Capítulo II

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Às vezes ir à escola era um verdadeiro inferno. Eu me sentia perdido, deslocado. O esquisito, no meio de tanta gente completamente normal. Ah, como eu queria ser normal. Na maior parte do tempo, eu estava navegando nos meus próprios pensamentos, com meus fones no ouvido, e algum pedaço de papel onde eu costumava rabiscar alguma coisa qualquer.

De algum jeito, eu ainda conseguia me sair bem nas matérias, mesmo estando disperso quase que o tempo todo. E isso causava pequenos ataques de nervos em meus professores. Acho que eles torciam pra que eu vacilasse, só para poder jogar tudo isso na minha cara. Eu particularmente achava patético. Não via problema em me distrair um pouco, desde que cumprisse com os meus deveres.

Me deixei fugir um pouco mais em meus pensamentos, me lembrando de quando era mais novo. Me lembro da maneira com que eu achava que tudo funcionava. Eu achava que as nuvens fossem realmente feitas de algodão, e que quando chovia, elas estavam chorando. Claro, eu não chegaria a essa conclusão sem que tivesse lido em algum livro infantil aleatório, do tipo que se encontra em qualquer lugar por aí. Eu era um garoto ingênuo quando era mais novo. Talvez pelo fato de não ter tido alguém que me fizesse entender o mundo. Minha mãe, sempre trabalhando. Meu irmão, às vezes eu acho que foi melhor para todos nós que ele tenha ido atrás do nosso pai. Na verdade, acho que ele nunca gostou muito de mim.

Minha mãe sente falta dele. Todas as noites, posso ouvir quando ela lhe deseja uma boa noite, mesmo que distante. Mesmo com a incerteza de que ele está realmente bem. Eu gostaria muito de poder confortá-la. Sinto saudades, mas entendo que foi uma escolha dele, estar longe de nós.

Ouço chamarem meu nome, e vejo que a secretária está na porta da sala de aula, olhando para mim. Tiro meus fones de ouvido e me levanto, indo até ela.

- Tyler, é você mesmo, não é?

- Sim, sou eu. Eu fiz alguma coisa errada? Aconteceu alguma coisa? - sinto a ansiedade dando sinais de vida, e tento me manter calmo.

- Na verdade, não. Eu só preciso que você me acompanhe.

- Tudo bem.

Fomos até a sala de recepção, onde haviam 3 portas. Uma era a entrada da sala dos professores, a outra era a sala da diretoria. E a outra era como uma cabine, onde havia uma janela pequena, que dava visão do portão, e era usada para atender os pais dos alunos.

- Senta aí, e espera até que eu te chame, tudo bem?

Assenti. Olhei em volta e vi que havia um outro garoto que parecia também estar esperando. Me sentei, e então pude ver quem era. Joshua Dun.
Eu com certeza o conhecia. Não pessoalmente, claro. Somos de mundos totalmente diferentes. Mas eu já tinha ouvido falar dele. Talvez fosse melhor não me aproximar. Peguei meu celular, e quando ia diminuir o volume da música que tocava pelos fones, o ouvi dizer.

- Sabe porque está aqui?

Eu não tive certeza se ele estava falando comigo, então apenas olhei, e voltei minha atenção ao meu celular.
Ele bufou, e continuou falando.

- Cheguei um pouco atrasado hoje, e logo que entrei, me chamaram pra cá. Eu não entendi direito, ninguém explica muito bem as coisas nesse lugar.

Eu o observava esfregar os olhos enquanto falava, e de repente parou e ficou me encarando por um tempo. Tempo suficiente para eu me sentir desconfortável, e abaixar a cabeça.

- Não vai me responder nada? - ele ainda me olhava.

Eu não sabia o que dizer. Estávamos na mesma situação. Fui salvo pela porta da diretoria se abrindo, e então o chamaram para entrar. Um tempo passou, e ele então saiu, apontando para mim, e em seguida para a porta. Entendi o recado. Agradeci, e entrei.

STAYWhere stories live. Discover now