Capítulo 10

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Se pesquisar no Google "traumatismo cranioencefálico", a maioria dos sites vai dizer que a amnésia seletiva é uma consequência. Quando há dano cerebral, não é incomum um paciente se esquecer das coisas. Mas não quero que as pessoas saibam que sou assim, depois de todas as consultas, todas as tomografias e todos os medicamentos.

O que me lembro do verão do acidente:
Eu e Tyler de mãos dadas.
Beijar o Tyler no sótão.
Conversar no sótão com meu avô.
O balanço de pneu.
Eu e Tyler abraçados.

Não me lembro de muita coisa.

Posso ver a mão de Tyler segurando um galão de gasolina. Nossos pés correndo pela casa até o jardim. E nós dois rindo a ponto de ficarmos enjoados. Mas o que era tão engraçado? O que era e onde estávamos? Não sei.

Eu costumava perguntar a minha mãe quando eu não me lembrava daquele verão. Meu esquecimento me estressava. Odiava não me lembrar de nada do que aconteceu. Eu sugeri parar com os remédios, tentar outro médico. Eu implorava pra saber o que tinha acontecido.

– Você me pergunta sem parar. Nunca se lembra do que eu digo. – minha mãe tinha começado a chorar.

– Me desculpa.

– Você começou a perguntar no dia que chegou ao hospital. Contei a verdade, Josh. Sempre contei. E você repetia pra mim. Mas no dia seguinte, perguntava de novo.

– Me desculpa. – eu disse de novo.

É verdade, eu não tenho lembranças do acidente. Não me lembro o que aconteceu antes e depois. Olhei para minha mãe. Para seu rosto zangado e preocupado e para seus olhos molhados de lágrimas.

– Você precisa parar de perguntar – ela disse. – Os médicos acham melhor você se lembrar sozinho.

A obriguei a me contar uma última vez e anotei as respostas para poder consultar quando quisesse. É por isso que consigo contar sobre o acidente quando fui nadar à noite.

Nunca mais perguntei nada a ninguém. Tem muita coisa que não entendo, mas prefiro ficar em silêncio.

ghost :: joshlerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora