Superações - Série SENTIMENTOS (Livro 1)

Capítulo 1

Cresci no meio dos livros e, sinceramente, é no meio deles que um dia, bem distante, pretendo morrer.

A livraria onde trabalho foi erguida pelo meu avô, passada para o meu pai quando se foi e um dia será minha. Digo que será minha pois minha mãe e meus outros quatro irmãos estão em comum acordo. Nenhum deles quer viver de prateleiras de livros, além de mim.

Estou concentrada na limpeza das mesmas quando escuto o barulho do sininho da porta de entrada, indicando que meu pai acabara de chegar.

-Oi minha primogênita favorita!- Diz meu pai, seu Leandro, me dando um beijo na testa.

-Oi meu pai. Essa marmitinha ai é pra mim?- Digo, totalmente interessada.

-Claro que é. Sua mãe fez pra você com aquela mesma reclamação de sempre, de que, mesmo todos os filhos a abandonando, ela continua escrava de vocês e blá blá blá.- Meu pai revira os olhos e eu dou um sorriso, eu conheço o drama da minha linda mãe Carolina.

-Imagino. Estou morrendo de fome, obrigada por me trazer e diga a mamãe que eu a amo.- Digo guardando a marmita em baixo do balcão. Meu pai segue em direção ao seu pequeno escritório, porém, antes de entrar, pergunta:

-Ceci, seu irmão mandou alguma mensagem?- Preocupado, e eu balanço a cabeça em sinal negativo. Ele suspira e fecha a porta, me deixando sozinha junto aos outros funcionários, perdida em pensamento.

Meu irmão do meio, Levi, gêmeo da Lívia, sempre foi aventureiro. Desde os seus dezesseis anos, com a autorização dos nossos pais, viajava para várias cidades brasileiras. Aos dezoito, começou a desbravar o mundo. Fez de Porto Rico sua morada, para realizar seus estudos. Passava dias sem dar notícias, sabíamos disso por conta da sua rotina, que era estudo, casa, trabalho, casa, academia, casa. Não parava um segundo. Porém, ele nunca ficou tanto tempo sem nos dar notícias, e meus pais já estavam totalmente frustrados com seu desaparecimento, com razão.

Balançando a cabeça, deixando qualquer pensamento de lado, volto aos meus afazeres sem dar muita importância ao tempo. Só percebo que está chegando a hora de fechar a livraria quando nossos funcionários se despedem.

Arrumo minha bolsa, tiro meu avental, e, quando finalmente vou trancar a livraria, ouço uma voz.

-Não fecha, por favor, é rapidinho!- Olho para um adolescente na minha frente e dou um sorriso.

-Tudo bem, pode entrar.- Abro mais a porta e percebo a presença de um homem atrás do adolescente.

E que homem!

Os dois entram e eu dou mais uma olhada no anjo caído do céu a minha frente, que retribui o olhar, mas logo me volto para o menor.

-No que posso ajudar?

-Eu gostaria de comprar esses livros.- Ele me entrega uma lista com uma boa quantidade de livros, me surpreendendo.

-Uau, nunca vi um adolescente do seu estilo gostar tanto de livros.- Olho novamente pra folha, e conto quantos livros há ali.- Treze livros!

-Treze livros, Pedro Henrique?!- O deus grego exclama.- Você está abusando da minha generosidade!

-Ninguém mandou você querer que eu morasse com você quando o papai foi embora, não reclama agora com as consequências dos seus atos.- O menino diz ao rapaz e fico curiosa, pois achava que eles eram pai e filho.- Meu irmão que vai pagar, então pode pegar todos, por favor.- Tento prender o riso, e eles me acompanham entre as prateleiras enquanto busco os treze livros. Ao final, com várias reclamações, o homem me entrega um cartão, e consigo ver seu nome.

-Obrigada Senhor Pietro e Pedro, voltem sempre.- Dou meu melhor sorriso, e sou respondida da melhor forma.

-Senhor não, coisa linda. Eu só tenho vinte e oito anos, garanto que ainda sou seu número.- E, com uma piscadela, ele acompanha seu irmão para fora do estabelecimento, me deixando corada e satisfeita.