twenty two

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Eu podia sentir todos os meus sentimentos misturados naquele momento. Enquanto Jaehyun dormia, mais uma vez eu tive a sensação de que poderia perdê-lo se fechasse os olhos. Era uma sensação arrebatadora que me tirava o sono e que, apesar das 30 horas sem dormir, não me daria ao luxo de vê-lo partir como a última vez.

Enquanto ele permanecia adormecido, eu observava todos os detalhes que o compunham; estava magro, mas não da forma que o vi há alguns meses atrás. Sua respiração estava calma, ele já não tinha mais um tubo dentro de sua boca e podia muito bem se virar com seus próprios pulmões. Era aliviante vê-lo se recuperar após quase dois meses sem nenhum estímulo.

O médico responsável por sua internação explicou os principais procedimentos a ser feito a partir do momento que ele pusesse os pés para fora daquele hospital; fisioterapia, repouso e alimentação regular. Era algo que eu não poderia oferecer a ele, o meu tempo, afinal eu trabalhava e tinha um adolescente em casa. Por isso, ficou acordado d'ele ir para casa do pais e começar seu tratamento lá.

Eu não parava de pensar nos diversos motivos que o levou a ficar assim, meus olhos estavam pesados, as olheiras abaixo deles eram tão visíveis quanto a exaustão em meu ser. Foi por isso que ele me chamou a atenção quando me vi cochilando sentado, ao lado dele, segurando sua mão com toda a firmeza do mundo.

— Vai. — Simplista me falou, tão sonolento quanto eu. Balancei a cabeça de forma negativa, não arredaria o pé dali até o momento que ele estivesse bem acomodado na casa dos pais.

— Você sabe que sou teimoso, não sei porque ainda tenta. — Eu o vi respirar fundo e apertar um pouco mais a palma da minha mão, como se de alguma forma tentasse me confortar. — Eu tô bem. Eu tô ótimo. — Ergui sua mão até a altura da minha bochecha direita e deitei meu rosto em seu dorso, após beijando-a demoradamente. — Precisa descansar, uh? 

Ele sorriu fraco, discreto, voltando a fechar os olhos e descansar em sua singularidade. Não podia julgá-lo, ele ainda estava a base de remédios, não poderia simplesmente ignorar todos os sintomas esperados destes. 

Já passavam das três da manhã, precisaria trabalhar no outro dia, não me aguentava em pé e muito menos teria paciência para fazer qualquer outra coisa a não ser ficar ao lado dele. Quando voltei a suspirar naquela madrugada fria, bocejei em seguida e deitei minha cabeça no espaço vago ao lado de seu corpo na cama, ressonando baixinho quando finalmente sinto o sono me pegar pra valer pelos quase dois dias mal dormidos. 

— Taeyong? — Yoora, mãe de Jaehyun, me chamou quando adentrou o quarto silenciosamente. Pôs a mão em meu ombro e me balançou suave, numa tentativa de me fazer despertar novamente. — Vá para casa, sim? Ele está bem. Sabe que o chamaremos caso aconteça algo. — Ela andou até o outro lado da cama hospitalar, acariciando os fios castanhos do filho enquanto o assistia com ternura. 

— Eu acho que irei mesmo. Preciso trabalhar mais tarde... — Bocejei mais uma vez, dando uma última olhada em Jaehyun antes de me levantar da poltrona confortável e me espreguiçar. 

Ela sorriu, não algo falso e totalmente automático, ela parecia querer me falar algo com os olhos. Voltou a andar pelo quarto, ainda em silêncio, e se aproximou de mim com cautela, segurando ambas as minhas mãos e enfim, suspirando. 

— Quando eu soube que Jungwoo era gay, temi pela minha família. Temi que acabassem desestruturada como tantas outras famílias que conheço. Dakho reagiu impassível, nem eu mesma esperava algo assim vindo dele, acho que ele conhecia tão bem o filho ao ponto de não destratá-lo por ser quem és. — Ela sentou-se na poltrona a qual anteriormente eu estava sentado, voltando a mexer nos fios do filho adormecido. — Yangmi sempre foi muito moderna, sabe? Eu também achei que ela voltaria da França, após os estudos, com a cabeça virada. Mas aí, quando ela voltou já estava grávida e casada. 

don't talk × jaeyongWhere stories live. Discover now