Miado do Gato

32 3 0
                                    


Era noite lá fora. Passava das 3 da manhã. Meu gato estava incomodado, encarava a todo momento o que quer estivesse se mexendo lá fora. Tentei ignorar virando para o outro lado da cama, mas foi em vão.

Meu gato quase derrubou a cortina do quarto tamanho o seu desespero. Levantei rapidamente acendendo a lanterna do celular e  mirando para a janela, tendo como objetivo finalmente ver o que quer que estivesse lá fora. Não vi nada, voltei a deitar acreditando que talvez tivesse afugentado o que quer que fosse, talvez se tratasse de outro gato, ou algum animal que vivesse no lote baldio ao lado.

O sono já estava me embalando novamente quando dessa vez eu ouço um uivo acompanhado de um barulho ainda mais alto, estremeço na cama cobrindo até a minha cabeça, peço baixinho para que o vizinho ao lado tenha ouvido o mesmo barulho e vá ver no meu lugar. Mas segundos se seguem e apenas o barulho assustador e a impaciência de meu gato são notadas por mim.

Travo uma batalha mental contra meus instintos e minha mente. Eu sei que preciso ver o que é, afim de acalmar meu gato e até mesmo afastar essa apreensão, mas não posso deixar de pensar que talvez essa fosse uma má ideia.

Levanto colocando meus chinelos e procurando a camisa de flanela que eu usava antes de ir dormir, pois se dentro da minha casa já está frio, imagine lá fora? Meados de junho, onde moro é extremamente frio e o vento só faz a temperatura cair ainda mais.

Enrolo-me como posso com a camisa pegando o celular no último segundo, dessa vez eu iria olhar diretamente lá fora, talvez fosse um animal machucado precisando de ajuda. Antes de sair, prendo meu gato no quarto para que não venha atrás de mim, com sua agitação seria provável que fugisse e eu não estava a fim de correr a essa hora da madrugada atrás dele.

Caminho lentamente até a porta da entrada, abrindo-a tentando não fazer barulho. A rua estava mal iluminada, os carros na calçada impediam minha visão completa de toda a sua extensão. Fico em pé na frente da minha garagem tentando observar algum movimento estranho, mas já passam 10 minutos desde a última vez que ouvi o barulho. Desisto de minha empreitada da madrugada e começo a voltar para minha casa quando ouço novamente, dessa vez é mais perto. Sinto um arrepio tomar conta de mim, mas o uivo foi de dor, tenho quase certeza. O que quer que seja, está sentido dor.

Acendo a lanterna do celular e começo a olhar em baixo dos carros e próximo aos vasos de planta. O vento congelante da madrugada me corta, arrependo-me de ter vindo com o pijama fino por baixo, foi burrice. Tento me enrolar melhor em minha camisa à espera do barulho de novo, preciso ter certeza se está vindo deste lado, do contrário, todo esse frio foi estupidez.

Alguns segundos se passam e eu continuo ali, em pé no frio e tremendo, aguardando. O barulho não tarda a voltar, desta vez parece estar mais à direita, perto da casa da senhora que vende salgados. Aproximo-me lentamente, apagando a lanterna do celular por um instante. Não posso assustar o animal de novo, pois esse resgate, ou seja o que for, está demorando mais do que o previsto e a essa altura, tenho quase certeza de que terei um resfriado.

Ando mais um pouco e vejo algo se movimento em meio as folhagens. Volto um pouco para o caminho por onde vim, acendo a lanterna do celular e a faço ficar indiretamente direcionada ao lugar da movimentação. Não quero correr riscos de colocar a mão em alguma aranha ou sei lá o que. Dou passos incertos na tentativa de não fazer barulho, mantendo a cautela.

Meu coração bate acelerado e um suor frio escorre de minha testa. Minhas reações soam exageradas a meu ver, mas mesmo assim não consigo controla-las. Estou há no máximo dois passos das plantas, quando algo passa rapidamente por minhas pernas, em um ato impulsivo eu me jogo no gramado agarrando a coisa peluda, que solta um miado fadigado. Levanto com cuidado para não apertar o gato ou escorregar no gramado molhado de orvalho o encarando em meu colo. Não o reconheço de nenhum dos vizinhos, mas é muito provável que seja um gato de rua.

Miado do Gato e outros contosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora