Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)

Epílogo - Revisado

A magia tinha acabado e os pesadelos começaram a rastejar debaixo das camas. O fogo nas tavernas não esquentou ninguém. De repente o mundo pareceu desbotado, os cheiros nojentos, o gosto insonso e o barulho estridente demais. Todos sentiram, todos em todos os reinos sentiram quando a onda de magia foi cortada do ar e a ordem natural das coisas pareceu entrar em descompasso. Quando houve um último suspiro para que a vida ruísse, o sentimento de que toda a esperança havia sumido.

Como se nada mais fizesse sentido.

Então veio o vento. Soprando mares, florestas e desertos. Em alguns lugares tão avassalador quanto uma tempestade, em outros leve como uma brisa. Ecoando nos corações. Levantando as flores. As pessoas, os seres fecharam os olhos por um instante. Sentiram os pelos se eriçarem. Encheram os pulmões do ar elétrico. Saborearam o tilintar da magia. Fez- se um silêncio. Preces foram feitas em todas as línguas. Até mesmo os deuses agradeceram quando a eletricidade voltou a correr solta pelo mundo, a magia vibrando por cada canto trazendo de volta o equilíbrio. Os adultos sonharam naquela noite, como não faziam à muito tempo.

Na Terra do Nunca o corpo da jovem ainda enfeitava os pés da Árvore Anciã. Enquanto todos choravam velando a mestiça, as raízes da Anciã se moviam devagar sem que ninguém notasse. Lentamente, eles envolveram os pés da garota, as coxas, o quadril, a barriga, os braços e o pescoço.

A adaga caiu do peito da jovem, chamando a atenção dos olhos ao redor. A bruxa, o pirata e o menino perdido. Então as raízes começaram a retornar, puxando o corpo da garota consigo. O pirata gritou enquanto se agarrava a roupa da mestiça, mas o menino perdido o segurou forçando-o a se afastar do corpo dela. A bruxa irrompeu em lágrimas agradecidas enquanto fazia uma prece silenciosa a deusa tripla, agradecendo. Uma camada fina de magia se formou ao redor do corpo da mestiça, envolvida pelas raízes poderosas da árvore.

O pirata se desvencilhou dos braços do menino perdido para tocar a noiva mas a bruxa interviu.

-Ela está viva.

Isso foi o suficiente para pará-lo.

Demoraria séculos. Talvez milênios até que toda a magia voltasse ao corpo da mestiça, até que todos os seus ferimentos fossem curados. A magia da Anciã, trabalharia devagar e meticulosamente, fazendo-a crescer, fazendo-a respirar, fazendo o sangue circular de novo e o coração voltar a bater.

Demoraria, mas bastava.

Todos haviam ido embora com a exceção da bruxa, ela cuidaria da segurança da filha até que não fosse mais possível. Já havia perdido a garota uma vez e não a perderia de novo.

O pirata esperou por dois anos ao lado da noiva. Dois anos. Mas a dor de vê-la imóvel daquele jeito lhe rasgava o coração. Então ele decidiu que rumaria, levando a história até os reinos mais distantes e desconhecidos, para que todos soubessem o que ela tinha feito. Enquanto esperava que ela acordasse. Porque ela acordaria. Ele tinha certeza.

Já o menino perdido, Peter, não podia aguentar a culpa de tudo o que havia provocado. Ficar ali, observando o corpo da mestiça se curando, observando a dor que havia infligido só porque forá fraco demais...Então ele se embrenhou no navio do pirata. Pediu que fosse levado pra longe, pra andar e conhecer os outros reinos. Ficar mais forte e impedir que as sombras o tomassem de novo. Mas surpreendentemente ele não partiu sozinho. Os outros meninos perdidos o seguiram, para as terras distantes, para os reinos do leste. Eles cresceriam juntos lá e ficariam mais fortes, como uma família.

Mabel e Darry se despediram de Adaline pela última vez naquele verão. A jovem ruiva recebeu o garoto na sua porta em uma tarde de domingo. Ela viu o amuleto em seu pescoço e não teve dúvidas. Cuidaria da criança porque a amiga o tinha enviado. Darry cresceu, como o último dos Darling, brincando sobre a luz das estrelas. Cresceu com o amor de uma mãe que não via a muito tempo e também ganhou irmãos. Mabel envelhecerá de morrerá depois de cinquenta anos. Darry construiu a própria família. Passou o medalhão adiante como era esperado e viveu plenamente a vida que lhe havia sido prometida anos atrás.