Caixas secretas que guardam memorias

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— De onde sai tanta tralha assim? — Resmunguei levando a quarta ou quinta caixa do caminhão de mudança.

Depois de duas dele vindo para cá depois do expediente no hospital acabamos por decidimos que o ideal era mesmo ele vir morar conosco. Estava animada com o dia da mudança, mas quando vi o caminhão cheio de caixas, caixas até demais comecei a desconfiar se ele tinha trago a antiga dentro de alguma delas, talvez eu tivesse me mudado para lá; pensei bastante em relação a isso mas se quisermos começar de novo com uma vida nova, teria que ser longe das lembranças e daquela casa que causou muita dor e sofrimentos. Não queria apagar as lembranças, mas sim dar novas a eles com as quais se sentiram bem, pois todos merecemos ser felizes.

Abri uma caixa que estava escrito "Colégio" havia muitas coisas nela como; uma camisa do time de rugby, uma coroa de rei do baile, um álbum de fotos, o anuário e uma blusa escrita Scott's Band, nunca tinha visto aquela blusa mas logo abaixo uma foto de Travis mais novo com os irmãos, todos tocando algum tipo de banda. Segurei uma risada olhando todo o conteúdo da caixa era engraçado.

— Não sabia que você tinha uma banda. — Comentei com Travis que entrava em casa segurando uma caixa grande.

— O que?

Ele estava lindo usando uma camisa preta justa no corpo e calças jeans, eram poucas as vezes que eu não via ele com seus inúmeros ternos bem passados. Limpou o suor da testa e viu até mim, apertou um pouco os olhos para encher, antes que distanciasse a foto para enxergar lhe entreguei os óculos.

— Ah, sim... — Suspirou esboçando um suave sorriso. — Éramos um sucesso na escola, tocamos até em um aniversário.

— Mesmo? O que houve com eles?

— Hum... meu pai descobriu e mandou encerrar.— Contou segurando a foto. — Poderíamos ter sido um sucesso.

— Vocês ainda são um sucesso, apenas com profissões diferentes.

Travis me olhou com carinho, por mais que ele fosse um clínico de sucesso e seus irmãos tiveram o mesmo. Um pensamento de como tudo poderia ser diferente se meus pais estivessem vivos, será que conseguiria ser piloto de um daqueles aviões que meu pai consertava ou seria a professora que minha mãe tanto queria, meu pai dizia que eu poderia ser o que quisesse basta ter coragem e perseverança, é com essa ideia trabalhei duro para que no mínimo Lili pudesse ter seus sonhos realizados em partes não saberia se meus pais se orgulhariam de mim ou das minhas decisões. Na realidade não mudaria nada, se pudesse faria tudo do mesmo jeito, dançando em boate não me fez uma má pessoa, me deu condições de pagar o curso da minha irmã e viver bem, além de que trouxe Travis para mim. Fui feliz na Pussycat e se pudesse hoje voltaria a dançar sem vergonha, mesmo sendo mãe.

— É mesmo.. — Ele sorriu me roubando um selinho. — Vou terminar de descarregar as outras caixas e vamos subir para um show particular.

— Você é um pecado, Deus do Rock in Roll.

Olhei para a caixa mais uma vez e no fundo dela havia uma fotografia antiga, nela via Crystel, Julian, Viviane e Travis. A mãe de Thomas parecia feliz e seu olhar para Travis era de uma mulher perdidamente apaixonada, e pensei como seria se ela ainda estivesse viva. Com certeza eu ainda estaria dançando no Pussycat e Travis nunca teria me conhecido, Thomas seria um garoto prodígio feliz por ter uma família completa. Então uma coisa me passou pela cabeça, tudo o que aconteceu de ruim até hoje com a família Scotts foi desde o dia em que entrei na vida deles, será que se eu não tivesse aparecido Travis não precisaria se passar por morto e desmascará Crystel.

Uma certa culpa tomou conta do meu peito se formando com uma angústia, observei a foto mais uma vez o sorriso apaixonado deles admitia para qualquer um que era um casal apaixonado.

— A semelhança entre vocês chega ser absurda.

Tive um sobressalto ouvindo a voz de Lili logo atrás de mim, ela segurava a bolsa de ginástica encarando o retrato em minha mão.

— Caralho quer me matar?! — Soltei um suspiro olhando para a foto. — Você acha? Não vejo nada de mais aqui.

— Você é maluca? — Ela puxou a foto me encarando e depois encarou a foto. — Vocês são a cara de um e o focinho de outra.

— Não acho, na realidade ela é mais charmosa...

— Sério Kira, você e a Viviane são quase idêntica.

Observei a foto esboçando um sorriso sem graça todos diziam isso e eu não conseguia ver essa semelhança toda que todos diziam ver, porém algo me chamou a atenção.

Corri até o andar de cima em direção ao quarto de Lili.

— Max te disse quando Viviane morreu? — Perguntei olhando para ela.

— Acho que foi em março... mas não lembro a data. — Ela me olhou confusa.

Virei a foto mostrando o que estava escrito.

Para meu eterno amor, Feliz Aniversário. 07 Março

A foto foi tirada vinte dias antes do meu aniversário o eu estava ficando completamente maluca ou era uma puta coincidência. Não acreditava em reencarnação ou coisas desse gênero mas se fosse o que estava pensando o universo estava ficando maluco. Completamente maluco.

— Você não está pensando...

— Ela morreu vinte dias depois disso, Lili...

— É impossível Kira, essas coisas não existem... — Ela zombou puxando a foto da minha mão.

— Unicórnios também não existe e mesmo assim você acredita neles.

— Mas... — Ela me encarou com um olhar triste. — Kira...

— Por favor Lili!

Suspirei, minha mente fervia em contas e somas e como aquilo seria possível, nessa altura do campeonato isso agora! Eu só poderia estar vivendo em um desses romances ruins escritos de forma completamente errada. Só podia ser.

Encontrei em você - Continuação de Faça-me sua.Where stories live. Discover now