16th july, 2010 (h)

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Leeds East Academy (Leeds - Inglaterra)

Harry estava sentado, com seu violão em seu colo, em um dos cantos pouco iluminados do Centro de Conveniências de sua escola.

Já era mais de seis horas da noite, o que significava que suas aulas já haviam acabado fazia muito tempo, e também que ele estava completamente sozinho ali para poder ensaiar sua música. Teria que acertar os acordes de uma vez, pois a apresentação para o festival que seria realizado na universidade associada contaria pontos para todas as matérias – e lhe ajudaria a aprender a lidar com públicos grandes, algo com o qual ele deveria se acostumar se quisesse realmente seguir sua carreira de cantor.

Estava treinando duro desde o momento em que pisou naquela escola, mas nunca achava que seu tom estava igual ao que ele escrevera no papel, ou que o som saia igual à música que ele escolhera.

Todos diziam que ele não deveria se preocupar tanto com aquele festival – “afinal você ainda tem só dezesseis anos, Harry” – mas ele queria fazer o melhor nessa apresentação para que soubesse que aquilo era para ele; que estava destinado a seguir seu sonho: escrever músicas e cantá-las, tocando seu violão e alegrando as pessoas fazendo o que ele mais amava.

Deixar as pessoas felizes com o que mais lhe fazia feliz.

O único problema era que a merda da música – música que ele achava ótima, mas ao mesmo tempo complicada de se aprender a tocar – não estava dando certo. Ficou frustrado principalmente porque ele não sabia o que estava dando errado, já que seu violão estava afinado, e ele estava seguindo os acordes de acordo com a cifra.

Olhou mais uma vez para a folha com as cifras.

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Tom: C# (acordes na forma do tom C)          

Intro: Am7 F7+  2x

Am7                             F7+

Lying here with you so close to me…

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Até ali ele havia entendido o que deveria fazer. Apenas começar com o tom C e escolher um ritmo, e ao tentar repetir o som das primeiras estrofes em seu violão, percebeu que o som ainda parecia incompleto, como se ainda faltasse alguma coisa.

Foi então quando ele percebeu que havia uma linha extra – que ele nem havia dado muita atenção  – no final da página, pois provavelmente ao copiar a cifra ele esqueceu que o detalhe era importante; a linha continha uma instrução: Capotraste na 1ª  casa.

Harry sentiu vontade de se bater mentalmente por ter se esquecido daquela parte. Era óbvio que, se a primeira casa estivesse livre, os acordes sairiam com sons diferentes.

Burro.

Ele improvisou um capotraste – pois o seu geralmente ficava em casa e ele não sabia se os diretores não considerariam aquilo “perigoso para o convívio entre os alunos” – com suas canetas e alguns elásticos. Sabia que aquilo parecia estranho, mas ele realmente precisava testar se sua música daria certo.

E deu.

O som, pelo menos da intro e uma parte da primeira estrofe, saiu muito parecida com a da música original. Harry teve vontade de chorar porque finalmente ele havia desvendado o mistério por trás da diferença entre o som de seu violão com o da música original. Ele sorriu para si mesmo e se sentiu orgulhoso, porque sabia que agora era apenas questão de decorar as cifras e treinar bastante tanto o ritmo quanto a letra da música.

Daria tudo certo.

Ele decidiu que continuaria ensaiando por mais algum tempo e ligaria para sua mãe buscá-lo se ficasse muito tarde.

Harry estava com a cabeça baixa encarando seu violão, sussurrando para si mesmo os acordes – numa forma de tentar decorá-los mais rapidamente – e passando os dedos pelas cordas de seu instrumento para apenas sentir a música e treinar o tom, diversas vezes repetidas.

Apesar de estar distraído em seu próprio mundo, o cacheado percebeu que uma das lâmpadas da frente da sala em que ele estava se acenderam.

O rapaz levantou o olhar rapidamente para ver quem havia o interrompido – e encontrado seu lugar secreto para ensaios – quando percebeu que tal pessoa era um menino que aparentava mais ou menos sua idade e que tinha uma franja. O outro garoto parecia totalmente abstraído da presença de Harry naquela sala, pois estava tirando algumas coisas de sua mochila e colocando próximo a ele.

Não era que Harry gostasse de reparar, ele apenas não entendia o que outra pessoa fazia naquela sala, naquela hora. Apenas ele ficava ali, porque sua mãe era colaboradora de alguma coisa na escola e ele podia ficar ensaiando até quando quisesse, já que era querido pelos diretores e professores.

O menino que havia entrado não estava usando uniforme, apenas uma calça diferente (talvez fossem joggings, Harry pensou) o que era estranho já que aquelas calças não eram muito usadas no ambiente da escola. O garoto ainda sem nome estendeu um pedaço de pano – ou um acolchoado, era difícil enxergar de longe – sobre o chão e se abaixou para se alongar. Harry então lembrou que aquelas calças eram especiais para uma coisa: dança.

Será que ele veio aqui para ensaiar alguma coisa pro festival, também?

thinking out loud; larryOnde as histórias ganham vida. Descobre agora