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Alguns  dias depois de ser abordada pela loira desconhecida no ponto, Marlene se encontrava com ela em uma lanchonete perto da comunidade.

— Você quer o quê? — a garota de programa perguntou depois de ouvir Juliana, confusa sobre seu próprio papel na loucura que a loira propunha.

— Eu vou fundar uma ONG! — respondeu Juliana e, diante do silêncio que se instalou em seguida, perguntou. — Sabe o que é isso, né?

— Claro que sei, não sou burra — respondeu ofendida, pensando em Johnny, o rapaz de cabelo rastafári que dirigia uma ONG na comunidade.

Marlene queria perguntar que diabos ela tinha a ver com aquilo, mas se absteve; a ricaça estava pagando uma nota preta apenas pelo tempo desperdiçado naquela conversa, portanto era melhor ser paciente e estendê-la o máximo possível.

— Mas onde eu entro nisso?

— Você abriria caminho pra mim — respondeu a loira. — É claro que seria bem remunerada por isso — acrescentou com um meneio de mão.

Marlene começava a gostar do papo, a loira finalmente falava a sua língua. E depois disso a conversa fluiu.

A tal Juliana explicou que era bailarina e que pretendia, através da ONG, oferecer aulas de balé às meninas e mulheres da região, inclusive para aquelas que frequentavam o ponto de prostituição.

— Não acho que isso vai salva os "noia", mas se você quer...

O sorriso no rosto de Juliana se suavizou.

— Talvez eu não salve mesmo, Marlene — encolheu os ombros —, talvez aquelas mulheres nem queiram ser "salvas", mas mesmo assim eu preciso tentar e, além do mais, tenho em mente algo diferente. É claro que as portas estarão abertas para essas meninas e mulheres, as, ahn..."noia"? — Estreitou os olhos e Marlene assentiu. — Mas meu alvo mesmo serão as que ainda não entraram nessa, entende?

Marlene apenas inclinou a cabeça em silêncio, parecendo ainda descrente, e Juliana voltou a sorrir.

— E então? Topa me ajudar?

— Por que não, né? — respondeu a garota de programa encolhendo os ombros. — Não tenho nada a perder e... A grana vem em boa hora.

— Ótimo! — a loira comemorou aplaudindo silenciosamente, um sorriso simpático no rosto.

Marlene correspondeu curvando os lábios, enquanto acendia um cigarro, ignorando a lei municipal que proibia fumar em locais públicos.

— Acho que você pode começar me levando até lá — Juliana abanou a fumaça com uma mão e continuou. — Preciso reconhecer o terreno, procurar um local, arranjar voluntários, enfim... Mas não tem que ser hoje.

— Tá bom... — Marlene aquiesceu com um encolher de ombros.

— Eu ligo para você em breve para agendarmos uma data, pode ser assim?

— Pode, mas... só tem uma coisa... — Gesticulou com a mão que segurava o cigarro, desviando o curso da fumaça diretamente para o rosto da loira.

— O que é? — quis saber Juliana, ainda abanando o ar poluído.

— A coisa não vai ser assim tão fácil. Para montar a tal da ONG lá, você vai ter que falar com o Calango primeiro.

— Ah... — Juliana assentiu com a cabeça. — E quem é Calango?

— Ele é "O cara". Comanda a área. É dono da boca e das garotas também.

— Dono das garotas? — Ju piscou os olhos parecendo confusa, mas recobrou a objetividade rapidamente. — Você acha que ele seria um empecilho? — indagou e soltou um espirro.

Amores Bandidos DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora