III

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O bairro alto estava apinhado de gente como sempre e não havia nada melhor do que centenas de pessoas no mesmo lugar com a mesma intenção: Esquecerem-se da realidade e das responsabilidades por umas horas. Uns bebem até vomitarem, outros dançam até o sol nascer e ainda há aqueles que encontram companhia que os ajudam a esquecer enquanto entram no estado de euforia do prazer e da luxuria.

Em que categoria Lana se encaixava? Ora isso dependia do seu estado de espirito e naquele dia era definitivamente a terceira opção. A semana tinha sido esgotante com trabalhos para entregar, testes e ainda por cima todo o trabalho que ela não tinha fazer no hotel mas queria porque nada melhor do que ter a mão na massa para aprender mesmo.

- Onde é que estão os outros Erika? – perguntou à loirinha de cabelos cacheados que andava ao seu lado.

- À nossa espera naquele bar cabo-verdiano que sempre vão para beber aquele shot de grogue.

Lana resmungou porque o bar era no final da rua principal ao pé do Erasmus corner, o que significava que tinham de andar até lá acima logo no dia em que decidiu usar saltos. Mas também era bem feito, quem é que no seu perfeito juízo saía com saltos altos para ir andar naquele chão cheio de buracos? Mas os sapatos ficavam tão bem com o conjunto vermelho de crop top e saia comprida que a fazia sentir como uma princesa se rodopiasse.

As coisas que as pessoas fazem pela moda.

- Nem ka nha reclama. Ninguém te mandou vir de saltos. – Erika avisou em crioulo e Andrea, que era a única portuguesa no grupo até encontrarmos Maria, a única outra amiga portuguesa que Lana tinha.

- Mandou-me não reclamar por usar saltos. – Lana traduziu revirando os olhos.

- Ah. – Andrea abriu a boca. – Bem, ela não está errada.

- Mas eu queria estar gira! – replicou fazendo beicinho.

- Lana, tu tens 300 pares de sapatos, tenho a certeza de que algures por aí encontravas um decente para a ocasião.

- Cala-te Andrea. – mostrou-lhe o dedo do meio e ela riu-se. – Além do mais, vives comigo há mais de dois anos e ainda não percebes crioulo? Isso é inadmissível. Principalmente porque o crioulo é muito parecido com o português. É como aquela coisa com as pessoas que falam espanhol. Os de língua portuguesa entendem o espanhol mas eles aprender português nope. No hay como.

- Eu sei! Eu percebo uma coisa ou outra se vocês falarem devagar mas assim que começam a falar rapidamente uns com os outros esquece. Sem hipótese. Tu tens a sorte de falar as três línguas fluentemente para alem de saber inglês também. Que inveja.

Lana mandou-lhe um beijinho por cima do ombro e ao distrair-se deu um tropeção e bateu contra alguém.

- Ouch! – Lana disse ao chocar contra o braço musculado de alguém. – Desculpa.

O rapaz contra quem tinha embatido ajudou-a a levantar e ela ajeitou o cabelo que estava preso num coque propositadamente despenteado.

- Estás bem? – o rapaz loiro de olhos azuis perguntou em inglês com um sotaque italiano bem forte e Lana percebeu que já estavam junto do seu destino porque os estrangeiros sempre estão à volta do Erasmus corner.

- Sim sim não foi nada. – Lana deu-lhe um sorriso e reparou que os amigos com quem ele falava principalmente uma loira com os braços à volta de um hispânico extremamente giro que a fazia querer gritar ay papi, olhavam para ela como se fosse meio maluquinha e tentavam não rir. – Ah, obrigada. Adeus.

Lana correu para perto das amigas que entretanto encontraram os outros fora do bar cabo verdiano.

- Lana! - Rodrigo abraçou-a e ela retribuiu contente. – Perguntei onde estavas e disseram-me que estavas a seduzir brancos outra vez.

Isla, mi AmorTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang