentir um arrepio ao contrário. Existe isso?

Mas ele logo voltou a atenção para Johnny e se recostou à Ducati com gesto indolente. A morena ajeitou os cabelos longos parecendo fazer charme para o tal Mancha, mas se despediu ao não receber atenção e saiu pela estreita faixa de calçada.

"Não fala com mais ninguém, só com ele, tá?" — Ju voltou a recordar as instruções de Marlene, mas, se havia algo que tinha aprendido em poucos meses dirigindo uma empresa, era que tinha que tomar decisões. Já que o dono da boca tinha sido taxativo ao se negar a atendê-la, não restava alternativa senão seguir suas diretrizes, afinal era ele que mandava ali.

Os lábios do tal Mancha voltaram a se curvar, em um sorriso sacana dessa vez, e Juliana se perguntou que porcaria significava isso. Para seu próprio horror, ela achou o gesto extremamente sexy e, consequentemente, muito, muitíssimo mesmo, irritante.

Amores Bandidos DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora