prólogo

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27 de outubro de 2017, 21h07min

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27 de outubro de 2017, 21h07min.

         A dor me sufoca.

É como se as paredes ao meu redor se fechassem e todo o ar fosse sugado da terra. Eu sinto dor ao tentar arquejar e a bile sobe. Minhas pernas estão trêmulas, meu coração castiga a parede torácica que o abriga. Tudo ao meu redor gira, busco algum conforto, algo que me diga que no fim tudo ficará bem. Mas, embora esteja tentando, meu consciente sabe. Eu sei, que não existe um jeito de nós acabarmos bem.

Comprimo os lábios, mas eles também estão machucados. A dor me faz soltar um resmungo baixo, que chama a atenção do meu pai. Ele não tem olhos para mais nada além de mim.

Reprimo os tremores do corpo ao abraçar meu tronco. Sinto o olhar pesado de meu pai em minha nuca. Eu me sinto suja, imunda e transtornada. A saia justa do meu uniforme tem manchas de graxa e respingos de sangue, estou enojada porque aquele não sangue não é só meu. É dele também. A manga da camisa social, parte do uniforme escolar, está dobrada até meus cotovelos. Minha cabeça lateja quando ergo os olhos, em direção a casa ao lado.

A relva está molhada e tento não olhar fixamente para a porta da frente, mas a ansiedade me deixa descontrolada.

— Saia da janela, Mackenzie — Minha mãe ordena. Sua voz carregada de angústia se unindo a decepção se arrasta até meus ouvidos. Embora esteja escutando atentamente, eu a ignoro. — Nicholas, não é bom para ela ficar olhando assim!

— Mack — É a vez do meu pai. Escuto quando, suspirando, se levanta. Ele caminha na minha direção devagar, seus pés se arrastam pelo assoalho de nossa sala e sua mão toca meu ombro —, sua mãe tem razão. Você não devia ficar olhando.

Ele não entende.

A culpa é minha.

— Você está ouvindo? — Meu irmão respira pesadamente ao meu lado. Sei que ele não quer me afastar da janela de verdade, só está tentando ser o apoio de que preciso. Seus dedos procuram espaço entre meus braços cruzados e cedo, deixo que ele ancore sua mão na curva de meu cotovelo. — Vou ficar com você.

Eu não quero que eles fiquem comigo nem sintam pena de mim. Não preciso que eles carreguem àquele fardo, ele pertence a mim. Eu entreguei Bryan para a polícia. Eu fiz aquilo com ele.

As luzes da sirene da polícia estão piscando, piscando e piscando. Fico tonta, mas não consigo desviar os olhos. Queria ter força para me afastar e me esconder no quarto até que tudo acabe de uma vez. Não quero vê-lo e não quero que ele me veja. Estou com tanto medo da consequência que a minha ação terá, que mal respiro. A ideia de Bryan me odiar, corrói meu peito, de dentro para fora. E se ele for inocente?

Nós nos tornamos amigos. Não. Melhores amigos. E desde o dia em que nos conhecemos, não nos separamos mais. É claro que não aconteceu tão naturalmente. Nós brigamos. Gritamos um com o outro. Reconhecemos nossas fraquezas e pontos fortes.

Ele tentou me afastar. Porém, por mais que ele tentasse, Bryan não conseguiu mostrar o pior de si. Pelo contrário, conheci uma versão incrível dele.

Bryan não se tornou só meu melhor amigo, como também o porto seguro. Nós estávamos juntos, lutando contra o mundo, até que seis meses atrás, aconteceu.

Nós juramos não tocar mais no assunto, porque éramos amigos e funcionávamos melhor assim.

O que nós vamos fazer agora que meu coração se acostumou a ser alguém que Bryan ama?

Prendo o ar quando escuto a porta da casa de Bryan ser aberta. Fecho os olhos ao ver Vivian sair primeiro, sua mãe está abalada. As lágrimas que deixam seu rosto molhado não param de cair e a voz aguda, esganiçada em um grito desesperado de socorro fugindo do seu autocontrole. Toda aquela cena que se desenrola na minha frente se torna um caos e a culpa me assola mais uma vez. Eu destruí àquela família, na melhor das minhas intenções, acredito que fiz a escolha errada. Não sou Deus para realizar julgamentos. Não cabia a mim definir o destino de Bryan.

Vivian grita na cara do marido. O pai de Bryan está estático, evasivo e impassível, encarando a esposa. Ele não sabe o que fazer, então, tenta abraçá-la. Ela grita outra vez, afastando seu toque e, finalmente, eu o vejo.

Bryan é escoltado em direção a viatura. A luz vermelha e azul salpica seu rosto pálido, tão ferido fisicamente quanto eu. Suas mãos estão para trás, algemadas. Os dedos enodados com marcas permanentes de uma tarde de tragédia.

Embora sua posição seja àquela ele não desvia os olhos. Seu rosto está erguido em direção a minha casa e seus olhos azuis miram a janela da sala, onde estou plantada, me amparando em meu irmão mais novo.

Minha garganta fecha. Sinto um nó se formando, o choro ameaça escapar.

Ele procura por mim, pelo meu olhar e eu crio coragem para encará-lo. Quando ergo o rosto, vejo em sua expressão um pedido silencioso de desculpas. Bryan não sabe ainda, mas será eu quem terá que pedir desculpas. Ele não faz ideia que a razão para estar sendo preso, sou eu.

Tento lamber os lábios, mas a ardência é insuportável. Eles estão rachados e feridos.

Bryan olha para mim até ser colocado no banco de trás da viatura. A porta se fecha em um estrondo imperioso, calando não só a voz de sua mãe, mas também silenciando o meu coração.





Sintonia Perfeita |Série The Reckless #1 [prévia]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora