Part IV

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POV LENA

Uma boa parte dos clientes vem até a mim à procura de companhia, são solitários e carentes. E de certo modo meu serviço supri isso neles. Eu sou de Metrópolis, sou de origem humilde e me orgulho muito disso. Meu maior sonho quando criança era ser pescadora como o meu pai.

Mas, quando a gente cresce, preocupações vem... E meu sonho de ser pescadora foi para o ralo. Conheci uma garota, me apaixonei, enfrentamos tudo juntas e com o tempo a população foi se acostumando com isso.

Mas ela sempre foi tão ciumenta, quando disse que assim que terminasse o colegial, procuraria fazer uma faculdade, ela surtou. E ai começou o terror. Sofria chantagens, agressões psicológicas da parte dela, fora o ciúme que passava de todo e qualquer limite. Até que um belo dia, ela me agrediu fisicamente. Terminei com ela. Foi bem doloroso, afinal, meu plano era trazê-la para estudar comigo, e depois de formadas, voltaríamos e nos casaríamos.

Ela virou o capeta no meu pé, e no pé da minha família. Quando me formei, nem fui a minha formatura, então me mudei correndo. Praticamente saí fugida. Me mudei e consegui um emprego em um lanchonete, dava para me sustentar e estudar. Isso tudo com muita dificuldade. Até que meu pai sofreu um acidente de trabalho, caiu no mar, e um tubarão atacou suas pernas, foi um milagre ele ter sobrevivido. Porém ficou impossibilitado de pescar.
Minha mãe é mulher rendeira, sustentava a casa somente com o dinheiro das vendas de sua arte, aquilo não estava funcionando.

Até que meus pais decidiram colocar Maggie, minha irmã mais nova para trabalhar em um restaurante local na parte da noite. Uma garota de 14 anos, trabalhando a noite é extremamente perigoso e eu sei bem, como os velhos ficam ao ver uma mocinha de 14 anos sem um responsável por perto.

Eu não desejo isso para ela.

Então, na mesma semana me ofereceram esse tipo de trabalho. Eu precisava ajudar minha família, então aceitei. Nos primeiros meses foi algo difícil, chegava em casa chorando com nojo de mim. Sofri nas mãos dos meus primeiros clientes, a inexperiência de como lidar com toda a situação foi algo complicado, mas o tempo ensina.
Meus  pais não sabiam de onde vinha o dinheiro, creio que nunca desconfiaram. Mas minha ex, contratou um detetive aqui em National City. Não demorou muito para ela descobrir da minha vida dupla e espalhar a notícia na comunidade toda. Foi um momento bem tenso, meus pais não queriam nem mais contato comigo, e ficou dessa forma durante meses até que resolvi voltar até lá, olhar nos olhos das pessoas que eu mais amo no mundo e contar tudo, absolutamente tudo.

Não foi fácil, mas trabalhar com a verdade é sempre melhor. Claro que meus pais me amam, minha irmã que também sabe me ama e é muito carinhosa comigo. Eles sabem o que eu faço, mas nem por isso tocamos no assunto. Trabalho de quinta à sábado, e o que eu ganho dá para pagar minhas contas, ajudar minha família e ainda guardo para a faculdade de Maggie.

Domingo é meu dia predileto, fico largada em casa, com um pijama velho, assistindo series ou filmes. Eu tenho dois celulares, um só para meu trabalho, sempre desligo ele. Mas dessa vez esqueci. Havia uns clientes malas querendo me ver, ignorei. Fui olhar na minha lista do whatsapp e lá estava Kara. A frase dela do whatsapp é sempre a letra de uma música ou uma frase motivacional, dessa vez, só uma carinha de choro. Ok, isso é estranho, mas eu gosto muito dela, conversamos tanto sobre tudo. E ela é tão gentil comigo. Sempre fui contra a aproximação demais com clientes, mas sei lá, ela é diferente.

Eu: Oi

Kara:  Oi, Kieran. Tudo bem?

Eu: Sim, pelo visto você não. Quer conversar?

Kara: Hoje é aniversário de morte da minha mãe, esse dia sempre é uma droga.

Eu: Não fique em casa, vai sair. Conversar com seus amigos.

As I was before youKde žijí příběhy. Začni objevovat