Prólogo 2 - O gerente do Ponto

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 Empurrando para um lado o tédio, Marlene suportava, imperturbável, o peso do corpo suado que colidia contra ela repetidas vezes.

Ossos do ofício — pensou depois de soltar um falso gemido de prazer —, talvez isso acelerasse o processo e aquele porco imundo fizesse logo o que tinha que fazer, deixando-a em paz.

Nessas horas sentia falta de ser Edilene e desejava chutar a bunda promíscua de Marlene para longe.

Marlene.... Seu nome de guerra, o codinome de uma alma decadente, uma estrela morta antes mesmo de seu mais alto resplendor. Já Edilene, era só seu nome de batismo, relegado ao passado desde que ela havia deixado a casa da mãe, aos dezessete anos, para ingressar na prostituição.

Edilene tinha trilhado esse caminho de livre e espontânea vontade, relutante em seguir os passos da mãe, uma empregada doméstica que tinha feito pouco mais que alimentar os quatro filhos sozinha.

Mas descobrira em pouco tempo que a vida nas ruas era tudo menos fácil.


Algumas de suas amigas se aventuravam sozinhas e se davam até bem, mas ela, depois de quase perder a vida algumas vezes, não se arriscaria mais. Além disso, aquela região pertencia a Emerson, vulgo Calango, o traficante de drogas que dominava a região e vigiava cada centímetro da sua área com olhos de águia.

Ele dizia ter tomado as rédeas do negócio apenas para garantir a segurança das mulheres da comunidade, como um pai protetor — A quem o idiota queria enganar? —, mas o fato era que ninguém escapava a seu controle ali. E nenhum outro era louco de ciscar no terreno do dono da boca, pois ele mandava e desmandava naquela região, inclusive nos negócios da prostituição. Conclusão, se quisesse sair do jugo do traficante, ela teria que se mandar dali.

Ainda sob os embates do corpo suado do cliente, Marlene praguejou em silêncio. Nos dois primeiros programas da noite tudo havia corrido conforme o esperado, mas algo lhe dizia que teria que chutar a bunda daquele porco para fora quando ele acabasse de bufar em cima dela. Era nessas horas que pensava que atender em um local próprio tinha sido uma sábia decisão; em seu pequeno apartamento Marlene poderia ser facilmente encontrada pelo gerente.

O ponto ficava nas proximidades da casa dela, era conhecido por abrigar muitos motéis drive-ins, além da própria cracolândia. Era perfeito para atrair clientes e ela só tinha que conduzi-los até ali, sua guarida.

Depois de soltar um violento urro, o homem encerrou os embates com o corpo dela e se jogou para um lado, ofegando feito uma porca em trabalho de parto. Marlene se afastou reprimindo o desejo de empurrá-lo para fora da cama, levantou-se e foi para o banheiro.

Tomou um banho demorado, removendo com afinco os vestígios do último programa da noite. Esperava que, ao sair, ele já não estivesse lá. O homem havia pagado adiantado, como combinado, e vários minutos haviam passado desde que ela tinha saído da cama.

— Ué, ainda está aí? — perguntou ao ver o cliente na cama.

— Meu tempo ainda não acabou, boneca — respondeu olhando-a de cima a baixo, com lascívia.

— Sim, mas nós já...

— Já, mas você vai ter que fazer valer a pena o meu investimento, minha flor do asfalto — insinuou.

Marlene contraiu o semblante evidenciando a resposta que queria lhe dar, mas se conteve e balançou a cabeça como se concordasse. O canalha queria mais que o acertado, mas ela já sabia, por experiência própria, que discutir com um cliente não era boa ideia — a prostituição era um negócio como qualquer outro, e ela havia aprendido cedo que o cliente tem sempre razão.

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