Capítulo II

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— Aiiii que inferno!

Raquel não se aguentava de rir enquanto o professor passava as mãos no local que ela tinha batido. Era uma velha brincadeira que os dois amavam fazer enquanto estavam no trailer: quando alguém visse um carro amarelo, tinha o direito de dar um pequeno soco no braço do outro. Sérgio, obviamente, lhe dava socos fracos, a fim de não a machucar, mas Raquel era impossível, competitiva e nunca o perdoava. Rapidamente a brincadeira se adaptou: quando ele o via, ao invés de dizê-lo, concentrava todos os seus esforços em não deixá-la perceber a existência do automóvel e quando não estivesse mais no campo de visão dos dois ele se gabava: "Ainda bem que você acha óculos sexy pois está precisando de um". Sérgio sabia que isso a deixava muito mais irritada do que o seu soco por direito.

Já estavam no trailer há uma hora e nem tinham chegado na metade do caminho. Sérgio não achara prudente viajar com seu avião particular porque os outros o fariam e chamar a atenção não era aconselhável. Ademais, os dois amavam aqueles momentos sozinhos e estavam se divertindo. Enquanto Sérgio pegava algumas coisas para os dois comerem no frigobar, Raquel dirigia e seus pensamentos a levavam para longe. Era a primeira viagem que faziam depois que se mudaram para Palawan e ela experimentava uma deliciosa sensação de liberdade. Ouvia o namorado trazendo diversas embalagens barulhentas, cantarolando a música que tocava e ria ao vê-lo tão leve, torcia internamente para que a próxima viagem dos dois não demorasse e quem sabe fosse justamente sua da lua de mel.

Demoraram exatamente sete semanas para que tudo saísse mais que perfeito. Paula e Mariví ficaram em Mindanao conforme combinado e os dois fizeram diversas conexões com passaportes diferentes assim que chegaram na América.

Sérgio explicou que tinha um acordo com Andrés no qual depois do assalto ele iria tentar um último tratamento experimental para sua doença. Justamente para querer oferecer do melhor para o irmão, o professor buscou a melhor tecnologia possível, isto é, a localizada nos Estados Unidos, porém para protegê-lo da maior polícia do mundo, pensou em como mantê-lo em algum país vizinho e nada melhor que um país extremamente frio que retardava naturalmente o metabolismo humano e com ele o avanço irreversível da doença. Conseguindo uma residência que ficava em uma das poucas cidades povoadas no norte do Canadá e contando com um sistema de proteção próprio e sofisticado. No momento em que Raquel e ele decidiram no Hanói que iriam para Filipinas, sua cabeça começou a pensar em mil e uma formas de como se encontrar periodicamente com o irmão.

Nada disso veio a se realizar dado que em algum lugar jazia o cadáver de Andrés e Sérgio não soube por um ano se Raquel iria encontrá-lo na praia.

Porém em meio aos imprevistos a casa canadense veio a ser lembrada.

Sérgio precisou de uma residência para Mônica que fosse próximo de serviços obstétricos de qualidade – algo que definitivamente não estava nos planos inicialmente. Significando que eles precisaram ficar mais próximos dos centros urbanos e, consequentemente, mais expostos. Justamente pela presença da criança que o professor era ainda mais cauteloso com os protocolos de segurança e antes de mandar a família para a outra casa também na Tailândia, preferiu que ficassem temporariamente em outro ambiente e nada mais seguro que a residência no Canadá.

Trazer os demais assaltantes não foi nem um pouco complicado, inclusive todos ficaram super animados com a notícia repentina e provavelmente já estavam na residência há algumas horas justamente por terem usado a via aérea.

À grosso modo, todos estavam no meio do nada, e para quem já havia fabricada seu próprio dinheiro na Casa da Moeda e Timbre, não era uma tarefa muito desafiante proteger a todos naquele local, mas Sérgio nunca achava que estava sendo cuidadoso demais e colocou diversos homens para vigilarem um perímetro significativo ao redor da casa, o que abrangia até mesmo cidades vizinhas, todos estavam em contato com eles dentro do trailer e com os demais assaltantes em tempo real através de rádios analógicos.

Vivimi senza pauraWhere stories live. Discover now