Capítulo 14: Sim, Capitã!

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- Limpem o convés, seus cães sarnentos! – Brie gritava – Temos muitos mares para conquistar. Mexam essas bundas preguiçosas e soltem as amarras! Levantar âncora, depressa! Ou nunca mais verão a luz do dia.

A jovem Brie sonhava em como seria quando tivesse o próprio navio, sua tripulação, e navegaría os sete mares em busca de novas terras, que nunca haviam sido encontradas antes. No século XXI isso era bem difícil, mas não custava nada sonhar. A menina de descendência aborígene olhava para o grande navio, ancorado ao lado de sua casa, no Porto de Dublin, e via os homens trabalhando. Ela queria fazer parte daquele mundo e se perguntava:

“Por que será que não tem nenhuma mulher alí?”

- Também não importa! – disse ela, respondendo a própria pergunta – Se não houver nenhuma, serei a primeira! – afirmou.

A casa de Brie ficava bem do lado do porto, ela foi até bem pertinho da água e pôs-se a olhar o oceano. Aquela imensidão azul a fascinava de tal maneira, que seu coração ardia. Havia uma conexão entre ela e o oceano. Quando estava brava, bastava olhar para as ondas para que se acalmasse. Quando estava triste e o mar estava tranquilo, aquilo dava forças para sorrir. Quando estava alegre, o que mais gostava de fazer era passear pela praia, descalça, na beira do mar.

Isso quando não estava trabalhando em seu grande projeto, seu xodó, o amor da sua vida, o seu barco. Desde que era uma criança, seu sonho era navegar pelo mar em seu próprio barco. Seu pai era pescador e tinha o barco que ele, e o avô de Brie, havia construido quando era criança.

- Meu pai ajudou meus irmãos no barco deles, nada mais justo que me ajudar a construir o meu também – ela geralmente falava só. 

Sendo a mais nova de quatro filhos e a única mulher, ela era desacreditada de que algum dia seria a capitã de um navio. Seus três irmãos mais velhos, que já eram homens feitos, pescadores como o pai, e tudo mais, diziam que, se ela quisesse ter um barco, que fosse para ser pescadora e ficar só naquelas redondezas, onde era seguro.

- “O mar é intenso e imprevisível, irmãzinha, uma menininha doce e frágil como você não sobreviveria nem dois dias em alto mar. Se nem nós, que somos os homens da família, nos arriscamos, que dirá você?” eles falam, humpf – ela desabafava com a água – Mas é isso que torna tudo mais interessante, não saber o que vai acontecer. Eu quero viver uma aventura, ser desafiada, correr perigo, ter alguma emoção. É isso que eu quero ser, capitã do meu próprio navio. E desbravar essas águas. Vou provar que não sou frágil coisa nenhuma, posso aguentar o que vier. Eles vão ver do que uma "menininha doce" é capaz.

Ela olhava para o mar, naquele fim de tarde, e depois para o seu barco, quase pronto, nos fundos da casa. Sentia um “quentinho” no coração. O sol se unia ao mar, como um beijo apaixonado. Estava quase anoitecendo, Brie estava a ponto de entrar em casa para jantar, quando viu um carro se aproximando do porto.

Dele desceram dois garotos. Um era alto, cabelos como ébano, usava uma camiseta azul clara, jaqueta de couro preta e jeans escuro, carregava uma mochila nas costas. O outro ela conhecia bem, bem até demais. Loiro, mais baixo que o companheiro, usava apenas uma camiseta vermelha desbotada, uma bermuda branca surrada e também carregava uma mochila, mas parecia aquelas de acampamento, de tão grande que era.

Os dois pagaram o taxista e ele se foi. Olharam para o porto, ao pôr do sol.

- Ta vendo aquele navio gigante Garoto-da-Torre?

Raúl assentiu com a cabeça, maravilhado com a imensidão da embarcação, sem dizer uma palavra.

- Que bom que gostou, hehehe, mas não vamos para lá.

O Garoto da TorreWhere stories live. Discover now