Ela me encara, de olhos estreitos.

— Tá.

— Linda, nunca me decepcionou — falo, me levantando de onde estava abaixado e, então, ela e eu, como se fosse combinado, esticamos o corpo na escada, para espionar o inimigo no nosso território. — O que ele está fazendo? — pergunto, apertando os olhos, tentando limpar as lentes embaçadas pela chuva com a manga da roupa.

— Tomando alguma coisa quente que a mamãe preparou — ela responde, colocando as mãos nos olhos, como se fossem binóculos. Coitadinha, maluca igual ao irmão.

Não sabia que Jungkook tinha outros amigos.

— A mamãe tá sujando seu nome — ela notifica.

Bom, ele tem bons amigos. Eu acabei de chegar à escola.

— Ele está jogando os cabelos, enquanto fala — Hwasa informa.

— É, isso eu tô vendo — retruco, revirando os olhos. — É um conquistadorzinho barato, nem mães escapam dele — murmuro.

— Ele parece o príncipe Eric.

— Ele parece o quê?

— O príncipe Eric, da Ariel, bobão. Quando joga o cabelo assim.

— Claro que não, garota.

— Claro que sim. O que você sabe sobre filmes de sereias?

— Tudo. E sei que ele não parece o príncipe dela — dou corda.

— Isso é uma distração, ao invés de observar o inimigo — Hwasa aponta.

Jungkook e Hwasa, podem parar de fuxico na escada e trazer algo quente pra visita vestir? — minha mãe fala alto, e nós dois bufamos por causa da falta de profissionalismo dela. — Aliás, Jimin, você devia tomar um banho quente. Esse chá aí só aquece, não é medicinal, sua gripe pode piorar!

Ah, não, tudo bem, eu tomo em casa.

Em casa, no meio dos outros traficantes, mãe.

— Você é um conquistadorzinho barato?

Eu me viro mais rápido que posso, ao ouvir essa baboseira. A pirralha está ao lado da cadeira dele questionando, com o nariz arrebitado.

— Hwasa! — mamãe ralha, e a mais nova dá de ombros. — Filho, faça companhia a ele, e Hwasa, busque algo quente. Eu vou ao quintal pegar algumas plantas medicinais que sua avó mandou plantar na estufa. Aí, quando você tomar, Park, junto com um remedinho pra gripe, amanhã vai acordar curado! — a mais velha informa, abrindo um guarda-chuva e saindo para onde disse, sem dar chance de respondermos.

Encaro a baixinha, que me olha de volta e, discretamente — não, ela fez na cara dele mesmo —, coloca dois dedos em direção aos olhos e aponta para Park, ordenando que eu o vigie enquanto estiver fora.

Ele ri.

— Sua família é adorável — comenta, parecendo saudoso.

— Hm. Se com adorável quer dizer maluca e desarticulada, ela é sim — respondo, me sentando no único lugar além do ocupado por ele e nossas mochilas úmidas, ou seja, ao lado do Bandido.

Ele suspira, se virando minimamente para me olhar melhor.

— Está enxergando alguma coisa?

— Pouco, mas lavarei os óculos depois — digo, mas, mesmo assim, ele leva a mão até meu rosto, retirando a armação torta. Só consigo prestar atenção em sua mão, que ajeita meu cabelo e organiza os fios úmidos para trás, como fazia com os seus.

De pernas pro ar | REPOSTANDO CORRIGIDAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora